Fanfic: Os Amores de Anahí *AyA (terminada)
Apanhou um grande pedaço de carvão vegetal num monte que se encontrava perto dos fornos e tirou uma vela de sebo de um vidro de boca larga. Acendeu a vela na chama do forno cavou com uma ponta de ferro um pequeno buraco no carvão, colocou nele um grão de "prata córnea", que era de um cinza-amarelo sujo e semi-translúcido, e juntou-lhe um pouco de bórax, dizendo o que era. Depois, tomando um tubo de cobre recurvado, aproximou-o da chama da vela e soprou-o diretamente sobre o buraquinho cheio das duas substâncias salinas. Elas se fundiram, bolharam e mudaram de cor, e em seguida apareceu uma série de glóbulos metálicos, que, soprando mais forte, o conde fundiu em um só disco brilhante.
Afastou a chama e tirou com a ponta de uma faca o diminuto e cintilante lingote.
- -Eis a prata fundida que extraí em sua presença desta rocha de estranho aspecto.
- -O senhor faz com a mesma simplicidade a transmutação do ouro?
- -Não faço nenhuma transmutação; apenas extraio os metais preciosos dos minerais que já os contêm, mas em estado não-metálico.
O monge parecia pouco convencido. Tossiu fracamente e olhou em redor.
- -Que são esses tubos e essas caixas pontudas?
- -Um sistema chinês de adução para fazer ensaios de lavagem e captar o ouro por meio do mercúrio.
Abanando a cabeça, o religioso aproximou-se com circunspecção de um forno que roncava e no qual fervia lentamente o conteúdo de vários crisóis.
- E na verdade uma bela instalação - disse -, mas não se parece nem remotamente com o athanor ou a célebre "casa do frango do sábio".
Peyrac estourou de riso; depois, já sossegado, desculpou-se.
- Perdoe-me, meu padre, mas a última coleção dessas veneráveis tolices foi destruída pela explosão do ouro tonante de que monsenhor foi testemunha há poucos dias.
Bécher teve uma expressão deferente.
- -Monsenhor, com efeito, me falou disso. De modo que o senhor consegue fazer um ouro instável e que explode?
- -Chego até a fabricar um mercúrio fulminante, para nada lhe ocultar.
- -Mas e o ovo filosófico?
- -Tenho-o na cabeça!
- -Está blasfemando! - disse o frade, agitado.
. - Que história é essa de frango e de ovo? - exclamou Anahí. - Nunca me falaram sobre isso.
Bécher lançou-lhe um olhar depreciativo. Mas, vendo que o Conde de Peyrac dissimulava um sorriso e que o Cavaleiro de Germontaz bocejava abertamente, contentou-se, à falta de melhor, com aquele modesto auditório.
- -É no ovo filosófico que se consuma a Grande Obra - disse, fitando seu olhar penetrante nos olhos cândidos da jovem. - A produção da Grande Obra realiza-se sobre o ouro purificado, o Sol, e a prata fina, a Lua, à qual se deve misturar azougue, Mercúrio. O hermetista submete-os, no ovo filosófico ou matraz selado, aos ardores crescentes e decrescentes de um fogo bem regulado, Vulcano. Isso tem por fim desenvolver no composto as potências geradoras de Vênus, das quais a espécie visível é a pedra filosofal, substância regeneradora. Daí por diante as reações vão-se desenvolver no ovo segundo uma certa ordem: elas permitem observar a cocção da matéria. O importante, sobretudo, é atentar para as três cores: negro, branco e vermelho, que indicam respectivamente a putrefação, a ablação e a rubefação da pedra filosofal. Em uma palavra, a alternância de morte e ressurreição pela qual, segundo a antiga filosofia, deve passar, para reproduzir-se, toda substância que vegeta. O espírito do mundo, mediador obrigatório da alma e do corpo universal, é a causa eficiente das gerações de toda espécie, aquela que vitaliza os quatro elementos. Este espírito está contido no ouro, mas permanece nele inativo e prisioneiro. Cabe ao sábio libertá-lo.
- -E como se procede, meu padre, para libertar esse espírito que está na base de tudo e que é prisioneiro do ouro? - perguntou mansamente o Conde de Peyrac.
Mas o alquimista era insensível à ironia, Com a cabeça lançada para trás, seguia seu velho sonho.
- Para libertá-lo precisa-se da pedra filosofal. E nem mesmo ela basta. É necessário dar-lhe impulso com auxílio da pólvora de projeção, começo do fenômeno que transformará tudo em ouro puro.
Ficou silencioso por um instante, mergulhado em seus pensamentos.
