Fanfic: Os Amores de Anahí *AyA (terminada)
Anahí encontrou seus companheiros na grande cozinha da abadia, onde Frei Anselmo, metido em um avental branco, azafamava-se ajudado por dois ou três adolescentes vestidos com hábitos excessivamente grandes para eles. Eram os noviços da abadia.
- -Ceia delicada esta noite - dizia o irmão cozinheiro. - A Condessa de Richeville encontra-se entre nós. Tenho ordem de descer à adega e escolher os melhores vinhos, assar seis capões e arranjar-me como puder para apresentar um prato de pescado. Tudo bem temperado - acrescentou, lançando um olhar malicioso a um de seus confrades, que, sentado junto a um extremo da mesa de madeira, bebia um copo de licor.
- -As criadas da visitante são graciosas - respondeu o outro, homem gordo e vermelho, cujo ventre quase fazia rebentar um cordão cheio de nós, do qual pendia um terço. - Ajudei três dessas encantadoras moças a levar o leito para a cela reservada para sua patroa, bem como as malas e o guarda-roupa.
- - Ah, ah, ah! - exclamou Frei Anselmo. - Gostaria de tê-lo visto, Frei Tomás, carregando mala e guarda-roupa! Você, que nem ao menos tem força para carregar a pança.
- Ajudei-as com meus conselhos - disse gravemente Frei Tomás.
Seus olhos avermelhados percorriam o aposento, onde brilhava e crepitava o lume sob assadores e enormes panelas.
- -Que nuvem é essa de vilõezinhos que acolheu em seus domínios, Frei Anselmo?
- -São crianças de Monteloup que se extraviaram na mata.
- -Por que não os prepara com escabeche? - disse Frei Tomás, revirando os olhos de maneira terrível.
Dois dos meninos puseram-se a chorar assustados.
- Vamos, vamos! - disse Frei Anselmo, abrindo uma porta. - Sigam por este corredor. Encontrarão um celeiro, deitem-se ali e durmam. Não tenho tempo para cuidar de vocês esta noite. Felizmente, um pescador me trouxe um belo lúcio; do contrário, o nosso abade seria capaz de dar-me como penitência três horas com os braços em cruz. E já estou ficando velho para esses exercícios...
Quando se certificou de que seus pequenos companheiros estavam dormindo, Anahí, deitada no cheiroso feno, sentiu que os olhos se lhe enchiam de lágrimas.
- -Nicolau - cochichou ela -, creio que nunca poderemos chegar às Américas. Pensei muito nisso. Necessitaríamos de um relógio.
- -Não se inquiete - respondeu o adolescente, bocejando. - Desta vez saímo-nos mal. Mas divertimo-nos bastante.
- -Naturalmente - disse Anahí, furiosa -, você é como um esquilo. Incapaz de realizar grandes projetos. Além disso, não se importa que voltemos em situação lastimável a Monteloup. Seu pai não lhe dará uma sova, porque está morto, mas os outros, que tunda!
- -Não se preocupe com eles - retrucou Nicolau meio adormecido -, têm o lombo duro.
Três segundos depois, roncava ruidosamente.
Anahí supunha que tantas preocupações a impedissem de conciliar o sono, mas pouco a pouco a voz distante de Frei Anselmo, que azoinava seus noviços, foi sumindo e a menina adormeceu.
Com o calor excessivo, despertou. As crianças continuavam dormindo, e suas respirações cadenciadas enchiam o celeiro.
"Vou respirar lá fora", disse consigo mesma.
Procurou, tateando, a porta do pequeno corredor que conduzia à cozinha. Quando conseguiu abri-la, chegou até ela um rumor de vozes estridentes e de gargalhadas camponesas. Nos domínios de Frei Anselmo parecia haver numerosa assembléia.
Anahí chegou até a soleira.
Viu uma dezena de monges sentados em torno da grande mesa coberta de pratos e jarros de estanho. Carcaças de aves entulhavam os pratos. Um cheiro de vinho e de fritura misturava-se com o odor mais delicado de uma garrafa de licor aberta, do qual cada um dos comensais tinha um copo diante de si. Três mulheres, camponesas louças disfarçadas em aias, tomavam parte na festa. Duas delas riam muito e pareciam completamente embriagadas. A terceira, mais modesta, resistia a Frei Tomás, que procurava atraí-la.
- Vamos, vamos, querida - dizia o gordo monge -, não seja mais pudica que a sua augusta patroa. A esta hora, pode ter certeza de que ela não mais se ocupa de filosofia grega com o nosso abade. Você será a única a não se divertir esta noite, na abadia.
A criada lançou em volta de si olhares constrangidos e decepcionados. Sem dúvida ela era menos arisca do que desejava parecer, mas a face rubicunda de Frei Tomás não a seduzia.
Um dos outros monges pareceu compreender isso, pois ergueu-se de súbito e enlaçou-lhe a cintura num gesto carinhoso.
