Fanfic: Desconhecido

Dentro do baú

Ilumina esse meu universo de dúvidas,

este que com ternura vou te imprensar,

quando esse meu olhar te buscar

com recato e algum medo.

Mergulhe fundo nele, sem ciúme,

e verás que eu te segrego sim,

o meu segredo em frações de lume.

(No olhar, reflexos de um segredo do coração- Elisa Maria Gasparini Torres)

Era uma rua escura. Eu estava sozinho.

Aliás, eu sempre estive sozinho, não mudou nada.

As vozes começaram a dizer aquilo que estava escrito no bilhete:

  “Não fique com medo Félix. Agora eu não posso ir, mas logo que eu puder irei para te explicar tudo. Eu vou te ajudar. Você não está sozinho. Eu nunca vou deixar você sozinho. Não eu. Te amo, X.” Esse bilhete era o motivo da minha curiosidade e da minha espera agora. Eu definitivamente precisava descobrir o que significava isso! As vozes continuaram até que eu caísse ajoelhado na rua fria.

      Outra noite mal dormida. Outro pesadelo!

      Procurei feito um louco a chave que abriria aquele baú.

      Na verdade, eu nem sabia se o baú estava lá. Havia uma entrada para uma chave. O que tinha lá dentro era um mistério para mim.

       Já fazia duas semanas que minha mãe estava naquele cemitério. Eu ainda sentia muito sua perda. Sentiria até meu último dia. Mas sempre acaba em morte quando se tem uma Julieta na história!

       Minhas tias ofereceram suas casas para eu morar mas eu não aceitei.

       Naquele mês,  eu queria ficar em Sete Quedas. Bom morar lá.

       Uma cidade pequena, sem pontos turísticos, mas eu gostava de lá.

       Um motivo para eu continuar lá era a viagem que faríamos depois da formatura. Meus colegas de classe gentilmente adiaram a data da viagem devido á morte de minha mãe. Essa viagem serviria para eu relaxar e tentar esquecer o que aconteceu nesses dias difíceis.

       Faltavam dois dias para a viagem. Iríamos para Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina.

       Outro motivo para permanecer em Sete Quedas, era meu aniversário que seria no dia seguinte.

       Eu ainda tinha que fazer uma visitinha às lojas da minha cidade para renovar meu guarda- roupa! Isso sim era importante naquela época! E Sete Quedas era perfeita para fazer compras. Suas vitrines me agradavam muito, principalmente quando o assunto era calçado! Eu me esbaldava!

       A cidade estava chuvosa, e isso era estranho para dezembro.

       Mas eu amo chuva! É perfeito!

       Minha mãe tinha um guarda-roupa enorme e procurar uma chave lá seria uma tarefa difícil. Por isso chamei as mosqueteiras que faltavam para me ajudar.

      Haryélle, Juliane e Paulla chegaram de guarda-chuva. E essa chuva só ficava cada vez mais forte. Eu não sei o que seria de mim sem elas no Natal. Foi péssimo sem minha mãe, mas elas me ajudaram a esquecer um pouco isso. Na verdade, se minha mãe não estivesse naquele cemitério no Natal provavelmente eu estaria! Se não fosse trágico, seria cômico! Ano- novo, também não foi a mesma coisa.

      Segunda- feira, 05 de janeiro e 2009. Já faziam dias que minha mãe havia partido, que minha formatura... O tempo passou voando.

       Manhã chuvosa, isso era bom! Minhas amigas na minha casa. Chocolate quente! Conversa de menina! É bom!

       Depois do chocolate nós fomos encarar o gigantesco guarda roupa da minha mãe.

       Haryélle insistiu para que eu colocasse Madonna no som e Julis inventou uma coreografia louca para nós dançarmos enquanto jogávamos todas as roupas da minha mãe pelo quarto.

      Foi legal, embora parecêssemos loucos e os vizinhos reclamassem uma hora depois!

Every little thing that you say or do
I`m hung up
I`m hungin` up on you
Waiting for your call
Baby night and day
I`m fed up
I`m tired of waiting on you

(Hung Up- Madonna)

       Coreografia, canto, Madonna. Tudo em vão!

       Nada de chave.

       As meninas tiveram que voltar para suas casas, já eram quase 9 horas da noite e no dia seguinte nós assaltaríamos a s lojas de Sete Quedas, no bom sentido, é claro!

       Eu fui totalmente a favor de uma festa do pijama, mas pelo visto fui o único.

