Fanfic: Uma Dupla Perfeita (Adaptada AyA) - TERMINADA
O apartamento de Marichello Puente Portilla, no terceiro andar, ficava em frente ao Central Park, um dos locais mais caros e exclusivos de Nova York. O imóvel e uma generosa pensão mensal foram parte do acordo de divórcio com seu ex-marido, Enrique Portilla. Não que a idéia de separação tivesse passado por sua cabeça alguma vez, porém, não tivera alternativa.
Após um quarto de século de casamento, Enrique preferira trocar a esposa por uma mulher mais jovem. Aliás, pouco mais velha do que a própria filha do casal.
O divórcio dos pais presenteou Annie com um duro exemplo do que pode acontecer quando um homem se casa valorizando apenas a beleza física da companheira.
Usando sua própria chave, Annie abriu a porta e gritou um "olá", para avisar Marichello de sua chegada. Uma resposta abafada veio logo em seguida, indicando que a mãe estava no quarto, para onde Annie rumou sem demora.
Ao entrar no imenso aposento, decorado em estilo vitoriano, Annie sentiu-se transportada para uma época mágica e romântica do passado. Contudo, tal sensação passou no mesmo instante em que avistou Marichello.
Deitada no chão, com os pés apoiados na parede florida, Marichello vestia um robe de seda azul. Seu rosto estava coberto com uma máscara tonificante verde-limão.
— Ora, se não é Freddy Krueger! — Annie gracejou, jogando-se no chão, perto da mãe.
— Não me faça rir — Marichello retrucou, mal movendo os lábios.
— Tenho uma novidade que pode fazer rachar essa coisa em seu rosto, mamãe! — Annie provocou-a, testando a curiosidade de Marichello, que conferiu o relógio que deixara bem ao lado.
— Ainda faltam oito minutos.
Annie respirou fundo, resignada. O divórcio deixara sua mãe ainda mais vaidosa do que já era.
— Então, irei para a cozinha, preparar um chá com bolo para nós duas, está bem?
Marichello fez apenas um movimento positivo com a cabeça, e a filha retirou-se.
Dez minutos mais tarde, quando Marichello apareceu na cozinha com o rosto lavado e os cabelos curtos ao redor da face, Annie teve orgulho da beleza da mãe. Ela parecia ter, no mínimo, vinte anos menos que seus cinqüenta e seis. Com certeza, Enrique Portilla fora um tolo por abandoná-la.
— Então qual é a novidade? — perguntou, com os penetrantes olhos azuis fixos no rosto da filha.
— É melhor sentar-se primeiro, mamãe.
Annie levou a bandeja de prata com o serviço de chá para a sala de jantar, ao lado da cozinha.
Com um gesto dramático, Marichello ficou paralisada, feito uma estátua, entre as duas salas.
— Meu Deus! Está grávida!
— Não, não é nada disso.
Marichello fitou a filha, com desconfiança.
— Então suponho que encontrou o "candidato" para seu plano profano. — Uma ruga de preocupação surgiu-lhe na testa que tivera tanto trabalho para alisar com a máscara. — Anahí Giovanna Puente Portilla, onde falhei com você?
Annie baixou a cabeça. Não queria discutir com a mãe. Compreendia que Marichello tinha valores e ideais diferentes dos seus, mas não pretendia abrir mão de tudo só para agradá-la. Pela centésima vez, arrependeu-se por ter revelado seus planos de ter um filho sem se casar.
— O que fiz de errado para que você pudesse sequer considerar a hipótese de gerar um bebê fora dos laços sagrados do matrimônio? Seus avós Puente iriam virar-se na sepultura se soubessem de uma coisa dessas!
— Mamãe, o que tenho a lhe contar não tem nenhuma relação com gravidez. — Em seguida, fez sinal para que a mãe se sentasse.
No mais absoluto silêncio, Marichello instalou-se em sua cadeira, ajeitando o guardanapo sobre o colo. Depois, serviu chá para ambas.
— Então, menina? Acha que estou calma o bastante, ou prefere que eu me deite?
Annie sorriu. Por sorte, Marichello era muito bem-humorada. Caso contrário, separar-se do marido a teria reduzido a farrapos.