- -Depois de anos e anos de pesquisas, creio poder dizer que cheguei a certos resultados. Assim, juntando o mercúrio de filósofos, princípio fêmea, com o ouro, que é macho, mas um ouro escolhido, puro e em folhas, pus a mistura no athanor ou casa do frango do sábio, santuário ou tabernáculo que todo laboratório de alquimista deve possuir. Esse ovo, que era uma retorta em forma oval perfeita e hermeticamente fechada, para que nada da matéria pudesse evolar-se, foi colocado por mim num tabuleiro cheio de cinzas e metido no forno. Desde então, esse mercúrio, graças ao calor e ao enxofre interior excitado pelo fogo que eu mantinha continuamente no grau e na proporção necessários, esse mercúrio chegou a dissolver o ouro sem violência e o reduziu ao estado de átomos. Ao fim de seis meses obtive um pó negro que denominei "trevas cimérias". Com esse pó foi-me possível transformar certas partes de objetos de metal vil em ouro puro, mas, ai de mim! O germe vital do meu purum aurum não era ainda suficientemente forte, pois nunca pude transformá-las em profundidade e completamente!
- -Mas o senhor procurou, meu padre, fortalecer esse germe moribundo? - indagou Alfonso de Peyrac, enquanto um relâmpago divertido lhe brilhava nos olhos.
- -Procurei, e em duas ocasiões creio ter estado muito perto da meta. Da primeira vez procedi assim: fiz digerir, durante doze dias, sucos de mercurial, beldroega e celidônia em estéreo. Depois destilei o produto e obtive um líquido vermelho, que voltei a derramar no estéreo. Nasceram vermes que se devoraram uns aos outros, ficando um sozinho. Alimentei esse verme único com as três plantas precedentes, até que engordasse. Então queimei-o e misturei suas cinzas com óleo de vitríolo e com pó das trevas cimérias. Mas tudo isso foi de pobre resultado.
- Que nojo! - exclamou o Cavaleiro de Germontaz.
Anahí lançou um olhar espantado a seu marido, mas este permanecia impassível.
- -E da segunda vez?
- -Da segunda vez tive uma grande esperança. Foi quando um viajante que havia naufragado em praias desconhecidas me entregou terra virgem que nenhum homem antes dele havia pisado, segundo me afirmou. Com efeito, a terra absolutamente virgem encerra a semente ou o germe dos metais, isto é, a verdadeira pedra filosofal. Mas, sem dúvida, aquela porção de terra não era completamente virgem - concluiu o sábio monge com ar lastimoso -, pois não obtive os resultados que esperava.
Agora também Anahí sentia desejo de rir. Um tanto precipitadamente, para mascarar sua hilaridade, perguntou:
- Mas você mesmo, Alfonso, não me contou que uma vez naufragara em uma ilha deserta coberta de brumas e de gelo?
O monge Bécher estremeceu e com olhos iluminados segurou o Conde de Peyrac pelos ombros.
- -Naufragou numa terra desconhecida? Eu bem que o suspeitava. O senhor é, pois, aquele de quem falam os nossos escritos herméticos, o que volta da "parte posterior do mundo, onde se ouve rugir o trovão, soprar o vento, cair o granizo e a chuva". É nesse lugar que se encontra a coisa.
- -Havia ali um pouco do que descreveu - disse com indiferença o gentil-homem. - Acrescentarei que também havia uma montanha de fogo no meio de gelos que me pareciam eternos. Nenhum habitante. São as paragens da Terra do Fogo. Fui salvo por um veleiro português.
- -Daria minha vida e até minha alma por um pouco dessa terra virgem! - exclamou Bécher.
- E pena, meu padre! Confesso que não me ocorreu trazê-la.
O monge lançou-lhe um olhar desconfiado, e Anahí viu muito bem que ele não acreditava.
Os olhos claros da jovem iam de um para outro dos três homens que se achavam diante dela naquele estranho ambiente. Encostado ao suporte de tijolos de um de seus fornos, Alfonso de Peyrac, o Grande Coxo do Languedoc, deixava cair sobre seus interlocutores um olhar altaneiro e irônico. Não se esforçava por ocultar o pouco apreço em que tinha o velho Dom Quixote da alquimia e o Sancho Pança enfitado. A vista daqueles dois grotescos, Anah o achou tão grande, tão livre e tão extraordinário que um sentimento excessivo dilatou seu coração até fazê-lo doer.
"Amo-o", pensou subitamente. "Amo-o e tenho medo. Ai, meu Deus! Que não lhe façam mal! Não antes... Não antes..."
Receosa, não se atrevia a completar seu desejo: "Não antes de me haver estreitado em seus braços".
Autor(a): Bela
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-O amor - disse Alfonso de Peyrac -, a arte do amor é a preciosíssima qualidade de nossa raça. Viajei por muitos países, e em toda parte vi que nos concedem essa primazia. Rejubilemo-nos, senhores, e vocês, senhoras, entonem a cabeça, mas tenhamos todos muito cuidado. Porque nada é mais frágil que esta reputaç&ati ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 109
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:35
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:19
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luccaitalo Postado em 25/09/2010 - 13:34:16
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:41
ops doca nao, dica!
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carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
carolvondy Postado em 07/09/2010 - 17:44:23
doca: coloca quem está falando na frente das falas.
ex.
anahi: ----------
ok?
fica mais fácil de entender quem está falando cada fala! -
unposed Postado em 16/08/2010 - 17:16:23
Ai ela ta começando a ficar com ciume dele, que fofo!
Posta maisss!