Fanfic: Uma Dupla Perfeita (Adaptada AyA) - TERMINADA

— O que acha, St. Paddy? Devo ligar para Ruth Herrera ou não? — Anahí Portilla ergueu o focinho de pano de seu setter irlandês, cópia em pelúcia do cachorro que sonhava possuir um dia.

St. Paddy contemplou a dona com seus olhos castanhos sentimentais ou, pelo menos, foi assim que ela imaginou.

— Também não consegue resistir a um mistério, não é, querido? Está certo, vou ligar para ela agora mesmo.

Com St. Paddy no colo, Annie saiu à procura do telefone celular. Desejava muito ter um setter de verdade, mas considerava o cúmulo do egoísmo colocar um cachorro grande como aquele dentro de um apartamento tão pequeno. Porém, não pretendia passar o resto da vida ali. Aquele não era um lugar para um cão nem para uma criança em crescimento, e pretendia ter ambos.

Durante algum tempo, alimentara a idéia de que um marido faria parte do conjunto. Por fim, acabara desistindo dessa parte do sonho, por considerá-la impossível. A maioria dos homens concentrava-se apenas em sua aparência exuberante, dando-lhe a sensação de que não poderia contar com aquela companhia masculina, quando surgissem suas primeiras rugas e cabelos brancos. Além disso, após o divórcio dos pais, acabara conformando-se em ter apenas um bebê.

Para Annie, o companheiro ideal deveria mesclar maturidade e espírito brincalhão, ser inteligente e ter uma aparência razoável. Logo, isso seria impraticável. Conhecera rapazes divertidos sem nenhuma maturidade e tipos sérios, desprovidos de senso de humor. Apesar de tudo, confiava em seu instinto. Quando o indivíduo certo para ser o pai de seu filho aparecesse, ela saberia.

Deixando de lado todos aqueles devaneios, acabou por encontrar o celular debaixo de uma pilha de páginas de histórias em quadrinhos de jornais do país inteiro.

— Tome conta de tudo, St. Paddy — pediu, deixando o bicho de pelúcia sobre a prancheta, enquanto retornava à sala, com o aparelho em punho.

Acendendo um abajur para dissipar a penumbra, Annie discou o número. Então, esticou-se no sofá, apoiando as pernas longilíneas sobre as almofadas do encosto. Enquanto esperava a ligação ser completada, puxou os longos cabelos castanhos no alto da cabeça, enrolando-os em um rabo-de-cavalo improvisado.

— Alô? — atendeu uma voz feminina.

Annie teve um sobressalto, sentando-se ereta. Não havia secretária eletrônica na casa dos Herrera, o que era raro no mundo de hoje. E a voz da sra. Herrera, então? Se ela fosse a mulher que atendera, tinha a mesma entonação de sua mãe.

"Talvez Ruth tenha nascido na Irlanda", Annie conjeturou, com os olhos brilhando de interesse. Estava sempre à procura de material para suas histórias em quadrinhos, seu passaporte para fora do mundo da moda.

— Poderia falar com Ruth Herrera, por favor?

— É ela mesma.

Anahí entusiasmou-se com aquele jeito agradável. Ruth parecia ainda mais irlandesa do que sua mãe.

"Pobre mamãe!", concluiu, com pesar. Marichello tivera de passar por um treinamento exaustivo com o marido inglês, para perder um pouco de seu sotaque e trejeitos irlandeses.

— Aqui é Anahí Portilla. Você entrou em contato com minha agência por causa de uma foto.

— Oh, sim! Contatei, de fato. — Ruth parecia que ia explodir de alegria, do outro lado da linha. — Que nome adorável o seu, Anahí! Aliás, já que é um nome da Irlanda, devo deduzir que tem ascendência irlandesa, não é?

— Só por parte de mãe. — Após ouvir aquela entonação familiar, Annie baixou a guarda, revelando algo de sua intimidade. — Meu pai é inglês.

Riu. Agora Marichello se referia a ele apenas como "aquele bastardo britânico com quem me casei".

— Tinha certeza disso! Vi aquele rosto e disse a mim mesma: "Eis aqui uma garota irlandesa!". Viu como eu estava certa?

Annie apanhou uma caneta e um bloco de papel, que sempre deixava à mão sobre a mesinha de centro. Aquela conversa poderia render-lhe algumas expressões típicas excelentes para usar em seus quadrinhos.

— Em que posso ajudá-la, sra. Herrera?

— Oh, Anahí! Gostaria muito de vê-la pessoalmente. Sei que é muito ocupada, mas talvez possamos tomar um chá. Isso seria muito importante para mim.

Annie parou de rabiscar, alarmada. Era por isso que mantinha sua privacidade com tanto zelo. Seu rosto e sua imagem podiam ser exibidos para consumo público, mas mantinha-se inacessível aos fãs. Afinal, havia loucos por toda parte, e várias de suas amigas modelos já haviam sido perseguidas e atacadas.

— Sinto, mas estou ocupadíssima... — respondeu, prestes a desligar o telefone.

— Não entende? Preciso muito vê-la, Anahí! É a cópia exata de minha querida amiga Marichello! — Ruth se interrompeu, em prantos. — Ela jogou-se do alto de um penhasco, há cerca de trinta e sete anos.

Annie ficou boquiaberta. O nome de sua mãe era Marichello. E, certa vez, ela também havia lhe contado algo sobre uma amiga que se jogara na frente de um trem em alta velocidade, há uns trinta e sete anos. Detalhe: a amiga chamava-se Ruth! Tudo aquilo não podia ser apenas um monte de coincidências. Precisava conferir.

Sentindo-se pisar em um campo minado, escolheu com cuidado as palavras, antes de retomar a conversa:

— Preciso verificar minha agenda, sra. Herrera. Posso dar-lhe um retorno em... digamos... vinte e quatro horas?

— Claro, Anahí! Estarei aguardando seu telefonema. Pode contar que sim!

Assim que desligou, Annie fez uma nova ligação, dessa vez para a casa de sua mãe. Como de costume, a secretária eletrônica atendeu, e pôde conferir que a entonação de Marichello Portilla era mesmo muito parecida com a de Ruth Herrera.

Sabia que Marichello estava em casa, selecionando as chamadas, por isso, disse:

— Ponha a chaleira no fogo, mamãe. Estou a caminho.