Fanfics Brasil - CAPÍTULO XVIII - A visita do Arcebispo de Toulouse Os Amores de Anahí *AyA (terminada)

Fanfic: Os Amores de Anahí *AyA (terminada)


Capítulo: CAPÍTULO XVIII - A visita do Arcebispo de Toulouse

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Se  mostrava dócil às formas habituais de devoção que obser­vavam todas as jovens e damas de sua linhagem - assistência ao culto, jejuns, confissão, comunhão -, sentia despertar seu instin­to rebelde, quando o exagero vinha chocar-se contra seu natural bom senso. E, sem saber por que, pressentia que o arcebispo não era sincero.


Este, com os olhos baixos e a mão sobre a cruz de ametistas e diamantes, parecia recolher-se e buscar no mais profundo de seu coração o eco da resposta divina.


-    Como posso saber? - suspirou por fim. - Nada sei. O que ocorre neste palácio tem sido por muito tempo um mistério para mim e sinto crescer cada dia a minha inquietação.


Bruscamente interrogou:



  • -Está ao corrente, minha senhora, dos trabalhos de alquimia de seu marido?

  • -Sinceramente, não - respondeu Anahí sem se perturbar. - O Conde de Peyrac tem o gosto das ciências...

  • -Dizem mesmo que é que um grande sábio.

  • -Creio que sim. Ele passa longas horas em seu laboratório, mas nunca me introduziu ali. Certamente julga que essas coisas não interessam às mulheres.


Abriu o leque e dele se serviu para dissimular um sorriso e talvez certo constrangimento que começava a sentir ante o olhar pe­netrante do arcebispo.


__ Meu misterio é sondar o coração humano - disse ele como se houvesse percebido o embaraço de Anahí -, mas não se per­turbe, minha filha. Vejo em seu olhar que é direita e que, malgra­do sua juventude, possui uma personalidade excepcional. Quanto ao seu marido, talvez ainda seja tempo de arrepender-se de suas faltas e abjurar sua heresia.


Anahí soltou um gritinho.



  • -Mas juro-lhe que labora em erro, monsenhor! Talvez meu marido não proceda como um católico exemplar, mas absoluta­mente não se ocupa com a Reforma e outras crenças huguenotes. Eu própria já o ouvi zombar desses "tristes heresiarcas de Gene­bra", que, dizia ele, tinham recebido do céu a missão de tirar à humanidade inteira o gosto de rir.

  • -Palavras enganosas - disse o prelado com ar severo. - Aca­so não desfilam pela casa dele, que também é a sua, minha senho­ra, protestantes notórios?

  • -São sábios com os quais ele trata de ciência, e não de religião.

  • -Ciência e religião estão intimamente ligadas. Recentemente fui informado de que o célebre italiano Bernalli veio visitá-lo. Sa­bia que esse homem, depois de ter estado em conflito com Roma por causa de escritos ímpios, refugiou-se na Suíça, onde se con­verteu ao protestantismo? Mas não insistamos sobre esses indícios reveladores de um estado de espírito que eu deploro. Eis a ques­tão que me intriga há longos anos. O Conde de Peyrac é riquíssi­mo, e não cessam de acrescer os seus haveres. De onde lhe vem tanto ouro?

  • -Mas, monsenhor, acaso não pertence ele a uma das mais an­tigas famílias do Languedoc, aparentada mesmo com os velhos con­des de Toulouse, que tinham tanto poder sobre a Aquitânia como os reis de então na lie de France?


O prelado teve um risinho desdenhoso.



  • -E exato. Mas quartéis de nobreza não significam opulência. Os pais de seu esposo eram tão pobres que o magnífico palácio em que hoje a senhora reina tombava em ruínas há uns quinze anos apenas. O Sr. de Peyrac nunca lhe falou de sua juventude?

  • -N... não - murmurou Anahí, surpresa ela própria de sua ignorância.

  • - Ele era o caçula da família, e tão pobre, repito-lhe, que aos dezesseis anos embarcou para terras distantes. Não mais foi visto durante longos anos, e já o supunham morto quando ele reapare­ceu. Seus genitores e seu irmão mais velho tinham falecido, os cre­dores partilhavam suas terras. Ele recomprou tudo e depois sua fortuna não parou de crescer. Ora, ele é um gentil-homem que nunca foi visto na corte, que procura mesmo viver longe dela e não frui nenhuma pensão real.

  • -Mas ele tem muitas terras - disse Anahí, que se sentia su­focada, talvez por causa do calor crescente -, cria carneiros nas montanhas, dos quais extrai a lã, possui uma fábrica de tecidos, olivais, criações de bichos-da-seda, minas de ouro e prata...

  • -Disse ouro e prata?

  • -Sim, monsenhor, o Conde de Peyrac possui numerosas mi­nas na França, de onde afirma que tira grandes quantidades de ou­ro e prata.

  • -Como a sua palavra é justa, minha senhora! - disse o prela­do com voz adocicada. - De onde ele afirma que tira ouro e pra­ta!... era isso que eu queria ouvir. A espantosa suposição confirma-se.


- Que quer dizer, monsenhor? Vossa excelência me alarma.
O Arcebispo de Toulouse fixou novamente sobre ela aquele olhar demasiado límpido que às vezes adquiria a dureza do aço. Pronun­ciou lentamente:


-    Não duvido de que seu marido seja um dos maiores sábios da época e por isso creio, minha senhora, que ele verdadeiramente descobriu a pedra filosofal, isto é, o segredo que Salomão possuía da fabricação mágica de ouro. Mas que caminho ele tomou para o conseguir? Muito receio que tenha adquirido esse poder por meio de algum negócio com o Diabo!


