Fanfic: Uma Dupla Perfeita (Adaptada AyA) - TERMINADA

Ao contrário de Ruth, Poncho confiava em secretárias eletrônicas. No entanto, no dia seguinte, quando voltou do trabalho e viu a luz indicadora de mensagens piscando, teve vontade de jogar o aparelho pela janela. Sabia muito bem o que aquilo significava. Ruth já lhe dissera que Anahí Portilla pretendia ligar-lhe.

Na verdade, mãe e filho quase tiveram uma discussão sobre aquilo tudo. Estremeceu de remorso ao lembrar que lhe pedira, sem rodeios, que parasse de infernizá-lo sobre sua vida amorosa.

Ruth prometera que obedeceria, mas era o mesmo que fechar a porteira depois de deixar o cavalo fugir.

Trocando o uniforme por jeans e camiseta, Poncho preparou um sanduíche de rosbife e abriu uma cerveja. Então, jogou-se no sofá, tentando assistir ao noticiário noturno da televisão. Contudo, volta e meia, surpreendia-se olhando para a luz vermelha da secretária eletrônica.

Logo uma enxurrada de perguntas invadiu seus pensamentos, instaurando o caos absoluto.

Será que Anahí Portilla havia mesmo lhe telefonado? Se fosse verdade, por que teria feito isso? Afinal, o que uma modelo de certa fama veria em um homem comum como ele?

Ainda não conseguia acreditar que Ruth saíra no encalço da modelo do porta-retrato, arranjara um encontro e, então, acabara por atraí-lo o com a desculpa de um encontro entre mãe e filho, na hora do chá.

Nunca percebera o controle que o pai exercia sobre a esposa. Ruth nunca teria tentado tal golpe, se Alfonso Herrera o pai estivesse vivo. Mas, nos últimos meses, ela vinha se comportando como uma adolescente.

Ao terminar o lanche, Poncho foi até a janela de seu pequeno apartamento e ficou contemplando o tráfego noturno, lá embaixo. Momentos assim eram muito solitários, mas estava disposto a pagar o preço. Desde a primeira vez em que precisou informar a esposa de um policial sobre a morte do marido, jurara que jamais colocaria uma mulher naquela situação.

Em alguns meses, poderia conseguir uma promoção que iria tirá-lo da linha de fogo. Então, talvez pudesse encontrar a mulher certa e formar sua família. Sim, pois fazia questão de ter mulher, filhos e até mascotes. Só não queria que Ruth interferisse, tomando todas as decisões em seu lugar.

Respirou, aliviado. Parecia que, enfim, depois de seu longo discurso, Ruth compreendera que não poderia mais ultrapassar os limites. Contudo, ainda lhe deixara uma situação pendente...

Afastando-se do parapeito, foi até a secretária eletrônica e apertou um botão. Logo aquela voz melodiosa e inconfundível ecoou pela sala. Mesmo que não tivesse se identificado, Poncho seria capaz de reconhecê-la.

— Olá, Alfonso. Aqui é Anahí Portilla, Annie. Tivemos um começo um pouco infeliz, mas, se nos encontrarmos para jantar, pode ser que seja possível reparar o erro. Que tal terça-feira, à noite, por volta das sete? — Em seguida, ela deixou o nome e o endereço de um pequeno restaurante italiano, em Maniata.

"Anahí Portilla..." Não poderia haver nome mais perfeito para aquela mulher de olhos expressivos, cabelos castanhos e um sorriso que poderia levar o coração de um homem às alturas, ou então dilacerá-lo.

Era incrível que a imagem dela ainda permanecesse tão nítida em sua memória, pois a vira apenas por alguns minutos. Além disso, após um dia de trabalho com dois assaltos, uma tentativa de estupro e um acidente com quatro carros, deveria ter apagado aquele rosto de sua mente, sem deixar vestígios.

Mas não foi isso o que aconteceu. Bastava fechar os olhos por um segundo, e pronto! Anahí estaria bem ali, envolta por um delicioso perfume de lavanda, com a mão delicada tocando a sua.

Poncho sorriu, feliz com aquelas lembranças. Sim, gostaria muito de revê-la. Então, lembrou-se de que terça à noite era sua única folga da semana seguinte e, além disso, apreciava bastante a culinária italiana.

— Mamãe! — exclamou, irritado.

Era óbvio que Ruth passara todas essas informações para Anahí. Mesmo assim, a idéia de que as duas estivessem conspirando para levá-lo até o altar não fazia sentido.

Uma modelo de sucesso devia ganhar no mínimo cem mil dólares por ano, até mais. Portanto, o que Anahí Portilla podia esperar de um homem simples como ele? Aliás, por que uma moça tão bonita e rica iria se interessar pelas tramas casamenteiras de uma irlandesa que morava no Brooklin?

Poncho cobriu o rosto com as mãos.

— Meu Deus! O que minha mãe deve ter dito para persuadir Anahí a me convidar para sair?

Seu sangue começou a ferver nas veias. Agora fazia questão de tirar tudo aquilo a limpo.