Fanfic: O Golpe Noturno †AyA†

Trouxe
o lençol para mais perto de si.Abriu os olhos,olhou para o lado oposto
da cama,ninguém.Pegou o celular no criado-mudo:sete horas da
noite.Espantou-se.Será que havia dormido toda a tarde?Levantou-se e
cobriu o corpo nu com o lençol.Não fitou-se no espelho que cobria quase
toda a parede.Foi até o banheiro.Dessa vez foi impossível não perceber
o pequeno ferimento em seu pescoço,era estranho,formava-se por dois
orifícios.Passou quase toda a noite pensando quando acontecera aquele
estranho ferimento.Rememorava e rememorava,fora a boate como de
costume,mas quem a furaria?Apesar de não haver sangramento,o machucado
a preocupava.Parecia com a mordida de um morcego.Temeu ter contraído
raiva.Mas logo deixou de lado,nunca vira um morcego na vida,apenas em
filmes e televisão.E morcegos-vampiros não atacavam pessoas,apenas em
caso de defesa...Era o que ouvira falar...Decidiu esquecer,logo aquele
ferimento estaria curado.Lembrou-se daquele homem da noite anterior com
um sorriso no rosto,mas a palavra vampiros ainda ecoava em sua mente.
Escovou os dentes,e ligou o chuveiro.Livrou-se do lençol e entrou no
box.Só agora,ensaboando-se,percebeu.Uma cicatriz quase
invisível,circular,havia em seu colo,próxima ao peito.Parecia ter sido
atingida por uma bala de um calibre muito grosso.Que diabos estava
acontecendo?Tiro,furos.Onde passara a noite?Ou melhor,o que fizera na
noite passada.Só lembrou-se de sair daquela boate de mãos dadas com o
homem de nome Juan.Parecia que uma parte de sua memória fora
arrancada,que era um buraco negro,uma parte faltando do mapa,uma peça a
menos no quebra-cabeça.
Terminou seu banho.Visívelmente preocupada e pasma.Nunca vira aquela
cicatriz antes,só poderia ser recente,feita na noite anterior.Mas não
era isso que dizia sua pele,quase totalmente cicatrizada.Não mais
doia.Só poderia ser recente,mas já estava curada,como?Neste
momento,apoiou-se no balcão em que se integrava o lavatório.Sentia
fraqueza,os pensamentos turvos,tontura.Lembrou-se que não ingerira nada
a durante toda a manhã e também por toda tarde.Era isso.Só poderia
ser,assim como só poderia ter ficado louca de não ter visto a cicatriz
antes ou ao menos sentir alguma dor.Mirou o armário acima do
lavátorio,vários potes de remédio,a maioria para a dor de cabeça.Sempre
tomava dois do pote azul para enxaqueca,ás vezes uma drágea de
Dorflex.Isso bastava para ter uma noite confortável,sem a dor de cabeça
pelos tímpanos ainda vibrando e as luzes estroboscópicas martelando as
têmporas.Gostava daquela vida de noitadas,sempre fora mais ativa a
noite,notiva.Abriu o potinho azul e engoliu dois comprimidos,pressionou
a cartela e do verso uma drágea sobressaiu-se,engoliu fazendo cara
feia.Ergueu-se ainda com dificuldades.Vestiu-se.Decidiu jantar no
restaurante de costume.
Sentiu um desconforto no estômago e ainda a fraqueza e tontura.Se
estivesse olhado em direção ao último andar do prédio,poderia ter
notado uma silhueta masculina no para-peito.Mas só pensava em acalmar o
estômago com alguma coisa.Pegou o carro.Foi em direção ao restaurante
em que ia frequentemente,um restaurante carissímo.Comeu.Foi ao banheiro
e vomitou toda a refeição e sentiu um queimar a garganta,alho.Pagou a
conta no cartão.Chamou-lhe a atenção o pescoço perfumado do
garçom.Podia jurar que tinha sentido vontade de morder seu pescoço,mas
afastou o pensamento.Que seria então aquele mal estar?O estômago doía
cada vez mais.Pegou novamente o carro,iria ao hospital,mas sem saber o
por que,encaminhou-se maquinalmente para a mesma boate.Entrou.Garotos a
olhavam.Ela não escolheu muito,trouxe o primeiro para o canto e
aproximou-se de seu pescoço,suas presas alongaram-se,ela sorveu do
sangue quente enquanto cobria a boca do garoto com a mão,impedindo-o de
gritar,o que não faria muita diferença posto que o volume do som ali
era ensurdecedor.Sentiu enorme prazer,e aquela dor abrandou-se.Deu-se
conta do que havia feito,havia matado um ser humano.Como matara?!Saiu
correndo daquela boate.Voltava para casa.Durante todo o tragéto não
muito longo,rememorava cada instante desde que entrara na boate.Será
que o rapaz morrera?Certamente,ela tinha roubado todo o sangue que
conseguiu.Descobririam que fora ela a assassina?Não havia tempo para
isso.Pisou no acelerador,o sol não tardaria a iluminar o dia dos
mortais.Assim que chegou,teve apenas tempo para fechar as janelas e
cobri-las com pesadas cortinas sofisticadas de seu apartamento que
ocupava todo um andar,mergulhou em um estado de torpor,mergulhou no
transe diurno.