Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

Quando fechou o laptop, passou a mão pelos cabelos e suspirou. Tinha sido o melhor a se fazer? Mais cedo ou mais tarde as duas descobririam, mas fosse qual fosse a consequência, ele pelo menos tentara ajudar. Em uma coisa ambas sempre tiveram razão: por mais que se planeje, o destino é a coisa mais improvável que existe e ele acabara de dar uma forcinha para essa improbabilidade. Contudo, não se sentia exatamente culpado; a convivência com Dulce lhe permitia conhecimentos invejáveis de sua conduta e maneira de falar, de modo que passar-se por ela não era muito difícil. Prova disso foi o convencimento de Any, a pessoa que melhor a conhecia.

Espreguiçou-se e ajeitou a camiseta amarrotada. Ao seu lado, Dulce dormia profundamente, sua respiração ritmada e tranquila, parecendo uma criança. Ele afagou seus cabelos com um segundo suspiro e então seu celular tocou.

-Pois não?

-Poncho? É o Ucker. Cê tá ocupado?

-Não cara, pode falar. - ele saiu do quarto para não incomodar Dulce. - Quê houve?

-Vamos comer alguma coisa e eu te falo, é meio estranho falar pelo telefone. Pode ser uma pizzaria? Aquela que nós costumávamos frequentar?

-Pode ser. Te vejo lá.

Despediram-se e desligaram; Poncho beijou a cabeça de Dulce e, depois de lhe escrever um bilhete avisando que estaria fora, pegou seu carro e se dirigiu ao local combinado, uma pizzaria em Cuautéhmoc - um bairro humilde do DF mexicano. No caminho, sentiu a enxaqueca da manhã recomeçar; o quê será que Ucker queria às dez da noite num domingo?

Enquanto isso, em Los Angeles, Anahí se dirigia ao banheiro para uma ducha antes de ir dormir. O hotel possuía um chuveiro do gênero "matador", como dizia Christian: você abre a água quente e ela sai tão forte e tão quente que, por uns minutos, se vê a vida passar diante dos olhos. Lembrando disso, ela sorriu. Sentia muita falta da banda, especialmente do companheirismo que havia entre eles, mas mesmo que pudesse entrar em contato com seus ex-colegas não tinha coragem para fazê-lo. Quer dizer, eles acobertaram a Dulce, certo?

Todos os pensamentos levavam a ela. Ela não havia pedido para se afastarem? Any se recordava disso muito bem, por que ela não? Por que, diabos, ela entrou em contato? O quê que ela queria, afinal? Torturá-la? Já conseguira. Por Deus, e como! Noite após noite o mesmo sonho, a mesma vontade inconsciente de tê-la ali. Não havia um lugar ao qual fosse sem que este lhe remetesse às especulações de como seria poder andar de mãos dadas com ela por ali, se sentar num banco de madeira às praças lotadas e namorar como dois seres humanos "normais". Um pecado, sem sombra de dúvida, mas um pecado prazeroso.

Terminou a ducha, se vestiu, penteou os cabelos e se jogou na cama de novo. Lá fora, um céu estrelado lhe cedia um panorama lindíssimo de Los Angeles às dez da noite e uma súbita depressão acometeu seu corpo. Até quando tudo aquilo duraria?

Precisava distrair-se. Ligou o laptop novamente (inconscientemente desejando para q dulce_ms estivesse online) e começou a ver artigos e adereços num site qualquer da Chanel, mas aquilo, que geralmente era tão prazeroso quanto sexo, somente foi aprofundando suas feridas. Desligou-o novamente. E se ligasse para Dulce?

Ucker o recebeu com um abraço e os dois se sentaram do lado de fora do restaurante; pediram uma pizza gigante de calabresa e, enquanto esperavam, Ucker lhe adiantou o motivo do convite, antes que Poncho morresse de curiosidade.

-Estive pensando em ajudar a Dulce e a Anahí. As duas não são mais as mesmas, cara. Tá sendo deprimente olhar pra elas.

-Concordo, mas ajudar como?

-Sei lá, juntar as duas "sem querer"; fazer com que elas se declarem de uma vez por todas... Tipo isso.

Poncho bebeu um gole de seu refrigerante.

-Tipo, se passar por uma delas e armar uma situação? - sugeriu.

-Não cara! Isso seria fazer elas se matarem de uma vez por todas! - Poncho engoliu em seco. - Por que essa cara? Tu fez isso?

Ele hesitou; Ucker se aproximou dele, muito sério.

-Tu fez isso? - repetiu.

-Fiz, pior que fiz. Hoje ainda. Agora há pouco.

-Cara, tu é pirado!

-Calma Ucker! Só tava tentando ajudar! A Any ficou super-feliz...

-E quando ela descobrir que a Dulce tá cagando e andando pra ela? Que foi você quem se passou por ela? Ela vai se suicidar, meu!

-Dulce não tá "cagando e andando pra ela"; tá é sofrendo pra cacete.

-E você acabou de coroar a situação.

Ucker bebeu um gole de sua bebida e depois esfregou a cabeça, pensativo.

-Já que tu já começou, vamos terminar essa parada. - disse.

-Tá falando sério?

-Aham. Eu me passo pela Any para a Dulce, você se passa pela Dulce para a Any. Vamos tentar fazer elas se juntarem.

-Cara, isso vai dar merda...

-Dane-se, vou dizer que você me obrigou e pronto. Agora me ajuda a pagar a pizza, meu; e procura o garçom pra perguntar por que é que tá demorando tanto.