Fanfics Brasil - CAPITULO X - Poitiers e o convento — Encontro com o Sr. Vicente de Paulo Os Amores de Anahí *AyA (terminada)

Fanfic: Os Amores de Anahí *AyA (terminada)


Capítulo: CAPITULO X - Poitiers e o convento — Encontro com o Sr. Vicente de Paulo

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Anahí  viu-se envolvida pelas trevas e pela frescura das abóbadas. As igrejas do Poitou são as mais sombrias da França. Sólidos edifícios, assentados sobre enormes pilares, dissimulam em sua sombra anti­gas decorações murais, cujos tons vivos vão aparecendo pouco a pouco aos olhos surpresos. Os dois adolescentes avançavam em silêncio.


-   Estou com frio - murmurou Anahí, envolvendo-se no manto.


O jovem pôs-lhe um braço protetor sobre os ombros, mas sua exaltação tinha diminuído e ele parecia intimidado.


Abriu a primeira porta do enorme púlpito; depois, subindo os degraus, penetrou na rotunda destinada ao pregador. Anahí o seguiu um tanto maquinalmente.


Sentaram-se os dois nas tábuas do chão, cobertas por um tapete de veludo. Aquela igreja, aquela noite profunda com cheiro de incenso pareciam ter acalmado o temperamento afoito de Henrique. Ele pôs novamente o braço em torno das espáduas de Anahí e a beijou suavemente na fronte.


-   Como você é bela, minha amiguinha - suspirou -, e como eu a prefiro a todas essas grandes damas que me provocam e zombam de mim! Nem sempre me agrada, mas eu devo comprazer-lhes. Se você soubesse...


Tornou a suspirar. Seu rosto havia recobrado toda a sua puerilidade.


-   Vou mostrar-lhe uma coisa linda, excepcional - disse ele, re­mexendo a esmoleira.


Tirou dela um pano branco orlado de renda e não muito limpo.


-  Um lenço? - disse Anahí.



  • - Sim. O lenço do rei. Deixou-o cair esta manhã. Apanhei-o e guardei-o como talismã. Olhou-a demoradamente, concentrado.

  • -Posso dá-lo a você, como prova de amor?

  • -Oh! Sim - disse Anahí, estendendo logo a mão.


O braço bateu na balaustrada de madeira maciça e a pancada produziu enorme eco sob as abóbadas. Imobilizaram-se, inibidos e um tanto inquietos.



  • -Creio que vem alguém - murmurou Anahí. O rapaz confessou com ar desconsolado:

  • -Esqueci-me de fechar a porta do púlpito ao pé da escada. Calaram-se,escutando os passos que se aproximavam. Alguém galgou os degraus de seu refúgio, e a cabeça de um velho sacerdo­te, coroada de um solidéu negro, apareceu acima deles.


-   Que fazem aqui, meus filhos? - perguntou.


O pajem tinha já uma história na ponta da língua:



  • -Eu quis ver minha irmã, que é pensionista em Poitiers, mas não sabia onde conversar com ela. Nossos pais...

  • -Não fale assim tão alto na casa de Deus - disse o padre. - Levante-se, e sua irmã também, e siga-me.


Levou-os para a sacristia e sentou-se num mocho. Depois, com as mãos apoiadas nos joelhos, olhou sucessivamente os dois. Os cabelos brancos surgindo de seu solidéu eclesiástico aureolavam um rosto que, apesar da velhice, conservava sadias cores campo­nesas. Tinha um grande nariz, pequenos olhos vivos e penetran­tes e curta barba branca. Henrique de Roguier, subitamente, pareceu assustado e calou-se com um embaraço que não era fingido.


-   Ele é seu amante? - perguntou de chofre o padre a Anahí, indicando o jovem com um movimento de cabeça.


O rubor cobriu as faces da moça e o pajem exclamou prontamente:



  • -Senhor, eu o desejaria, mas ela não é dessa espécie.

