Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

-Você não quer me ver fora daqui, Dulce. Eu te conheço. Você tá falando assim porque não quer se deixar levar de novo.

-Hum... - Dulce colocou as mãos atrás da cabeça. - Talvez... A propósito, como te deixaram entrar se o horário de visitas acabou?

-Eu conheço um dos delegados. E meu cunhado é advogado.

Dulce fez "hum" de novo. Any enxugou as lágrimas do rosto e então se levantou, a bolsa ainda apertada contra o peito. Dulce se levantou também.

-Até. - despediu-se Any, esticando a mão. Dulce a olhou confusa e então, quando entendeu, a apertou.

-Até.

-Eu volto amanhã, você queira ou não. - Any afastou-se. - Boa sorte.

Seu cheiro ainda estava impregnado no uniforme de Dulce quando ela o tirou para tomar banho no banheiro da cadeia, dividindo-o com mais seis mulheres. No começo era difícil, mas ela acabou se acostumando; além disso, as seis que dividiam o local com ela eram "passivas" e a pena delas também era curta, de modo que ainda não haviam tido tempo para se revoltar. A água gelada caiu sobre seu corpo arrepiando-o e, depois de se levar com um sabonete cítrico, se enxugar com uma toalha áspera e colocar o outro uniforme limpo, saiu do banheiro calmamente, como se o dia tivesse sido ótimo.

E fora.

Anahí a visitara, afinal. Isso mudara seu humor, mesmo que ela não quisesse admitir. Tudo bem, estava um caco, mas fora lá, pelo menos. Curioso como o coração é contraditório... E curioso como elas estavam tão conectadas que, quando Dul pensou que fora esquecida, Any a provou que não. Mesmo naquele lugar deprimente, já quase em sua cela, ela foi capaz de sorrir um sorriso largo e jubiloso. Estava nas nuvens, por assim dizer; tanto que nem reparou em quem esbarrara quando, sem querer, chocou-se com uma das presas da ala oeste.

-Olha por onde anda imbecil! - berrou a mulher. - Está cega? Só porque é a putinha dos palcos acha que pode sair empurrando os outros assim?

-Olha você por onde anda! - retrucou Dulce. - Se não fosse tão gorda talvez eu não esbarrasse em você!

No segundo seguinte, suas costas entraram em choque contra a parede e sua respiração falhou quando a mulher agarrou seu pescoço.

-O quê disse ruivinha?

Dulce arquejou, a voz entalada no ponto onde a mulher fazia pressão. Sentiu os olhos quererem saltar das órbitas e a garganta arranhar, sufocando. Chutou a mulher nas pernas, mas ela parecia não sentir nada.

-O QUÊ DISSE RUIVINHA? - repetiu a outra, aos berros.

Dulce agarrou seu pulso, enfraquecendo. Com uma das mãos livres, acertou-lhe um soco na boca e sentiu os dentes da presa machucarem sua pele; a gorda afrouxou o aperto, mas não a largou. Em vez disso, com a sua mão livre, revidou o soco, atingindo Dulce em cheio no maxilar. Alguma coisa estalou em seu crânio e o sangue começou a escorrer-lhe pelos cantos.

-Sua vagabunda, eu vou te matar!

A gorda investiu-lhe mais um dois socos do estômago antes que as policiais a arrastassem dali. A cabeça de Dulce latejava, seu maxilar deslocado fazendo com que sua boca não parecesse parte de seu corpo. As policiais a levantaram, amparando-a, mas ela estava tonta demais para se manter em pé. Pouco depois, apagou, enquanto era carregada para a enfermaria.

Enquanto isso, Anahí andava calmamente de volta para sua casa. A cadeia não ficava muito longe de lá. Uns sete ou oito quarteirões, talvez.

Estava relativamente mais tranquila por ter ido vê-la, ainda que o encontro não tivesse sido muito amistoso. Dulce se mantivera a jovem linda e alegre de sempre, mesmo naquele lugar. Todos apostavam que ela pudesse cair em depressão, mas não fora esse o caso; além disso, aquele uniforme a deixava "sexy".

Toda noite Anahí pensava nela. Era o embalo de seu sono. Mesmo depois de tudo, a cena no banheiro estava vívida como se acontecida há minutos atrás, e não dias. O corpo quente de Dul contra o seu, suas mãos calorosas sem saber onde repousar, sua boca ávida por beijos explorando cada mílimetro da sua... Any mal podia esperar para repetir a dose, porque sabia bem que Dulce não sentia tudo o quê dissera sentir. Ela sbia que seu coração acelerava cada vez que vislumbrava a loira. Isso a fazia bem, por um lado. Poroutro, a fazia sentir-se ainda mais culpada, mas não podia mesmo pagar a fiança. Claro que retiraria a queixa, mas antes faria Dul sofrer um pouquinho mais, só pra aela aprender.

Sem saber, é claro, que "sofrer" acabou admitindo seu sentido literal.