Fanfic: Somente por Prazer (TERMINADA)

Alfonso
discou o único telefone que tinha na memória e esperou a mãe atender. Ele
aguardou vários toques.

-
Kristy Herrera falando - disse ela, num tom meio arrastado, como se tivesse
saído da cama.

Como
eram quase 21h, Alfonso concluiu que ela não estava dormindo. Ele sorriu. A
mamãe não muda! Ele se perguntou quem seria seu amante no momento. Sua mãe não
era do tipo que se casava.

Do
mesmo jeito que ele. Talvez, a aversão ao casa­mento fosse genética.

-
Ei, lindinha! Como vai a mulher da minha vida?

-
Alfonso! - gritou ela, surpresa. - Que bom ou­vir sua voz! Estava pensando em
você.

-
Pensando em mim? Por quê?

-
Se quer saber, estava pensando quando você vai desistir desse celibato e voltar
à vida normal.

-
Bem, mãe, na verdade, eu...

-
Jura? Não acredito! Com quem foi?

-
Uma garota qualquer.

-
Uma garota qualquer, nada! Ela deve ser muito especial para tirá-lo desse jejum
absurdo. Na última vez que nos falamos, você estava irredutível e me disse que
a vida era bem melhor sem mulher.

-
É, isso mesmo. E eu estava certo - retrucou ele, cedendo ao mau humor que
remoera o dia inteiro.

-
Ah, meu filho! Você está aborrecido? O que aconteceu?

-
Não quero falar sobre isso - resmungou ele.

-
Claro que quer. Foi por isso que me ligou. Es­pere só um minutinho. Vou pegar
um copo de vinho.

Ele
achou graça da rapidez dela em descobrir a ra­zão pela qual ligara. Era uma
mulher muito astuta. Porque ele realmente ligara para falar de Annie. Ele não
queria admitir. Com 28 anos, já devia se conhecer bem e saber o que queria da
vida. Sentia-se perturba­do por se sentir à deriva nesses assuntos.

-
Pronto, já peguei. Agora, não banque o machão. Quero saber de toda a verdade.

Alfonso
suspirou. E contou-lhe tudo.

-
Ahn, ahn - foi o único comentário que emitiu.

-
É isso que você tem a me dizer?

-
Espera um pouco, filho. Estou analisando o que teria feito na idade dela.
Quantos anos ela tem?

-
Não tenho a mínima idéia. Quando a vi na sexta-feira, achei que tivesse uns 28.
Mas de manhã, quando a vi sem maquiagem, parecia que tinha 18. Ela deve ter uns
22, 23 anos.

-
E ela mora em Sidney, tem um namorado. Sol­teiro, eu espero.

-
Annie não namoraria homens casados.

-
Nossa, quanta certeza!

-
E, tenho certeza que ela não faria isso.

-
Ahn, ahn...

-
Seja o que for, ela ainda tem um namorado que está criando problemas. Talvez
seja o patrão dela. No que ela trabalha?

-
Também não sei. Mas pelas roupas, não parecia nenhuma operária. Acho que
trabalha num escritório.

-
E o que ela acha que você faz?

-
Ela não deve achar nada.

-
Ela não o reconheceu?

-
Não.

-
E você também não disse nada...

-
Também não.

-
Alfonso, Alfonso! Sempre o ensinei a ser sincero com as pessoas, principalmente
com as mulheres.

-
E fui. Mas aonde isso me levou, mãe? Ao tribu­nal e às manchetes dos jornais.

-
Você não ganha nada mentindo - afirmou ela.

-
Isso não é verdade - retrucou ele. - Mareie ganhou um apartamento de um milhão
de dólares, um carro esporte e 200 mil só para gastar.

-
Bens materiais não têm valor nenhum se você perde sua alma, meu filho.

Ela
sempre falava isso, alma e coisas do gênero. Contudo, ela não era religiosa na
acepção convencio­nal do termo. Ela não era nada convencional.

-
Talvez eu tenha perdido a minha, mãe. Até há pouco tempo, só pensava em bens
materiais.

-
Não seja ridículo. Sua alma é maravilhosa. Você a herdou de mim.

Quanta
modéstia...

-
Mas voltando a Annie, você acha que ela é a mu­lher da sua vida?

-
Mãe, quem está sendo ridículo agora? Eu mal a conheço!

-
Conheci seu pai em uma semana e ele foi o ho­mem da minha vida. Soube disso no
momento que o vi e nunca mais conheci outro que o substituísse. Não consegui
ter outro relacionamento sério com mais ninguém depois de todos esses anos.

Alfonso
respirou fundo. Quantas vezes escutara a história, sobre o rapaz que ela
conhecera numa festa aos 16 anos. Como ficara grávida naquela noite e ele
morrera tragicamente, uma semana depois. Sua mo­tocicleta, em alta velocidade
entrou embaixo de um caminhão. Que herói! Que idiota...

-
Está certo, mãe. Mas duvido que meu pai sen­tisse o mesmo por você. Foi apenas
atração; somente sexo. Você mesma me explicou na adolescência que amor e sexo
são coisas diferentes.

-
E por que está confundindo?

-
Estou confundindo?

-
Claro que está. Se tem certeza que foi só sexo, então esqueça. Deixe-a de lado.

-
Não consigo - confessou ele.

-
Entendi.

-
Se você entendeu, então me diz o que fazer.

-
Você já sabe o que fazer, Alfonso.

-
O que você quer dizer com isso?

-
Quero dizer que você devia procurá-la e se cer­tificar de seus sentimentos.

-
Já disse, mãe, estou quase certo que foi apenas sexo. Tenho de admitir que foi
o melhor que já tive, mas também depois de tanto tempo... O que você acha?
Talvez seja por isso, não é?

-
E possível, mas não pode falar por ela...

-
É, acho que não - concordou ele.

-
Olha, o mínimo que você pode fazer é ligar para seu amigo advogado e fazer umas
perguntas discretas sobre ela. Descubra um pouco sobre ela e o namora­do.

-
É, vou fazer isso. Não vai fazer mal a ninguém.

-
Claro que não. Depois, me conte.

-
Claro! - Obrigado, mãe. Você é ótima.

-
Eu sei. Não se esqueça disso nunca.

Alfonso
desligou, abriu a gaveta onde guardava a agenda telefônica e procurou o número
de Christian. Dis­cou logo, antes que mudasse de idéia.

Christian
atendeu, mal o telefone tocou. . - Como você ousa me ligar de novo? - ralhou
ele do outro lado da linha. - Eu disse para você não me ligar mais. Não vou
perdoá-lo, BJ, nem que você se ajoelhe e implore. Nem se você...

-
Não é o BJ - interrompeu Alfonso. - É Alfonso, Alfonso Herrera.