- Por São Bernardo, padroeiro do nosso claustro - exclamou ele -, esta moça é muito fina para você, grande porco! Que está pensando? - interrogou, levantando com um dedo o queixo da recalcitrante. - Será que não tenho belos olhos, embora me faltem belos cabelos? Pois digo-lhe que fui soldado e sei divertir as garotas.
Ele tinha, efetivamente, olhos negros e vivos, e um ar astuto. A criada não pôde deixar de sorrir. Seguiu-se uma curta rixa, provocada por Frei Tomás, aborrecido por ter sido desprezado. Uma vasilha de estanho foi derrubada e as mulheres protestaram. Subitamente, alguém gritou:
- Olhem! Ali!... Um anjo!...
Todos se voltaram para a porta, onde se encontrava Anahí. Não recuou porque não era medrosa. Tinha assistido a muitas festas camponesas e não se assustava com as algazarras provocadas necessariamente pelas libações abundantes. Mas algo se rebelava dentro dela. Parecia-lhe que aquele espetáculo não condizia com a visão que havia tido ante os olhos, do alto da floresta, quando lhe surgiu a abadia, na luz dourada do entardecer, como asilo e refúgio de paz.
- -E uma garota que se perdeu no bosque - explicou Frei Anselmo.
- -A única de um bando de meninos - explicou Frei Tomás. _- É uma esperança. Quem sabe não gostará da brincadeira? Tome, venha beber isto! - disse, oferecendo a Anahí um copo de licor. - É bom, é doce. Nós mesmos o fabricamos com a angélica dos pântanos: Angélica sylvestris.
Anahí obedeceu, menos por gulodice do que por curiosidade, e provou aquela bebida que tanto tinha ouvido elogiar e que trazia seu nome. Era de um verde dourado e pareceu-lhe forte, mas deliciosa. Depois de tomá-la, um calor agradável espraiou-se-lhe pelo corpo.
- Bravo! - exclamou Frei Tomás. - Mostrou, pelo menos, que sabe beber.
Fê-la sentar-se em seus joelhos. Seu hálito avinhado, o odor que se desprendia de seu burel desagradaram a Anahí, mas ela estava entontecida pelo álcool que acabara de ingerir. A mão de Frei Tomás dava palmadinhas nos joelhos da menina, com um gesto que pretendia ser paternal.
- -Ela é tão delicada, esta pequena! Da porta se fez ouvir uma voz:
- -Irmão, deixe em paz essa criança!
Um monge encapuzado, com as mãos ocultas nas largas mangas do hábito, estava de pé na soleira, como um espectro.
- -Aí vem o desmancha-prazeres - grunhiu Frei Tomás. - Ninguém lhe pede que se junte a nós, Frei João, se a boa mesa não o tenta. Mas ao menos deixe que os outros se divirtam tranqüilamente. Ainda não se tornou nosso prior.
- -Não se trata disso - replicou o recém-vindo, com voz alterada. - Não faço senão aconselhar-lhe a que deixeis essa menina. É a filha do Barão de Sancé, e não ficaria bem que houvesse de queixar-se dos seus costumes, em vez de agradecer a sua hospitalidade.
Houve um silêncio feito de assombro e constrangimento.
- Venha, minha filha - disse o monge com voz firme.
Anahí seguiu-o maquinalmente. Atravessaram o pátio. Erguendo os olhos, a menina viu o céu estrelado, de uma pureza indescritível, sobre o convento.
- Entre aí - disse Frei João, abrindo uma porta de madeira compostigo. - É a minha cela. Pode descansar em paz até o amanhecer.
Era um quarto muito pequeno, de paredes nuas, nas quais não se viam outros ornamentos além de um crucifixo de madeira e uma imagem da Virgem. Em um canto existia um catre, simples tábua coberta de lençóis grosseiros e um cobertor. Um genufle-xório de madeira, com a prateleira cheia de livros de orações, estava colocado por baixo do crucifixo. Reinava ali agradável frescor, que no inverno devia transformar-se em frio atroz. A janela, redonda, fechava-se por uma só folha de madeira. Aberta, essa noite, os eflúvios da floresta, os odores de musgo e de cogumelos penetravam na cela. À esquerda, um degrau dava acesso a um retiro em que brilhava uma lamparina. Uma estante coberta de pergaminhos e pequenos copos ocupava-o quase completamente.
O monge aponton a enxerga:
- Deite-se aí e durma sem temor, minha filha. Eu continuarei meu trabalho.
Entrou no pequeno quarto, sentou-se em um tamborete e inclinou-se sobre os pergaminhos.
Autor(a): Bela
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Sentada na beira do desconfortável leito, a menina não sentia nenhum desejo de dormir. Jamais havia imaginado lugares tão estranhos. Pôs-se de pé e foi olhar pela janela. Divisou lá embaixo uma fila de hortas muito reduzidas, separadas umas das outras por altos muros. Cada monge tinha a sua, aonde ia diariamente cultivar algumas ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 109
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:35
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:19
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:16
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:41
ops doca nao, dica!
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
unposed Postado em 16/08/2010 - 17:16:23
Ai ela ta começando a ficar com ciume dele, que fofo!
Posta maisss!