Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

Outono.

Quando por fim deu-se conta de que não estava alucinando, Dulce Maria retornou à sua mesa para buscar o suco que estivera tomando no lobby do luxuoso hotel. Suas mãos ainda tremiam. Por segundos, olvidou-se de tudo o que estivera fazendo, pensando ou planejando nos instantes que precederam aquele constrangedor momento e então sentiu-se frustrada. Afinal, era apenas Anahí. Tudo bem que não se viam há quase dois anos, mas mantiveram contato... Ela, pelo menos, tentara... E, mesmo que não tivessem, em quê isso justificava seu estranho arrepio quando a, até então, melhor amiga lhe abraçara?

Por mais que procurasse revirar sua mente atrás das respostas, Dulce só sabia de uma coisa: nunca antes reparara que o perfume de Anahí era tão singular, que seus cabelos agora acastanhados costumavam roçar-lhe o rosto quando se abraçavam, que suas longas unhas podiam ser sentidas sob o tecido de sua roupa e que, por Deus, sua curvas eram as mais perfeitas que ela já vira. Nunca sequer reparara a profundidade daqueles olhos azuis, a protuberância de seus seios, a tênue linha de suas coxas, o sorriso alegre e encantador que ela possuía. Amava-a e sempre a amou, contudo seus olhos agora não podiam deixar de descer dos lábios em movimento para seus dotes divinos, substituindo todo o platonismo e afeição por algo ainda mais forte e irracional: desejo.

Da mesma forma, Dulce sabia que estava exagerando. Desejo é uma palavra muito forte. Any sempre lhe foi bonita, ela não se cansava de repeti-lo, porém sua beleza agora parecia resplandecer. A desculpa para esta sensação era o fato de ter sentido sua falta, especialmente nas datas em que, subitamente, lhe assolava certa solidão. Sentia falta do ânimo de Any, de seu eterno bom-humor, de suas palavras carinhosas, porque só ela sabia dizê-las. E também pelo fato de jamais imaginar que se reencontrariam, considerando que ela não lhe respondera um e-mail sequer. Any tendia a ser vingativa, contudo não lhe ocorrera, ainda, o quê teria feito para lhe despertar vingança.  Ela quem devia estar querendo se vingar, porém não conseguia formular qualquer sensação de negatividade em seu interior que a fizesse sentir ódio pela amiga.

Por mais que isso lhe soasse errado e impossível, Dulce sabia que não sentia mais o mesmo por Anahí.