Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

Acontecera da seguinte forma: Dulce fora convidada por um popular canal da televisão mexicana para um evento beneficente, onde daria entrevistas, autógrafos e conviveria com algumas crianças carentes, tudo em prol de uma fundação. Chegara ao DF há cerca de dois dias, a fim de adiantar alguns projetos que tinha com uma gravadora, porém não quisera sobrecarregar sua mãe indo para casa. Em seu lugar, optara por um hotel cinco estrelas, no qual hospedara-se diversas vezes enquanto ainda gravava "Rebelde", a novela que lhe lançou ao estrelato. Na segunda-feira, almoçara com a família e fizera compras; na terça-feira, fora a uma reunião com sua gravadora, para acertar o início das gravações de seu novo disco e, no dia seguinte, preparava-se para participar da coletiva de imprensa. Havia sido notificada de que compartilharia esta coletiva e os subsequentes eventos com uma "outra artista mexicana", mas não lhe passou pela cabeça a possibilidade de ser Anahí. Na verdade, suas chances de dividir créditos com ela, perecisamente, eram ínfimas. Porém, o destino tendia a ser audaz; tão logo despertou e alojou-se no canto mais afastado do lobby para um suco de laranja tranquilo e acompanhado de reflexões, eis que a figura um tanto mudada de Any atravessa o saguão de entrada em direção à recepção. O líquido agarrou-se às paredes de sua garganta e o que estava sendo conduzido pelo canudo fez meia-volta; ela desengasgou-se com auxílio próprio e então levantou-se para olhar melhor. Sim, era Anahí.

Estava bem mais voluptuosa do que ela se lembrava: seu corpo ganhara alguns quilos a mais, contudo eram quilos que a tornavam mais sexy. Seu cabelo crescera e escurecera. Se não a conhecesse bem, diria que não era ela. Da mesma forma, alguns traços haviam se mantido, como o costume de falar alto, o agito constante, o sorriso simpático e a aura positiva sobre sua silhueta. Não estava no hotel procurando um quarto... A coletiva seria ali perto, ela estava apenas procurando alguém. Dulce podia apenas fazer leitura labial do recepcionista, que dizia algo como "ela estará aqui dentro de alguns minutos". Tampouco ela sabia que seria Dulce sua companheira pelas próximas horas. Ou dias.

Quando lhe ocorreu assentir e, finalmente, ir aguardar no lobby, seus olhares se encontraram. Por um momento, Dulce teve a sensação de que o ar à sua volta se congelara: era exatamente como nas cenas de romance, em que tudo parece estacionar, exceto o casal protagonista. E então Any abriu os braços e veio em sua direção. Dulce teve poucos segundos para voltar a si, antes de descobrir-se num abraço apertado, seu rosto enfiado nos cabelos que cheiravam a fruta, as mãos nas costas nuas, os braços da amiga em torno de seu pescoço. Ela lhe dizia alguma coisa, mas Dulce tampouco ouvia... O calor do corpo de Any elevava sua própria temperatura.

"Eu não acredito que é você!", exclamou Anahí quando, relutantemente, Dulce a deixou. "Meu Deus, Dul! Você mudou muito!". "Você acha?", replicou Dulce, ainda recuperando os sentidos. "É claro! Por quê não está mais ruiva? Cansou? Ah, quer saber? Nós temos muito o que conversar! Você andou sumida!". Dulce sorriu, mas ainda não sabia o que dizer. Queria ganhar tempo para assimilar o que acabara de acontecer, contudo Any não parava de falar. Sua voz rouca arrepiava todos os pelos de Dulce, mas ela tinha que ignorar tudo aquilo. Ela não podia sentir aquilo. "Vamos almoçar?", convidou-a Any, num súbito de animação. "Abriram um restaurante de frutos do mar aqui pertinho... Não, não... Vamos naquele restaurante japonês... Ou prefere comer massa?". "O que você quiser", respondeu, rindo. "Você me conhece". Any então iluminou seu rosto com aquele sorriso que, segundo a própria, indicava certa timidez. Isso desconfortou Dulce ainda mais... Algo estava acontecendo ali, restava deduzir-se o que era.