       Antes de jantar, fui assistir um pouco de TV. Não tinha nenhum desfile passando, e não queria ver Olhos Famintos pela octogésima vez. Em cima da TV, bem na hora daquela cena que o mocinho vê os corpos deformados no poço, vi uma fotografia na qual eu e minha mãe estávamos abraçados. Fazia tempo que eu não prestava atenção naquela fotografia. Queria que ela estivesse lá. Levantei do sofá e peguei o porta-retrato. Ele acidentalmente caiu da minha mão.

       Abaixei para recolher os cacos de vidro. Um me cortou e o sangue manchou o tapete branco.

        Me surpreendi. A chave! A chave que eu e as mosqueteiras passamos o dia inteiro procurando estava atrás daquele porta-retrato!

Não pensei duas vezes, fui imediatamente tirar a prova. Aquela chave abriria aquela entrada? E se abrisse, o que estaria escondido lá dentro?

       Afastei minha cama, e coloquei a chave na entrada. Realmente era a chave que eu estava procurando.

       Eu fiquei mais surpreso ainda. Não havia um baú lá dentro. Havia outra chave e uma entrada. Eu corri para ligar para minhas amigas, mas no meio do caminho decidi que não as incomodaria ,afinal elas tinham acabado de sair da minha casa. Mas olhei para o portão e havia um outro bilhete, dessa vez era mais extenso, parecia uma carta.

       Fui até o portão. A carta estava envolta num plástico. Certamente, por causa da chuva!

Félix, me desculpa, você deve estar sozinho.

Eu realmente sinto muito. Mas, agora eu não posso vê-lo, nem te explicar tudo. Eu sei que você vai viajar, e depois disso nós conversaremos, eu prometo.Não tenha medo. Eu quero muito te ver outra vez.

Você deve estar grande, quanto tempo!

Eu prometo que vamos nos ver em breve.

Saudade,

Com amor,

X

       O fato de eu já esperar que fosse X o autor dessa carta, fez que eu me sentisse menos nervoso e curioso. Medo não era a palavra certa.

       Eu tinha fascínio por essa pessoa.

       X disse: Eu quero muito te ver outra vez, isso quer dizer que ele é alguém conhecido, que já nos vimos.

       Venha logo X.

       Parei para pensar no que estava fazendo e lembrei que tinha um baú para abrir.

       Abri a segunda entrada com a chave que estava lá. Não acreditei. Nem passava pela minha cabeça que minha casa tinha um porão. Uma escada de 6 degraus foi o que vi primeiro. Desci. Havia várias prateleiras, teias de aranha, sujeira! Um terror!

        Numa das prateleiras havia um baú. Ele já estava aberto. Chave não foi problema. Dentro dele havia um diário. Quantos diários na minha vida! Mas, esse era da minha mãe. E só havia uma página escrita. A primeira.

       Félix, provavelmente você vai encontrar esse baú um dia. No dia que eu partir. Eu pedi para ele explicar tudo a você quando esse dia chegasse. Eu te amo, e tudo o que eu consegui e fiz foi por você meu filho. Fique com meu amor! Quero que vá na prateleira que está encostada na parede. Tem o que você precisa por enquanto.

       Te amo meu filho.

       Julieta

       Eu tenho absoluta certeza que ela escreveu esse “eu te amo” antes de dar uma lidinha no meu diário!

      Caminhei até a prateleira que estava encostada na parede. Havia uma mala. Abri.

_ Meu Deus do céu! Eu disse.

       Minha mãe não exagerou nenhum pouco quando disse que o que lá teria o que eu precisava por enquanto. Uma mala cheia de jóias. Perfeito! Maravilhado eu revirei tudo, no fundo da mala havia uma fotografia. Uma família que eu não conhecia.

       Fui até o espelho do meu quarto ver como ficou o meu pescoço com aquelas dezenas de colares. Eu estava rico. Eu com certeza me daria um presente muito caro e  saberia aproveitar bem essa viagem para Florianópolis. E depois disso descubriria quem é esse X. No diário minha mãe disse “eu pedi para ele explicar tudo a você”, isso significa que é um homem.

       Parou a chuva. Pena!

       Mas começou o desfile na TV, eu ainda precisava jantar. Por que não mandar trazer uma refeição bem cara de um restaurante?

       A chuva voltou na madrugada.

My Music

Hung Up- Madonna

Unconditional- the Bravery