— Hoje retornei a ligação de uma mulher chamada Ruth Herrera. — Sorvendo um pouco do chá. — Ela entrou em contato com a agência, porque ficou encantada por uma de minhas fotos, aquela da campanha de porta-retrato.
— Não me surpreende — Marichello afirmou, com indiferença, sem demonstrar nenhum abalo. — É uma foto adorável.
— Foi mais ou menos o que ela disse... — Cravou os olhos no rosto da mãe, atenta à menor alteração em sua fisionomia. — Contou-me que a foto lembrava-lhe uma amiga de infância, que jogou-se de um penhasco.
Fez uma pausa, experimentando uma fatia de bolo. Por fim, disse:
— O nome dessa amiga era Marichello...
A revelação caiu como uma bomba sobre sua mãe, que arregalou os olhos e enrubesceu feito uma maçã.
— Céus! Como era mesmo o nome dessa mulher que telefonou para a agência?
— Ruth.
Marichello jogou o guardanapo sobre a mesa e levantou-se, com um misto de irritação e impaciência. Começou a andar de um lado para o outro da sala, apertando as mãos delicadas com fúria.
— Aquela boca deveria ser trancada com um cadeado! Como Ruth ousa sair por aí dizendo que joguei-me de um penhasco?! — Fez uma careta de desdém. — Bem, o que mais poderia se esperar de alguém daquele tipo?
Conhecendo o gênio impulsivo da mãe, Annie evitou mencionar que ela própria também mentira sobre o destino da ex-amiga. Inventara um suicídio para Ruth, quando, na verdade, continuava bem viva, morando em Nova York.
De repente, uma idéia passou pela cabeça de Marichello feito um raio. Virando-se para encarar a filha, quis saber:
— Ela sabe quem você é?
— Acho que não. — Sacudiu os ombros, com estudado pouco-caso. — No entanto, quer se encontrar comigo.
— Deixe-me pensar... Se conheço Ruth Rodriguez, ela tem algo escondido na manga. É melhor tomarmos cuidado, Annie. — Segurou a cabeça entre as mãos, em um gesto teatral. — Por que Ruth iria querer encontrá-la, se não sabe que é minha filha?
— Não faço idéia. Aliás, o que houve, afinal, entre vocês duas, mamãe?
— O que houve?! — Marichello bufava pelo ódio. — Aquela amiga falsa arruinou a maior chance de toda a minha vida! Impediu-me de ganhar a coroa de Tralee! Os filhos dela devem ter verrugas nos traseiros!
Annie reprimiu o riso. Quando Marichello ficava agitada, era capaz de utilizar um linguajar muito extravagante.
— Como Ruth a impediu de ganhar a coroa?
Marichello respirou fundo, revivendo todas aquelas lembranças dolorosas de sua juventude.
— Ruth teve a brilhante idéia de nos bronzearmos um pouco para o concurso. Para tanto, ela alugou uma lâmpada de bronzeamento, e eu comprei o óleo especial. — Suspirou, enxugando uma lágrima furtiva. — No último minuto, minha santa mãe... que descanse em paz... convenceu-me para não fazer aquilo.
— Sim, e daí?
— Como Ruth insistira em levar aquilo adiante, dei-lhe o óleo, e ela acabou queimando o rosto de forma deplorável. — Riu, com certa satisfação maldosa. — Teve de abandonar o concurso.
Annie arqueou as sobrancelhas, confusa.
— Não entendo... Como isso a impediu de ganhar, mamãe?
Marichello aprumou os ombros e ergueu o queixo, parecendo a própria imagem da injustiça.
— Naquela competição, personalidade contava tanto quanto beleza. Ruth espalhou aos quatro ventos que eu a sabotara de propósito, porque estava com medo da concorrência! — Fez uma pausa, tomada pela indignação. — Imagine! Como se aquela bobalhona tivesse alguma chance!
O silêncio reinou absoluto na sala durante alguns instantes. Por fim, a própria Marichello se encarregou de quebrá-lo, externando sua mágoa:
— Aqueles jurados tolos devem ter acreditado nela, porque eu não venci.