  • -Tanto melhor, milha filha. Se tivesse um belo colar de péro­las, divertir-se-ia em lançá-lo em seu pátio cheio de estéreo, onde os porcos viriam farejá-los com seus focinhos asquerosos? Hein? Responda-me, menina! Fá-lo-ia?

  • -Não. Eu não o faria.

  • -Não se devem dar pérolas aos porcos. Não deve malbaratar o tesouro de sua virgindade, que deve ser guardada para o seu ca­samento. E você, leviana personagem - continuou ele calmamente, voltando-se para o rapaz -, como teve a idéia sacrílega de trazer sua amiga ao púlpito da igreja para fazer-lhe madrigais?

  • -Aonde poderia levá-la? - retrucou o pajem, de mau humor. - Não se pode conversar tranqüilamente nas ruas desta cidade, mais estreitas que corredores. Sabia que o sacristão de Nossa Senhora Maior costuma alugar o púlpito e os confessionários, para que se possa dizer algum segredo longe de ouvidos indiscretos. Nestas ci­dades de província, o senhor sabe, Sr. Vicente, há muitas moças severamente guardadas por um pai ranzinza e uma genitora intratá­vel e que nunca teriam oportunidade de ouvir uma palavra doce se...


-   Como você me instruir, meu pequeno!


_ O púlpito custa trinta libras, e os confessionários, vinte. É muito para minha bolsa, acredite-me, Sr. Vicente.


-   Acredito sem dificuldade - disse o Sr. Vicente -, mas é mais caro ainda na balança onde o Diabo e o Anjo pesam os pecados no átrio de Nossa Senhora Maior.


Seu semblante, que até então conservava uma expressão serena, tornou-se duro. Estendeu a mão.


-   Dê-me a chave que lhe entregaram.
E, quando o rapaz a devolveu:


-   Vai confessar-se, não é? Esperá-lo-ei amanhã ao anoitecer, nesta mesma igreja. Dar-lhe-ei absolvição. Sei muito bem em que meio vive, pobre pajenzinho! E para você é mais vantajoso brincar de homem com uma menina da sua idade do que servir de brinquedo para as maduras damas que lhe arrastam a suas alcovas para corrompê-lo... Sim, eu o vejo enrubescer. Envergonha-se diante dela, tão fresca, tão nova, dos seus turvos amores.


O jovem baixou a cabeça, seu aprumo desapareceu. Balbuciou afinal:


-   Sr. Vicente de Paulo, por favor, não conte este caso a Sua Majestade, a rainha. Se ela me devolver a meu pai, ele não saberá o que fazer de mim. Tenho sete irmãs que ele precisa dotar, e eu sou o quarto filho da família. Não consegui este imenso favor de entrar para o serviço do rei senão graças ao Sr. de Lorraine, que me... a quem eu agradava - concluiu com embaraço. - Ele comprou o posto para mim. Se me mandam embora, ele exigirá, sem dúvida, que meu pai o reembolse, e isso é impossível.


O velho eclesiástico olhava-o com gravidade.


-   Não direi nada. Mas convém que mais uma vez recorde à rainha as torpezas de que se acha rodeada. Ai! É mulher piedosa e consagrada às boas obras, mas que pode ela contra tanta podri­dão? Não se modificam as almas com decretos...


O ruído da porta da sacristia interrompeu-o. Entrou um homem jovem, de cabelos compridos e encaracolados, vestido com esmera­do traje negro. O Sr. Vicente ergueu-se e lançou-lhe um olhar severo.


-   Senhor vigário, quero acreditar que ignore o comércio a que se entrega seu sacristão. Acaba de cobrar trinta libras a este jovem cavaleiro para que possa encontrar-se livremente com sua amiga no púlpito de sua igreja. Seria bom que vigiasse com um pouco mais de cuidado os seus auxiliares.


A fim de recompor-se, o vigário despendeu muito tempo fechan­do a porta. Quando se voltou, a penumbra da sacristia dissimula­va mal o seu desconcerto. Como calava, o Sr. Vicente continuou:


-   Observo, além disso, que usa peruca e roupas seculares, o que é proibido aos sacerdotes. Serei obrigado a denunciar tais faltas ao beneficiário de sua paróquia.


