Fanfic: O que são as coisas... {portiñón - AyD}

-Fiquem à vontade. - disse a organizadora antes de fechar a porta. Assim que soou o clique, os corações de Any e Dul dispararam.

As duas evitaram se encarar. Dulce encontrava-se sentada em um sofá velho, ao canto, e Any em uma poltrona. Entre elas, apenas o silêncio, que parecia ocupar bem mais espaço do que qualquer objeto, por maior que este fosse. Não que não houvesse o quê dizer, mas a culpa pesava em ambos os lados, o suficiente para que as sobressaltasse cada vez que o sofá estalava quando Dul mudava de posição. O evento começaria dentro de alguns minutos, e mesmo que uma tomasse a iniciativa de tirar o fardo das costas, teria pouquíssimo tempo para esclarecer-se. Desta forma, por um tempo, elas se fizeram passar por estranhas.

Quando a porta foi novamente aberta, Anahí tomou a dianteira e Dulce foi logo atrás dela. Não demoraram mais do que duas horas respondendo às perguntas dos jornalistas e, quando deixaram a sala da coletiva, ainda deram alguns autógrafos. Contudo, o término do primeiro evento não as relaxava, e sim as preocupava ainda mais, visto que, dali a pouco, estariam almoçando juntas. Caminharam ainda em silêncio em direção à saída e, quando alcançaram o lado de fora, a primeira coisa que Any fez foi tirar o maço de cigarro de dentro de sua bolsa.

-Pensei que tivesse parado... - comentou Dulce, soando um tanto repreensiva.

-Desculpe. - replicou Any, acendendo um cigarro. - Eu voltei a fumar depois que nos separamos... - e acrescentou, rapidamente: - A banda, sabe?

Dulce balançou a cabeça afirmativamente e começaram a andar.

-Vamos aonde? - perguntou, pegando a chave de seu carro.

-Que chique! Desde quando tem um carro? - brincou Any.

-Desde que nos separamos... Eu e você, sabe?

Anahí ruborizou e Dulce sentiu-se satisfeita, mesmo que lhe partisse o coração. Reduziram a velocidade assim que alcançaram a rua do hotel e Any aproveitou para dizer:

-Nós vamos conversar... Não se preocupe.

Dulce assentiu e foi busar seu carro. Quando estacionou ao lado de Any, esta entrou no lado do acompanhante e Dulce seguiu o rumo oposto. A cidade estava cheia e um pouco tumultuada; Dulce ligou o rádio para distrair-se, mas Any ao seu lado, com o decote que usava, atraía toda a sua atenção. No primeiro sinal vermelho, suas mãos já suavam frio e ela teve de lutar contra o impulso de apoiar pelo menos uma delas na perna da companheira. Tudo em seu corpo a chamava, dos cabelos loiros pedindo para serem alisados aos olhos azuis pedindo para serem encarados. Anahí lhe despertava desejo, carinho e uma certa raiva de si própria, por estar cedendo a uma tentação à qual jamais deveria ceder. Mas também sabia que, se Any lhe permitisse, Dulce a teria ali mesmo.

Estacionou no reservado aos clientes de um restaurante japonês. Era o favorito de ambas desde os primórdios da RBD e ficava perto do centro da cidade. Desceram do carro quase que simultâneamente e adentraram no local não muito cheio. Escolheram a mesa mais afastada do tumulto e pediram o rodízio tradicional; enquanto aguardavam, Anahí mandava mensagens ao assessor que lhe acompanharia à Romênia e Dulce brincava com o saleiro, percebendo que ele e Any não se diferiam muito.

-Meu voo é daqui a três dias. Será que estes eventos duram mais que isso? - comentou Any, mais para si do que para Dulce.

-Talvez... Acho que sim. - respondeu a ruiva, indiferente. - Você sabia que existem vampiros na Romênia?

-Aham, assim como existem lobisomens aqui no restaurante.

Dulce riu pouco antes do garçom serví-las. As duas começaram a comer em silêncio, até que Any se engasgasse com um pedaço de peixe, atraindo a atenção de quem estava ali. Dulce a ajudou com um copo d`água e depois as duas começaram a rir. Na euforia, Any deixou escapar:

-Eu senti muito a sua falta.

Dulce ficou séria então.

-Não parece. Me ignorou durante dois anos.

-Não que eu quisesse, Dul, mas eu troquei meu e-mail... - mentiu Any, sentindo seu rosto ficar vermelho. - Eu até tentei falar contigo, mas...

-Estava ocupada demais fingindo que eu não existo. Por quê?

-Já te disse que não fiz de propósito.

-Não mente pra mim, Anahí. O Poncho me disse que você não trocou nem e-mail, nem celular, nem nada disso... E custava me ligar? Fiquei sabendo pelo Ucker que você estava em Los Angeles! Só que ele, pelo que me pareceu, acha que nós duas nos falávamos todo santo dia, não é?

-Dulce, me perdoa, mas eu tive meus motivos. - defendeu-se Any.

-E quais seriam estes motivos? Você não sabe como eu sofri sem notícias suas. Juro que, se não fosse pelos meninos, eu estaria desesperada achando que algo tinha te acontecido.

-Perdão.

-Quais são seus motivos?

-Não interessa. São particulares.

-Agora tudo o que você faz é particular? Eu sei o dia e a hora em que você deu seu primeiro beijo, Anahí!

-Que seja, esses motivos são particulares! - inrritou-se Any. - Você não tem que saber de tudo sobre mim, Dulce María. Na verdade, não sei nem por quê estamos discutindo. Eu não tenho que te dar satisfações.

-Eu não sou mais sua amiga?

Any suspirou e largou os haxi. Encarou os olhos castanhos de Dulce, enquanto seu coração ia do peito à garganta.

-Não.

CONTINUA