Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

Assim que Maite foi embora e Dulce já ia saindo da ala de visitações, uma policial a pára e pede que permaneça ali. Sem entender nada, ela retorna à cadeira que ocupava segundos antes e se senta de novo; eis que surge a última figura (ou a primeira) que gostaria de ver naquele momento.

Pelo motivo que fosse, ela parecia extremamente mal, como se a anorexia lhe tivesse recaído. Pior: era como se tivesse morrido, mas não a deixaram entrar no Céu (no Inferno, melhor dizendo) e ela foi obrigada a vagar como um zumbi pelas ruas do México suplicando ajuda e visitando as pessoas que mandou para a cadeia. Em suma, Anahí estava um lixo. Aquilo a fez se sentir bem, só Deus sabe por quê; especialmente sua apreensão a deixava em êxtase. Ela estava com medo de se acercar, mas o quê Dulce poderia lhe fazer? A policial a encorajou e Any ocupou a cadeira em frente à Dulce.

-Olá. - cumprimentou Dul, irônica, fingindo estar feliz por vê-la. - Como estamos?

Anahí não respondeu. Em seu lugar, lançou a ela um olhar inquietante - repreensivo, suplicante, amedrontado - e apertou contra si sua bolsa Channel. Olhou em volta.

-Sua cela é aqui? - perguntou, a voz muito rouca.

-Aham, não tá vendo? Tá cheio de celas por aqui! - respondeu Dulce agora irônica e revoltada. A raiva lhe subiu à cabeça. - O quê você está fazendo aqui Anahí?

Any a encarou, os olhos marejados.

-Não sei... Sinceramente, eu não sei. - pigarreou para limpar a garganta. - Não sei se vim por você ou por mim... Estou me sentindo péssima Dulce.

-Ah, pobrezinha. Vem cá. Me dá um abraço. Agradeço imensamente a sua preocupação.

Any baixou os olhos, balançando a cabeça. Só então reparou que Dulce estava algemada.

-Me perdoe. - pediu. - Eu sinto muito mesmo. Eu falei com a juíza naquele dia, mas ela me disse que eu não podia fazer nada.

-Mentirosa.

Any ergueu os olhos novamente.

-Perdão?

-Você é uma puta mentirosa. - a loira assustou-se diante do palavrão, mas Dulce a ignorou completamente. - Você pode retirar a queixa. Pode pagar uma fiança. Você pode fazer um monte de merda, mas o fato é que você não quer.

-Dulce...

-Estou mentindo? - a outra não respondeu. - Estou mentindo, Anahí?

-Eu não posso pagar a fiança...

-Você não quer pagar a fiança.

-Não, eu não posso mesmo. Dulce, depois daquela confusão a minha gravadora encerrou o contrato e me botou na rua, mas como o CD ainda não foi lançado eu tive que cancelar todos os outros projetos, porque não há mais o quê promover. Além disso, o dinheiro que me resta eu estou usando para pagar o tratamento de minha avó. Você sabe que ela está internada e ninguém quer retomar o contrato porque a outra gravadora não cede os Direitos Autorais!

Dulce riu.

-Acha engraçado?

-A vingança é plena, rápida e não falha. - riu de novo. - Bem feito.

-Eu pagaria a fiança se pudesse.

-Retira a queixa, idiota. É só retirar a porra da queixa.

-Pára de me agredir verbalmente, estúpida! Eu não vou retirar queixa nenhuma e mil vezes "bem feito" pra você!

-Você parece uma criancinha de Jardim de Infância sabia? "Mil vezes bem feito pra você". - uma das policiais que passava riu e Dulce riu mais alto ainda. - Eu não preciso que você retire a queixa. Na verdade, eu nem quero. Que você morra e arda no Inferno, Any; eu devia ter me precavido quando você resolveu me ignorar por dois anos consecutivos e depois diz que me ama loucamente sendo que a maior prova desse amor foi beirar o sexo num banheiro público!

-Abaixa essa voz, pelo amor de Deus.

-Não! - Dulce berrou. - Que todo mundo escute, foda-se você! Obrigada por tudo, Anahí Giovanna, você é realmente uma pessoa muito boa! Muito boa mesmo! Em todos os sentidos!

Lágrimas escorriam pelos olhos de Anahí, borrando seu rímel. Dulce sentiu seus olhos umedecerem.

-Me perdoe pelo que fiz. - sussurrou, a voz fraca. - Mas se você realmente sente muito e quer me ver bem, suma daqui. Pra sempre.