Fanfic: Uma Dupla Perfeita (Adaptada AyA) - TERMINADA

Uma hora depois, estavam de volta à estrada, com uma diferença. Agora transportavam um enorme cesto de matelassê verde-água com um cãozinho dentro.

Poncho não tivera coragem de censurar Annie. Ele mesmo quase levara um, quando deparou com aqueles cãezinhos dóceis e brincalhões. Por sorte, o preço alto freara seu impulso.

Sensível e amorosa, Annie não tivera tanta força para resistir ao fascínio dos filhotes. Ainda mais quando um deles saltou em seu colo, aproximando o focinho para lamber-lhe o rosto. Diante daquele gesto de amor à primeira vista, ela esqueceu quaisquer ponderações racionais e cedeu ao desejo de ficar com o pequeno setter irlandês.

"Sabia que isso ia acontecer..." Poncho olhava de relance a enorme cesta, pelo espelho retrovisor. Só lhe restava torcer para que aquele animalzinho simpático não atrapalhasse seus planos românticos, transformando-se em um rival pela conquista da atenção de Annie.

Como se adivinhasse os pensamentos de Poncho, o filhote começou a choramingar assim que o automóvel ganhou velocidade.

No mesmo instante, Annie virou-se para trás, acariciando-lhe a cabecinha.

— Está tudo bem, St. Paddy. Não se preocupe, acaba de ganhar uma nova família.

O recém-batizado St. Paddy parou de se lamentar, ao menos por um momento. Contudo, demonstrando ser muito inteligente e manhoso, voltou a chorar com o dobro de intensidade, assim que Annie afastou-se.

— Calma, meu querido — murmurou, cheia de ternura, pegando-o no colo. — Logo estaremos em casa.

Poncho respirou fundo. Sabia que St. Paddy acabaria nos braços dela antes do fim da viagem, mas, no fundo, não se importava. Estava encantado com a doçura e o jeito meigo de Annie.

— Foi o destino que nos fez perder a primeira saída — ela comentou, enquanto acariciava o pêlo escuro do cão. — Graças ao que pareceu um erro, agora estou aqui, com meu St. Paddy!

Poncho meneou a cabeça, em um gesto incompreensível.

— Pelo jeito, não acredita em destino.

— Ao contrário de nossos avós, Annie, não sou supersticioso.

— O quê? Isso é uma heresia para um descendente de irlandeses! — recriminou-o, brincalhona. — Jura que não acredita em nenhuma das velhas lendas da Irlanda? Nem mesmo aquela sobre o pote de ouro no fim do arco-íris?

Poncho riu. Tudo era tão divertido ao lado de Annie! Se um dia se casasse, gostaria de sentir aquele mesmo clima de descontração e cumplicidade ao lado de sua mulher.

"O que estou pensando?!" A palavra casamento deveria ficar a quilômetros de distância da cabeça de Poncho.

— Também não acredito em duendes, bruxas ou poções.

— Nem mesmo em poções do amor? — Annie provocou, sabendo que estava entrando em terreno perigoso.

— Muito menos nisso! — Fez uma pausa para colocar as idéias em ordem. Então, inverteu o jogo, pressionando Annie: — Ei! Por que perguntou? Acaso acha que sou algum dom-juan?

Ela enrubesceu, odiando-se por ter feito aquela pergunta. Afinal, Poncho poderia concluir que conquistara seu coração também. Seria verdade?

— Ora, Poncho! Você me beijou logo em nosso primeiro encontro. Só falta dizer que isso nunca aconteceu antes.

— Bem, ao menos, não com tanta freqüência... — mentiu, decidido a não revelar que jamais beijara uma mulher que acabara de conhecer. Não queria que Annie se sentisse tão confiante em relação ao domínio que exercia sobre ele.

Na verdade, naquela noite, ao vê-la na frente do restaurante, tentando conseguir um táxi, enquanto a chuva caía sem piedade, seu coração quase parara de bater. Annie parecia um ser etéreo e mágico, uma fada das velhas lendas da terra materna que havia pousado na Terra por um momento, apenas para ofuscar os homens do mundo real. Tivera de beijá-la para provar a si mesmo que aquela garota era de carne e osso, não uma alucinação.

— Quanta modéstia, Alfonso Herrera! Pois, aposto que isso acontece sempre. Foi um beijo experiente demais.

— O que quer dizer com beijo `experiente`?

— Vire à direita naquela encruzilhada e diminua a velocidade ao entrarmos no vilarejo. É costume haver guardas de trânsito por toda a parte.

A cada minuto, a situação de Annie ficava mais complicada. Logo Poncho iria achar que estava apaixonada. Que absurdo!

— Está certo, Annie, mas não esqueça de responder o que perguntei.

— Preocupado com sua técnica?

— Pode ser... — desconversou, cínico e misterioso. Naquele jogo de sedução, nenhum dos dois queria confessar que sentia-se atraído pelo outro.

De repente, luzes vermelhas brilharam no espelho retrovisor, seguidas pelo característico barulho de sirene.

— Eu avisei. — Annie murmurou, sentindo um certo sabor de vingança.

— Que vergonha!