Annie a fitou, com melancolia. Parecia que trinta e sete anos não tinham sido suficientes para aplacar a fúria e o ressentimento de Marichello. Porém, não poderia deixar de lhe perguntar:
— Por que também contou que Ruth cometera suicídio?
Marichello ficou desconcertada. Fora pega mentindo, pela própria filha.
— A última vez que nos vimos, Ruth gritou para mim: "Deveria estar morta Marichello Puente!". Então, gritei de volta: "O mesmo digo eu, Ruth Rodriguez!".
As duas ficaram alguns minutos em silêncio, remoendo aquilo tudo, cada qual a seu modo.
— Nunca mais soube nada dela, mamãe?
— Soube apenas que Ruth aceitara um emprego de babá, aqui em Nova York e, cerca de um ano depois, também vim para cá, trabalhar como modelo. — Contraiu os músculos da face, com repugnância. — Não gostava nem de imaginá-la vivendo na mesma cidade que eu! Por isso, inventei aquela conversa sobre ela jogar-se na frente de um trem.
— E Ruth fez você saltar do alto de um penhasco.
— Que ridículo! Ruth sabia que eu tinha pavor de lugares altos. — Marichello encarou Annie, bem séria. — Deve suspeitar de sua identidade, garota.
— Não pode ser, mamãe. Mas isso não importa. Não pretendo encontrá-la, mesmo.
Marichello ficou em pânico, como se tivesse levado uma punhalada no coração.
— Oh, não! Você tem de ir, minha filha!
A perplexidade dominou Annie, que ficou sem ação por alguns segundos. Por fim, indagou, com voz trêmula:
— Quer que eu me encontre com essa mulher que odeia?
— Claro que sim! Preciso saber no que Ruth se transformou.
Marichello caminhou até a janela, ficando algum tempo a contemplar a bela vista de seu apartamento. Então, de súbito, virou-se para Annie, com um sorriso triunfante no rosto.
— Aquela confeitaria, na rua Quarenta e Seis, é perfeita para esse encontro. Podem sentar-se de um lado daquele canteiro exótico, enquanto eu fico no outro extremo. Ruth jamais conseguirá enxergar-me através daquelas plantas.
Annie estava cada vez mais perplexa e chocada. A capacidade de Marichello para surpreendê-la parecia inesgotável.
— Pretende esconder-se para espionar sua velha inimiga? Diga-me que não, por favor!
Cruzando os braços, Marichello a encarou de modo desafiador, como se fosse de novo uma garota de dezenove anos.
— Guarde bem o que vou lhe dizer, Annie: Ruth Rodriguez não dá ponto sem nó. Está prestes a aprontar alguma coisa, e pretendo descobrir o que é!
Autor(a): narynha
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Dois dias mais tarde, ao dirigir-se para a confeitaria, Annie concluiu que ela e a mãe deviam ter invertido os papéis em algum momento. Annie, a filha, era responsável, enquanto Marichello comportava-se como uma adolescente imatura, tramando esquemas para atrapalhar a rival de juventude. Annie sorriu. Marichello preparara tudo com muita atenç&ati ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 216
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al.andrade Postado em 17/02/2015 - 01:37:25
mto engraçada essa web. Chorava com as brigas e discussões das duas.
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isajuje Postado em 28/03/2013 - 17:36:07
Amo quando tem comédia nas fics. KKKK gostei muito, demais.
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ponnyaya Postado em 29/12/2012 - 02:32:18
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk nunca ri tanto em uma web acordei meu pai no meio da madrugada com as minhas gargalhadas
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gatita Postado em 24/06/2010 - 21:05:31
Ficou perfeita!!!! -
gatita Postado em 24/06/2010 - 21:05:22
Ficou perfeita!!!! -
gatita Postado em 24/06/2010 - 21:05:16
Ficou perfeita!!!! -
gatita Postado em 24/06/2010 - 21:05:08
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biaportilla Postado em 24/06/2010 - 11:53:51
ficou linda a web muito boa msm amei
bjs -
rss Postado em 22/06/2010 - 20:51:01
amanhã viu narynha
quero muito poste
tou contando as hrs
bjssssssssss -
rss Postado em 22/06/2010 - 20:51:00
amanhã viu narynha
quero muito poste
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bjssssssssss