Fanfic: Os Amores de Anahí *AyA (terminada)
Com o cair da tarde, o intenso calor começava a ceder. Ia começar o baile e Anahí suspirou.
"Dançarei a noite inteira", pensava, "mas em nenhum momento consentirei em ficar sozinha com ele..."
Nervosamente olhou para seu marido. Cada vez que o fazia, o aspecto daquele rosto cicatrizado, em que brilhavam pupilas negras como carvão, produzia-lhe mal-estar. A pálpebra esquerda, meio fechada pelo rebordo de uma cicatriz, dava ao Conde de Peyrac uma expressão de ironia perversa.
Repimpado em sua poltrona estofada, acabava de levar à boca um pequeno rolo escuro. Um criado aproximou-se conduzindo numa pinça uma brasa, que aplicou à extremidade do rolete.
- -Ah, conde, seu exemplo é deplorável! - exclamou o arcebispo, franzindo as sobrancelhas. - O tabaco é a sobremesa do inferno. Que seja utilizado em pó para atuar sobre os humores do cérebro, e sempre por conselho médico, já o admito com dificuldade, pois parece-me que os rapezistas experimentam nisso um gozo malsão e amiúde alegam a saúde como pretexto para sorver rape a cada instante. Mas os fumadores de cachimbo são a escória de nossas tabernas, onde se embrutecem durante horas inteiras com essa planta maldita. Até agora eu nunca tinha ouvido dizer que um gentil-homem consumisse tabaco desse modo grosseiro.
- -Não tenho cachimbo e não sorvo tabaco. Fumo a folha enrolada, tal como vi fazerem alguns nativos da América. Ninguém pode acusar-me de ser vulgar como um mosqueteiro ou amaneirado como um petimetre da corte...
- -Quando há dois modos de fazer uma coisa, sempre é preciso que se encontre um terceiro - disse o arcebispo com acrimônia. - Também acabo de reparar em outra singularidade sua. Não põe em seu copo nem pedra-de-sapo nem pedaço de licorne. Todos sabem que são esses os melhores processos de evitar o veneno que uma mão inimiga sempre é capaz de verter em seu vinho. Até sua jovem esposa adotou este prudente costume. A pedra-de-sapo, com efeito, e o chifre de licorne mudam de cor ao contato de bebidas perigosas. O senhor nunca os utiliza. Crê-se invulnerável ou... sem inimigos? - acrescentou o prelado com um brilho nos olhos que impressionou Anahí.
- -Não, monsenhor - respondeu o Conde de Peyrac. - Penso unicamente que o melhor meio de alguém se preservar do veneno é não pôr nada no copo, mas no corpo inteiro.
- -Que quer dizer?
- -Apenas isto: absorva cada dia de sua vida uma dose ínfima de algum veneno temível.
- -O senhor o faz? - exclamou o arcebispo, horrorizado.
- -Desde a mais tenra idade, monsenhor. O senhor sabe que meu pai foi vítima de certa bebida florentina, e no entanto a pedra-de-sapo que punha em seu copo era do tamanho de um ovo de pomba. Minha mãe, que era mulher sem preconceitos, procurou o verdadeiro meio de me resguardar a mim. De um mouro escravo trazido de Narbonne, aprendeu o método de defender-se do veneno com o veneno.
- -Suas observações têm sempre algo de paradoxal que me alarma - replicou o arcebispo. - Dir-se-ia que deseja reformar tudo, e ninguém ignora quantas desordens produziu na Igreja e no reino a palavra "reforma". Pergunto-lhe uma vez mais: por que empregar um método de cuja eficiência não se tem certeza alguma, quando outros provaram ser bons? Evidentemente, é necessário possuir verdadeiras pedras e verdadeiros chifres de licorne. Inúmeros charlatães se fizeram comerciantes de tais objetos e vendem não sei o que em seu lugar. Mas, por exemplo, meu Monge Bécher, um recoleto de grande saber, que se entrega por minha conta a experiências de alquimia, poderia conseguir-lhe excelentes.
