Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

*Dedicado à letiportilla*

No pouco tempo em que estaria pelo México, Anahí se hospedaria na casa dos pais, onde morava até então. Naquela manhã, como na maioria das manhãs, dirigira-se à uma padaria a fim de um café reforçado e de uma caminhada por sua terra natal. Pouco antes de encontrar-se com Dulce, participou de uma pequena reunião com os representantes do tal canal de TV, que a indicaram o hotel onde sua companheira estaria hospedada. Logo em seguida, Any foi ao encontro de seu ultimato.

Seus pais não estavam quando ela voltou. Apesar de ser uma casa simples, em termos, era sobretudo aconchegante. Seu quarto estava do jeito que ela o deixara: superlotado de bichinhos de pelúcia, bonecas e retratos. A cama de casal - quase nunca preenchida por um, propriamente dito - fora arrumada pela criada que tinham há mais de dez anos, exatamente como Any recordava-se. Mais do que tudo, ali era seu abrigo e sua caixinha de memórias: alguns momentos (sua primeira bebedeira, sua primeira vez, as guerras de travesseiro com as colegas da escola) estavam entranhados no colchão e fronhas, guardados nas gavetas e escondidos atrás dos armários. Any deitou-se no leito em que eternizara a maioria destas lembranças e passou a mão pela colcha feita à mão por uma amiga de sua mãe. Subitamente, lhe veio a memória da futura companheira deitada ali, exatamente onde sua palma repousava, a respiração serena e profunda enquanto adormecia sob o efeito de uma noitada. Fora a única vez que dormira na mesma cama que Any, defronte para ela, seus hálitos misturando-se e seus sonos compassados. Ela sentiu falta daquilo, e fechou os olhos para poder enxergar, com mais nitidez, o que quer que sua memória houvesse esquecido.

-Any... E se isso tudo fosse um sonho? E se acordarmos e percebermos que não conseguimos?

-Então jamais acordaremos.

Haviam acabado de ser escaladas para protagonizar o fenômeno "Rebelde". Dulce tinha pouco mais de dezoito anos, ela tinha vinte e um. Em alguns sentidos, se completavam, mas Dulce sempre se mostrara mais racional e madura do que ela. Na noite em questão, havia ocorrido justamente o contrário... Dulce mal se recordou do que fizera quando despertou na manhã seguinte.

Any ainda não a desejava. Any ainda não sentia súbitas pontadas no coração ao mencionar de seu nome. Any a tinha como irmã, simplesmente. Agora, deitada no mesmo lugar, seis anos depois, desejava somente que a ruiva estivesse ali, adormecida, apenas para que pudesse admirá-la. Lastimava-se por ceder aos seus  desejos, mas de certa forma não queria ignorá-los. Lhe faziam bem. Faziam as horas passarem mais rápido, faziam com que adormecesse tranquilamente, lhe despertavam algo que nunca sentira antes - e que sabia que não tornaria a sentir por mais ninguém. Quando levantou-se para tomar banho, sua mente divagou para um lugar longíquo em suas fantasias mais hediondas e Any não pôde deixar de imaginar como seria ter Dulce despindo-lhe, ao invés de ela fazê-lo por si própria. Analisou seu corpo e achou-se irresistível. Ninguém poderia resistir-lhe. Ninguém poderia resistir-lhe.

Banhou-se lentamente e vestiu roupas que revelassem sua sensualidade. Tinha um propósito, mesmo que não fosse atingido. Tomou o caminho de volta ao hotel, mas com o destino apontado para o primeiro evento da série, que ocorreria a alguns metros dali. Seu coração acelerava a cada centímetro mais próximo do encontro com a ex-companheira. Sua mente dava voltas e voltas... Any então desejou um cigarro.