Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

O evento aconteceu em um teatro de Los Angeles, cujo nome Any não se importara em aprender. Estava uma pilha de nervos; nem mesmo o fato de seu clipe ter sido assistido por meio milhão de pessoas a relaxava. O de Dulce tinha sido assistido por 10% a mais. Mas não era isso, propriamente, que a revoltava, e sim a bendita coincidência de terem marcado aquele evento no mesmo dia, local e hora. Seja lá o que tivesse feito, pareciam querer castigá-la.

Nas três semanas que sucederam o beijo, ela não havia nem citado seu nome. Seguia trabalhando, como uma excelente profissional, mas ignorando todo e qualquer vestígio da existência de Dulce María Espinoza Saviñón. Inclusive o lançamento de seu videoclipe no mesmo horário que ela planejara lançar “Me Hipnotizas” – que, incrivelmente, não a abalou em nada. Mas o evento era inevitável, por mais irônico que isso soasse; e ela não podia cancelar, pois convidara seus familiares, amigos, a imprensa... E, obviamente, Dulce também convidara os dela, o quê lotaria o teatro e causaria um caos inimaginável. Tampouco poderia mudar o local, porque reservara-o com antecedência. Só restava-lhe pedir educadamente para Dulce ceder o espaço, mas não era capaz de telefonar-lhe. Tinha certeza, absoluta, de que se ouvisse sua voz derreteria com o celular à orelha e gaguejaria como uma colegial quando um menino se acerca, e que tremeria, fraquejaria, cederia aos encantos dela. E isso jamais! Portanto, a encararia e lutaria por sua promoção; com certeza ela reservara o teatro primeiro. Mandaria Dulce para o inferno na frente dos jornalistas e diria, em alta e boa voz, quão hipócrita a ruiva era.

 “Isso, exatamente isso o quê vou dizer”, pensava, enquanto se arrumava no quarto do hotel. “Ela que se dane. Ela é uma estúpida”.  Prendeu os brincos novos nas orelhas. “Uma hipócrita, senhoras e senhores; eis a verdadeira Dulce Maria”. Alisou o vestido preto de decote indutor. “Ela quer me roubar os holofotes”. Passou um batom leve nos lábios. “Uma falsa, é isso que ela é. Não a boa menina, e sim a pior que existe”. Desfez-se do excesso de rímel. “Uma perua exibida”. Sorriu satisfeita. “Uma manipuladora”. Suspirou. “Uma mulher terrivelmente... irresistível”. E então chorou. Soluçantemente, como se nunca houvesse chorado na vida, borrando toda a maquiagem que levara horas para criar.

Por outro lado, talvez pudessem dividir o evento, pensou Dulce. Talvez pudessem se enfiar na multidão e não necessitariam se encarar. Era mais fácil do quê lhe pedir para cancelá-lo, pois não poderia falar com ela. Não suportaria. Ficou durante todo o trajeto do hotel ao teatro pensando no quê diria à imprensa e acabou optando por mentir e declarar que haviam planejado aquilo, para provar que não havia discórdia nenhuma entre os ex-RBD.

Ou quase isso.

Quando pisou na calçada que precedia a entrada do teatro, foi ofuscada por flashes e esmagada por perguntas. “É tudo uma coincidência?”, “você quer roubar-lhe os holofotes?”, “o quê tem a declarar sobre isso, Dulce Maria?”. Atravessou-os em silêncio, ajudada por seus seguranças, e adentrou o saguão de entrada, não menos cheio. Inconscientemente, começou a procurar pela ex-companheira; o mais perto que chegou de encontrá-la, porém, foi avistando Christopher a poucos metros da mesa de petiscos, acompanhado de Maite. Elas, que não se viam há muito tempo, cumprimentaram-se animadas (ou Dulce fingiu muito bem sua animação), mas Chris foi mais “frio”. Depois de beijá-la na bochecha, voltou sua atenção para uns pedaços de salmão fresco.

-Você está bem, Ucker? – perguntou Maite, se colocando em seu campo de visão.

-Estou, obrigado.

Ela deu de ombros e se voltou para Dulce.

-Já viu a Any? Ela está ma-ra-vi-lho-sa!

-Aposto que sim... – comentou Dul, sem dar-se conta. – Chegou há muito tempo?

-Eu? Há vinte minutos. Mas me explica melhor essa história da rixa entre vocês... O quê está acontecendo?

-Rixa?

-Foi o quê a Any disse aos jornalistas. Que vocês estão competindo por popularidade.