O Conde de Peyrac inclinou-se um pouco para olhar o arcebispo e, no movimento, seus abundantes cachos roçaram a mão de Anahí, que recuou. Viu, então, que seu marido não usava peruca, mas que aquele velo negro era natural.
- O que me intriga - declarou o conde - é saber como ele os arranja. Quando menino, matei por curiosidade muitíssimos sapos. Jamais encontrei em seu cérebro a famosa pedra protetora que, ao que parece, deve encontrar-se nele. Quanto ao chifre de licorne, dir-lhe-ei que percorri o mundo e formei minha própria convicção. O licorne é um animal mitológico, imaginário; enfim, um animal que não existe.
- -Essas coisas não se afirmam, senhor. É necessário deixar sua parte aos mistérios e não pretender saber tudo.
- -O que é um mistério para mim - disse lentamente o conde - é que um homem de sua inteligência possa acreditar seriamente em tais... fantasias...
"Meu Deus!", pensou Anahí. "Nunca ouvi falar a um dignitário da Igreja com tamanha insolência."
Olhava alternadamente as duas personagens, cujas pupilas se enfrentavam. Seu marido, o primeiro que pareceu perceber a emoção que ela experimentava, dirigiu-lhe um sorriso que pregueou estranhamente seu rosto, mas descobriu seus dentes muito brancos.
- -Perdoe-nos, senhora, o discutirmos assim em sua presença. Monsenhor e eu somos inimigos íntimos!
- -Nenhum homem é meu inimigo! - exclamou o arcebispo, indignado. - Que é feito da caridade que deve habitar o coração de um servo de Deus? Se o senhor me odeia, eu não o odeio. Mas sinto em sua presença a inquietação do pastor pela ovelha que se extravia, e, se não fizer caso das minhas palavras, saberei separar o joio do trigo.
- -Ah! - exclamou o conde com um riso espantoso. - Bem sei que o senhor é o herdeiro daquele Foulques de Neuilly, bispo e braço direito do terrível Simão de Montfort, que ergueu as fogueiras para os albigenses e reduziu a cinzas a primorosa civilização da Aquitânia! O Languedoc, depois de quatro séculos, continua chorando seus esplendores destruídos e treme ao relato desses horríveis crimes. Eu, que sou da mais antiga cepa tolosana, que tenho sangue lígure e visigodo nas veias, estremeço quando meu olhar encontra seus olhos azuis de homem do norte. Herdeiro de Foulques, herdeiro dos bárbaros que implantaram entre nós o sectarismo e a intolerância, isso é o que leio em seus olhos!
- -Minha família é uma das mais antigas do Languedoc - retorquiu o arcebispo, erguendo-se um pouco. Naquele instante sua pronúncia meridional se tornava quase ininteligível para Anahí. - Sabe muito bem, monstro insolente, que metade de Toulouse me pertence por herança. Há séculos que nossos feudos são tolosanos.
- -Quatro séculos! Apenas quatro séculos, monsenhor! - gritou Alfonso de Peyrac, que também se tinha levantado. - O senhor veio nos carros de Simão de Montfort, com os abomináveis cruzados... É um invasor! Homem do norte, que faz à minha mesa?
Anahí, horrorizada, começava a se perguntar se não ia declarar-se a luta, quando uma gargalhada dos convivas sublinhou as últimas palavras do conde tolosano. O sorriso do arcebispo foi menos sincero. No entanto, quando o grande corpo de Alfonso de Peyrac bamboleou para ir inclinar-se diante do prelado, em sinal de desculpa, estendeu-lhe com amabilidade o anel pastoral, para que o beijasse.
Autor(a): Bela
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Anahí estava demasiado desconcertada para que participasse francamente de tal exuberância. As frases que aqueles dois homens acabavam de trocar não eram fúteis, mas é certo que para as pessoas do sul o riso é, muitas vezes, o brilhante prelúdio das mais negras tragédias. Subitamente Anahí reencontrou a exalta ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 109
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:35
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:19
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:16
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:41
ops doca nao, dica!
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
unposed Postado em 16/08/2010 - 17:16:23
Ai ela ta começando a ficar com ciume dele, que fofo!
Posta maisss!