O vigário teve dificuldade em disfarçar um encolher de ombros.



  • -O qual não se preocupará com isto, Sr. Vicente. Meu benefi­ciário é um cônego parisiense. Comprou o cargo há três anos ao cu­ra anterior, que se retirava para suas terras. Nunca veio aqui, e, como tem casa canonical sobre a abside de Nossa Senhora de Paris, aposto que Nossa Senhora Maior de Poitiers deve parecer-lhe muito pequena.

  • -Ah! - exclamou bruscamente o Sr. Vicente. - Receio que este abominável tráfico de curatos e paróquias, vendidos como asnos e cavalos no mercado, arraste a Igreja à sua perdição. E a quem nomeiam agora bispos neste reino? Grandes senhores guerreiros e libertinos, que às vezes nem sequer receberam as sagradas or­dens, mas que, tendo fortuna bastante para adquirir um bispado, permitem-se vestir a sotaina e os paramentos dos ministros de Deus. Ah! O Senhor nos ajude a derribar tais instituições!


Contente ao ver que os raios se desviavam dele, arriscou-se o vigário a dizer:


-   Minha paróquia não está abandonada. Ocupo-me com ela e dedico-lhe todo o meu desvelo. Dê-nos a honra, Sr,. Vicente, de assistir esta noite à nossa bênção do Santíssimo Sacramento. Verá a nave repleta de fiéis. Poitiers foi preservada da heresia pelo zelo de seus sacerdotes. Não é como Niort, Châtellerault e...


O ancião lançou-lhe um olhar fulminante.


-   Os vícios dos sacerdotes foram a causa primária das heresias! - exclamou com rudeza.


Levantou-se e, tomando pelos ombros os dois jovens, levou-os para fora. Apesar de sua idade e de suas espáduas curvadas, parecia estar cheio de vigor e vivacidade.


Descia a noite sobre a praça fronteira à igreja, onde pálida luz do inverno animava as flores de pedra.



  • - Meus cordeiros - disse o Sr. Vicente -, filhinhos de Deus, vocês intentaram provar o fruto verde do amor. Eis por que seus dentes se embotaram e têm os corações cheios de tristeza. Dei­xem, pois, amadurecer ao sol da vida aquilo que sempre esteve destinado a sazonar. Quando se procura o amor, é preciso não se transviar, porque, do contrário, talvez ele nunca seja encontra­do. Que castigo mais cruel para a impaciência e a fraqueza do que estar condenado a vida inteira a não morder senão frutos amargos e sem aroma! Agora, vão cada um para seu lado. Você, moço, pa­ra o seu serviço, que deve fazer com consciência. Você, menina, para suas religiosas e seus trabalhos. E, quando romper o dia, não se esqueçam de orar a Deus, que é pai de nós todos.


Deixou-os ir. Seu olhar seguiu as silhuetas graciosas dos dois jo­vens até se separarem na esquina da praça.



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Autor(a): Bela

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Anahí não virou a cabeça até chegar à porta do convento. Sen­tia uma grande paz e guardava a lembrança de uma velha e cálida mão pousada em seu ombro.__ "O Sr. Vicente", pensou. "É este, então, o Sr. Vicente? Aquele que o Marquês du Plessis denomina `A consciência do reino? O que obriga os ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 109



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  • luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:35

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  • luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:16

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  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:41

    ops doca nao, dica!

  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23

    doca: coloca quem está falando na frente das falas.
    ex.
    anahi: ----------
    ok?
    fica mais fácil de entender quem está falando cada fala!

  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23

    doca: coloca quem está falando na frente das falas.
    ex.
    anahi: ----------
    ok?
    fica mais fácil de entender quem está falando cada fala!

  • unposed Postado em 16/08/2010 - 17:16:23

    Ai ela ta começando a ficar com ciume dele, que fofo!

    Posta maisss!


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