Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

-Afinal, o quê aconteceu? - perguntou a delegada Teresa, quando viu Dulce na enfermaria, o maxilar já no lugar.

-Ela se meteu numa briga - explicou uma policial. - com aquela tal de Rosario da ala oeste.

-Ai meu Deus, justo com ela? - Teresa se aproximou do leito de Dulce e pôs a mão em seu queixo. - Dói?

Dulce fez que não com a cabeça e aquilo sim doeu.

-Balançar dói? - Dulce confirmou. - Bom, então vamos deixá-la aqui por um tempo ainda. Sua pena termina... Semana que vem? Acho que é... De qualquer forma, descanse o máximo que puder e procure não se preocupar com nada. Poderá receber visitas amanhã.

Dulce abriu a boca para falar algo,mas tornou a fechá-la por causa da dor. Teresa sorriu-lhe, confortando-a.

-Descanse, apenas isso. Geralmente eu deixo uma policial tomando contas das enfermas, mas no seu caso creio que não será necessário. Venha Rose. E descanse, Srta. Dulce Maria. Até amanhã.

A delegada e apolicial saíram da enfermaria e Dulce ficou sozinha no local, encarando o teto. Impressão sua, ou ele parecia estar querendo esmagá-la?

Acordou na manhã seguinte sentindo um cheiro familiar. Muito familiar. E muito bom. Abriu os olhos e, qual não foi sua surpresa, percebeu que o odor não era fruto de sua imaginação (que viajara até um ponto em seu inconsciente onde, geralmente, Anahí se alojava) e sim de sua dona mesmo. Mesmos com os olhos azuis ocultos por óculos escuros, Dulce conseguiu encará-los por um tempo e seu interior sorriu, porque o exterior não conseguia fazê-lo de jeito nenhum. Novamente abriu a boca para dizer algo, mas o maxilar doeu e ela fez uma careta. Any pousou o indicador em seus lábios e o corpo de Dulce enrijeceu.

-Shhh. - fez ela. - Não diga nada, fiquemos em silêncio por um tempo. Faz bem.

Dulce pegou seu pulso e afastou o dedo de sua boca, pousando a mão magra de Anahí (ela tinha mesmo emagrecido uns três quilos) sobre o colchão do leito onde se encontrava. Any suspirou e tirou uma mecha de cabelos do rosto. O gesto fez o coração de Dulce acelerar. Por quê ela não estava fazendo isso? Ficaram em silêncio por um bom tempo, até que, tomada de monotonia e incômodo, Dulce cutucou o braço de Any e fez uns gestos com a mão. Estava com a garganta seca.

-Quer água? - perguntou Any. - Eu não sei onde tem... Espera um minutinho.

Ela se levantou e foi buscar água no bebedouro próximo da enfermaria, voltando pouco depois com um copo de plástico semi-cheio. Dulce esforçou-se para abrir a boca e deixar o líquido descer até sua garganta, mas se engasgou e teve que sentar para parar de tossir. Anahí a ajudou e depois, com Dulce ainda sentada, fez ela beber o resto da água. Quando Dulce terminou, Any pousou o copo na mesinha ao lado da cama e ajudou Dulce a se deitar, acariciando seu rosto em seguida.

-Eu sinto muitíssimo mesmo. - murmurou, a voz ainda rouca.

Dulce ergueu o polegar, ironicamente. Any riu.

-Nem assim? - Dulce ergueu o polegar de novo. - Então tá. Você quem sabe. Já falei com Gustavo e vou retirar sua queixa amanhã; depois disso, pode ir pra casa.

Dulce ergueu a sobrancelha.

-Eu ia retirar, de qualquer forma. - comentou Any. - Só queria fazer você "sentir o gostinho da coisa", entende? E você me magoou ontem, por isso eu disse que não ia retirar, mas eu ia. Enfim, o quê importa é que amanhã você já está livre... Eu espero.

Dulce fechou os olhos e, com um esforço tremendo e visível, disse:

-Obrigada.

Any sorriu, lágrimas escorrendo novamente por seu rosto. Hesitou por um momento, mas depois, a voz fraca e num sussurro, disse-lhe:

-Eu te amo, sabia? - Dulce fechou os olhos de novo. - Não, não responda! - Dulce os abriu. - Naõ fala nada, é melhor. De um jeito ou de outro, não vai dar certo nunca. Você tinha razão desde o princípio. Sempre teve. O melhor é deixar tudo como está, ignorar que algum dia houve algo entre nós, e cruzar os dedos para que não estejamos cometendo o maior erro de nossas vidas. Nós só temos que...

Dulce se sentou e pôs o seu indicador sobre os lábios úmidos de Any.

-Chega. - sussurrou, a dor lhe açoitando, mas sendo completamente ignorada. - Chega de falar nisso.

Mais lágrimas caíram dos olhos de Any. Dulce as enxugou e beijou uma de suas bochechas. Seu corpo foi acometido dum calor súbito e ela escorregou o beijo para uma região próxima a seus lábios. Any pôs as mãos em seu pescoço, acariciando-o, e puxou a cabeça de Dulce, posicionando-a de forma que seus lábios ficassem de frente uns para os outros. Lentamente, aproximou-se de Dulce, mas o máximo que fez roçar seu nariz com o dela e se afastar em seguida, indo embora sem dizer uma palavra a mais.