Fanfic: Desconhecido

Diário de Viagem

       Eu sei que é um pouco constrangedor voltar a escrever aqui nesse diário depois de minha mãe tê-lo lido, e isso ser talvez a causa da sua morte. Mas, embora eu tenha muito dinheiro para comprar uma infinidade de diários acho que vou continuar usando esse mesmo. É bem a minha cara.

       Preciso contar como foi a minha viagem, não sei se vou dar conta de escrever tudo de uma vez, mas eu vou tentar.

       Posso começar falando por exemplo que nas primeiras horas de viagem eu dormi no ônibus. Aquela noite com X, embora tenha sido muito importante para que eu pudesse entender tudo (quer dizer, quase tudo) foi muito cansativa! Então descansei um pouco no ônibus.

       Em nenhum momento ele mostrou seu rosto, insistiu que devíamos tomar cuidado. Tem muito dinheiro envolvido e isso pode interferir na nossa segurança.

       Chegamos em Campo Grande, era noite.

As mosqueteiras perceberam que eu estava feliz um pouco além da conta. Lembro-me com detalhes de minha conversa com elas quando saímos do ônibus:

_ Félix, nós estávamos pensando que... agora que sua mãe se foi você podia parar de se esconder de si mesmo – sugeriu Paulla- e tentar viver em paz. Eu sei, quer dizer todas nós sabemos que o único motivo de você ainda não ter se assumido era a sua mãe.

_ Agora, F, você não precisa se preocupar com isso já que sua mãe não está aqui.Disse Haryélle.

_ Você parece que está mais... feliz. Aconteceu alguma coisa que nós ainda não sabemos? Perguntou Juliane.

_ Eu notei que você está diferente de uns dias para cá. Afirmou Paulla.

_ Eu tenho muita coisa para contar mesmo. Mas, não agora. Quanto à me assumir, isso vai acontecer em breve. Eu prometo. Eu disse seguro do que estava fazendo.

_ Nem podemos falar em assumir. Ser feliz, ou gay, sei lá... Ser é feliz não crime para precisar ser assumido. Disse Paulla, nos surpreendendo.

_ De mosqueteira à filósofa. Eu brinquei. Nós rimos.

        Logo que saímos do ônibus, procuramos um lugar para comprar alguma coisa para comer. E nós tínhamos muitas opções! Nem dá para comparar a rodoviária de Sete Quedas (onde estive com X) com a rodoviária de Campo Grande.

        Rodoviária de Sete Quedas x 10= Rodoviária de Campo Grande

        Compramos chocolate. Somos mosqueteiros chocólatras! A viagem prosseguiu. Nós precisávamos de música. Então convencemos todos no ônibus a cantar Vanessa da Mata, Moinho, até Madonna. Queria fazer a coreografia da música da Madonna, mas ficaria muito claro que eu sou gay. E como eu não queria essa responsabilidade agora, decidi deixar a coreografia para quando voltássemos de Florianópolis.

         Todos dormiram no ônibus, mas eu ainda estava acordado. Pensando na minha conversa com X. Na verdade, não consegui descobrir  o verdadeiro nome dele mesmo que tenhamos conversado umas 5 horas aproximadamente.

        Ele, era mais especial do que eu imaginava. Um homem perfeito. Homem, não sei na verdade. Ao menos parecia. Ao menos, não era apaixonado por desfiles, não sabia de cor o nome das modelos mais bem pagas do mundo, nem se a presidente da Argentina tinha usado o mesmo vestido duas vezes. Quem não sabe isso, ou no mínimo 1/3, é homem.

        Mas eu sabia o que ele queria, e também era o que eu queria. No início eu não entendi de onde nos conhecíamos. Mas sempre nos conhecemos. É difícil de explicar nisso. O passado mais uma vez me surpreendeu.

        Como tudo aconteceu?

        O despertador do meu celular tocou. Acordei. Nove e meia da noite. Saí na frente da minha casa, vi um homem de costas numa moto. Ele estava todo de preto. Fiquei me perguntando se era X.

        Passei por ele.

        _ Sobe na moto. Ele disse.

        _ Quem é você? Você é o... X? Eu perguntei.

        Ele usava um capuz preto.

        _ Eu sou a pessoa que mais te ama nesse mundo. Ele respondeu. Mas pode me chamar de X.

        Eu não pensei duas vezes, subi na moto.

        _ O que nós vamos fazer hoje? Perguntei curioso.

        _ Tem muita coisa que você precisa saber, e eu sou a pessoa mais indicada para explicar. Hoje você vai descobrir quem eu sou, mas também quem você é.

        Uma noite longa estava por vir.

_ Feliz aniversário Félix Monteiro! X disse.

        Ele acelerou.

_ Nossa, você é muito rápido. Eu disse.

_ Pode se segurar em mim.

        Eu o abracei. X tinha essa coisa masculina que me atraía. Era irresistível depois de conhecer.

        Chegamos na praça ao lado da rodoviária. Eu desci da moto e ele depois. Ficamos cara a cara, um olhando para o outro. Eu só podia ver os olhos dele, estava com um capuz preto.

_ Você cresceu. Ele disse sorrindo.

_ É... Nós nos conhecemos? Perguntei um pouco tímido.

_ Sim, quer dizer eu te conheço. Ele respondeu, e quando vi já estava me abraçando.

_ Não sabe o quanto eu esperei por isso. Não pela morte da sua mãe, mas eu queria ver você, sentir que você é real. Ele completou.

_ Como nos conhecemos? Quer dizer, como você me conheceu.

_ Eu sou um quase seu irmão. Você sabe que a sua mãe morou um tempo na Irlanda, não sabe?

_ Sei, ela ficou grávida de mim lá. Respondi.

_ Não, ela nunca ficou grávida. Ele é estéril. Fiquei sem chão ao ouvir isso.

        Diário, acho que a Haryélle acordou. Até a próxima.

My Music

4 minutes- Madonna+ Justin Timberlake