Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

Los Angeles lhe fizera bem. Estava mais loira, com a pele mais bronzeada e os olhos mais azuis - não que LA interferisse na cor de seus olhos, diretamente. O vestido que usava, um com um decote enorme na frente que deixava à mostra o começo de seus seios, combinava com eles e somente então Dulce percebeu o quanto azul lhe caía bem. Parecia uma deusa do mar recém-saída das espumas, caminhando lentamente pelo salão, cumprimentando um homem aqui e outro ali, e então fixando seu olhar no de Dulce. Somente assim a ficha caiu.

Não havia Ferdinando D`Alva nenhum. Não havia filme nenhum. Ela não estava ali como possível protagonista dum projeto mexicano/estadunidense: ela estava ali como vítima de um complô entre Poncho, Christopher, Tomás e Anahí. Ao mesmo tempo em que sentia raiva, sentia gratidão, mas numa escala percentual a raiva dominava com 70% sobre a gratidão. Sentiu-se subitamente deslocada, enrubescida, trêmula... Devia ter seguido o conselho de Ana... Mas pior do que encarar Any era fugir dela no meio dum coquetel, razão pela qual inspirou profundamente e, depois de avisar a Tomás que aquilo custaria seu emprego, começou a andar em direção à mesa de bebidas, para onde Anahí também ia. Demorou-se o suficiente para que ela a alcançasse enquanto Dulce enchia uma taça com uma mistura de ponche e vodca ("podca", como chamava na adolescência) e esperou-a se servir de vinho tinto. Perguntou, então:

-Sabia que eu viria, não é? A ambição sempre foi uma fraqueza.

Anahí ergueu uma sobrancelha sem encará-la.

-Não sei do quê você está falando. - disse, bebericando o vinho envelhecido demais.

-Poncho e Christopher não são tão inteligentes a ponto de elaborar um plano desses, Any. Eu sei que tem cabelo teu nessa peruca, como dizia tua avó.

Aquilo fez Any rir e Dulce sorrir; pela primeira vez, não se sentia mal perto dela em dois anos.Bebeu um gole da podca e decidiu encarar seus olhos azuis, que corriam desde seu cabelo meio ruivo para seu vestido meio vermelho, fixando-se em alguns pontos estratégicos como seu pescoço, sua clavícula, seu torso e suas coxas. Parecia rídiculo, mas só o correr das órbitas azularadas por suas curvas a excitou e a taça tremulou em sua mão. Any, por outro lado, parecia ter tudo sob controle.

-Infelizmente, parece que também fui vítima do plano magnífico. - comentou Anahí. - Disseram que eu encontraria um tecladista pra minha banda aqui.

-Tá precisando dum tecladista?

-Eu te disse que estava.

-Disse?

Any voltou-se surpresa para ela e então, lendo os pensamentos uma da outra, começaram a rir.

-Devo admitir, eles são um pouco inteligentes.

Dulce não pôde deixar de pensar em Poncho e sorrir em pensamento, telepatizando um agradecimento. Ok, ele era o homem mais fofo do mundo, mas infelizmente seu coração fora fisgado por outra isca e pelo menos isso ele era capaz de aceitar. Christopher talvez pensasse o mesmo de Any.

Numa das raras ocasiões em que podiam conversar a sós, Dulce só conseguia estudar cada ângulo das nuances corporais de Anahí. De repente, o beijo do banheiro parecia um selinho em comparação ao quê ela faria com Any ali mesmo, se sua dignidade lhe permitisse. Da mesma forma, sentia o olhar azul e penetrante em suas prórpias curvaturas, e um calor começou a subir pelo interior de suas pernas até algum ponto em sua boca, fazendo-a salivar. A podca estava fazendo um efeito muito mais relevante do quê ela esperava. E pelo visto o vinho também.

Any se aproximou de seu corpo já em chamas e, passando o indicador levemente por sua barriga, fazendo formigar todas as suas zonas erógenas.

-Devemos desperdiçar o pouco de inteligência gasta por eles? - perguntou, num sussurro.

Dulce não conseguiu responder. A única coisa que queria era colar seus lábios aos de Anahí e então se deixar levar por um entorpecer infindo. Mas e se tudo não passasse de uma vingança cruel?

"Que se foda", pensou. "Com todas as letras".