Uma vez mais Anahí imobilizou seu leque sobre os lábios para não mostrar o riso. Esperava uma alusão ao negócio propriamente dito a que se dedicava o conde, segundo soubera pelas confi­dencias de Molines e de seu próprio pai; tal comércio não deixava de inspirar-lhe temor, sabendo ela que semelhantes atividades, por parte de um nobre, representavam uma nódoa que poderia lançar  o descrédito sobre sua casa. Mas a estranha acusação do arcebis­po, que diziam homem de grande inteligência, pareceu-lhe de ini­cio extremamente cômica. Estaria falando sério?


Subitamente, numa reviravolta do pensamento, Anahí lembrou-se de que Toulouse era a cidade da França onde a Inquisição mantinha ainda o seu quartel-general. A terrível instituição medieval contra os hereges conservava em Toulouse prerrogativa que a autoridade do próprio rei não ousava contestar.


Toulouse, cidade risonha, era também a cidade vermelha que fazia um século tinha chacinado o maior número de huguenotes. Muito antes de Paris, ela havia tido sua cruenta São Bartolomeu.  As cerimônias religiosas eram ali mais numerosas do que noutros lugares. Ela era uma verdadeira "ilha sonora", com seus sinos perpetuamente convocando os fiéis para os ofícios, uma cidade tão afogada em crucifixos, imagens de santos e relíquias como em flo­res. A chama espanhola havia ofuscado ali o puro clarão de latinidade trazido por antigos vencedores chegados de Roma. Ao lado das confrarias do prazer, como os "Príncipes dos Amores" e os "Abades da Juventude", famosas por suas facécias, encontravam-se na ruas procissões de flagelantes, com os olhos abrasados de mís­tica paixão, mortificando-se com varas e espinhos até deixarem no solo trilhas sangrentas.


Anahí, arrastada no turbilhão de uma vida de prazeres, não chegara a familiarizar-se com aquele aspecto de Toulouse. Mas não ignorava que era o próprio arcebispo, o homem que se achava sen­tado diante dela, na alta poltrona estofada e levando aos lábios um copo de limonada, quem continuava grão-mestre da Inquisição.


Foi, pois, com sincera humildade que ela murmurou:


-    Monsenhor, não é possível que lance contra meu marido uma acusação de feitiçaria! Produzir ouro não é coisa comum neste país ao qual Deus concedeu suas dádivas em profusão, espalhando ou­ro em estado nativo pela terra?


E ajuntou com finura:



  • -Ouvi dizer que vossa excelência mesmo tem um grupo de faiscadores lavando as areias do Garonne e recolhendo, amiúde, ouro em pó e em pepitas com o qual alivia muitas misérias.

  • -Sua objeção não é destituída de bom senso, minha filha. Mas, Precisamente porque conheço o trabalho de pesquisa do ouro, posso afirmar-lhe isto: ainda que lavássemos todas as areias dos rios e nachos do Languedoc, não recolheríamos nem metade do ouro que o Conde de Peyrac parece possuir. Creia-me, estou bem in­formado.


"Não o duvido", pensou Anahí, "e é verdade que há muito tempo ele pratica o tráfico do ouro espanhol com os muares..."


Os olhos azuis observavam sua hesitação. Ela fechou um tanto nervosamente o leque.



  • -Um cientista não é forçosamente um sócio do Demônio. Não dizem que na corte há sábios que instalaram uma luneta para olhar os astros e as montanhas da Lua, e que o Sr. Gastão d`Orléans, tio do rei, se entrega a tais observações guiado pelo Padre Picard?

  • -Com efeito, conheço de sobra o Padre Picard. Ele é não so­mente astrônomo, mas grande geômetra do rei.

  • -Bem vê...

  • -A Igreja, minha senhora, tem largueza de espírito. Ela auto­riza toda espécie de pesquisas, mesmo as mais ousadas, como as do Padre Picard. E vou mais longe. Tenho sob minhas ordens, no arcebispado, um religioso muito sábio, da ordem dos recoletos, o Monge Bécher. Há vários anos que faz experiências sobre a transmutação do ouro, mas com a minha autorização e a de Ro­ma. Confesso que até agora me saiu muito caro, sobretudo pelas despesas com substâncias especiais, que eu tenho de fazer vir da Espanha e da Itália. Esse homem, que conhece as mais antigas tra­dições de sua arte, afirma que, para conseguir o que desejamos, é preciso receber uma revelação superior, que não pode provir se­não de Deus ou de Satanás.

  • -E ele o conseguiu?

  • -Ainda não.

  • -Pobre homem! Então ele é malvisto por Deus e por Satanás, apesar da sua alta proteção.


Anahí mordeu os lábios, arrependendo-se de sua malícia. Ti­nha a impressão de que ia sufocar e que era preciso dizer boba­gens para livrar-se da indisposição. A conversa parecia-lhe tão tola quanto perigosa.



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Autor(a): Bela

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Virou-se para a porta, na esperança de ouvir os passos de seu marido na galeria, e teve um pequeno sobressalto. -Oh! Você estava aí? -Cheguei agora - disse o conde -, e não mereço perdão, se­nhor, por ter-lhe feito esperar tanto tempo. Confesso que me in­formaram de sua visita há cerca de uma hora, mas era-me imposs ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 109



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  • luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:35

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  • luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:19

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  • luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:16

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  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:41

    ops doca nao, dica!

  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23

    doca: coloca quem está falando na frente das falas.
    ex.
    anahi: ----------
    ok?
    fica mais fácil de entender quem está falando cada fala!

  • carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23

    doca: coloca quem está falando na frente das falas.
    ex.
    anahi: ----------
    ok?
    fica mais fácil de entender quem está falando cada fala!

  • unposed Postado em 16/08/2010 - 17:16:23

    Ai ela ta começando a ficar com ciume dele, que fofo!

    Posta maisss!


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