Fanfic: Muito Amigos!!! (terminada)

- Você está
despedido!

Tendo a
audácia de parecer surpreso, Horace a enfrentou.

- Ei! Você não
acha que está exagerando?

Exagerando?
Que nada. Exagero seria pular em seu pescoço e esganá-lo!

Ela estivera
fazendo strip-tease a semana inteira no site da internet, e mesmo ciente disso, Horace não se dera o trabalho de
avisá-la.

Ninguém que
tentasse transformá-la em uma strip-teaser
on-line escaparia com vida depois disso. Precisava avisar Alfonso para ir
em frente. Anahí começava a adorar aquela idéia dele de vingança contra os Três
Comandos.

E, embora
fosse uma atitude insignificante e puramente infantil que não resolveria seu
problema, os Três Comandos estavam pedindo por aquilo.

Além disso,
ela precisava falar com Alfonso e tentar clarear o clima entre os dois. Mas em
primeiro lugar, lhe daria carta branca para acabar de vez com aquele bando de
canalhas desocupados.

Seria um
prazer fazer isso.

Alfonso
encarou Anahí na tela do computador, restabelecida ao estado anterior, usando o
mesmo vestido marrom, feio e conservador, e de bandeja em punho.

Deveria estar
se sentindo orgulhoso, satisfeito consigo mesmo pelo feito. Conseguira refazer
o site em apenas duas horas e trinta
e sete minutos.

Mas Anahí nua
era melhor, concluiu. Não aquele corpo impostor, mas no seu verdadeiro corpo,
macio curvilíneo e cor de pêssego. Era muito mais interessante vê-la nua do que
dentro daquele geio vestido marrom que ela escolhera para usar no site original, agora restabelecido.

Reprovou-se.
Não era no que ele deveria estar pensando agora, mas não podia evitar aquela
imagem assaltando sua mente, tampouco o replay mental do beijo que haviam se dado.

Precisava de
desculpar. Porém não que se desculpar. Queria prendê-la no quarto e mantê-la
tão sexualmente satisfeita que ela não pensaria em deixá-lo nunca mais.

A idéia tinha
seu mérito. Mas decerto era ilegal.

No entanto, se
Anahí estivesse disposta...

Claro que isso
não iria acontecer.

Levantou-se e
esticou os braços acima da cabeça. Embora, em algum momento, ele tivesse
substituído o short de pugilista pelo short caquis, não se dera ao trabalho de
vestir camisa. O apartamento estava um verdadeiro forno de tão quente, e era
assim desde que o ar-condicionado parara de funcionar. O proprietário do imóvel
ainda não se dignara a mandar consertar.

O suor rolava
pelo seu peito e testa, provocando cócegas. Foi para a cozinha, percebendo que
não comera nada, nem café da manhã e nem almoço, e agora estava faminto. Mas
quando ele decidia fazer alguma coisa, como encontrar algum rastro dos hackers, chegava a esquecer hábitos
mundanos como se alimentar.

Agora que
havia terminado, seu apetite voltou como uma vingança. Apesar do odor
desagradável saindo da lata de lixo na cozinha. Enrugou o nariz, retirou o saco
plástico preto, fechou-o e o arremessou pela lixeira no corredor dos fundos,
piscando quando o luminoso sol da tarde bateu em seus olhos.

De volta ao
apartamento, Alfonso borrifou um pouco de desinfetante no chão e sentiu-se
melhor quanto à coisa inteira. A cozinha agora estava razoavelmente limpa. Anahí
sentiria orgulho dele.

Alfonso comia
flocos de milho com banana amassada quando alguém bateu na porta. Bateu
furiosamente. Quem poderia ser? Não, ela não voltaria. Ou será que voltaria?
Despejou o restante dos flocos de milho com banana no lixo, após uma última
colherada, e quase tropeçou nos próprios pés nus a caminho da porta. Se fosse Anahí,
se aquela fosse a sua segunda chance com ela, prometeu a si mesmo fazer de tudo
para agradá-la. E seduzi-la.

Não! Nada
disso! Ele iria se desculpar e manter as malditas mãos longe dela. Palavra de
escoteiro.

Abriu a porta.

Só que Alfonso
nunca fora escoteiro.

Anahí parecia
uma porção de sundae de chocolate.
Ele desejou lamber cada centímetro dela.

- Oi
Pimentinha. De volta tão cedo?

Com as mãos
nos quadris, os lábios sem batom, ela batia o pé com impaciência. Um tipo de
desesperado de paixão irradiava de seus olhos azuis; Alfonso, porém, não era
idiota bastante para acreditar que aquela paixão fosse por ele. Anahí nunca o
fitara com um convite naqueles olhos amendoados. Sua voz jamais adquirira
aquele tom rouco ao dirigir-se a ele, nem o abraçara como se abraçasse um
amante. A fantasia  que tivera com ela
certa noite voltou-lhe à memória.

-
Infelizmente, eu não tive escolha... - Anahí colocou a mão aberta em seu peito e
o empurrou, afastando-o do seu caminho, e entrou no apartamento.

Alfonso não
fazia idéia do que ela iria dizer, sabia apenas que não seria o que ele
gostaria de ouvir. Que era: rasgue minhas roupas... me livre delas! Mas era
nítida sua intenção de ignorar os acontecimentos daquela manhã.

Seus lábios
sedutores tremeram.

- Eu estive
nua na internet durante uma semana, Poncho. Uma semana inteira! Um cliente
cancelou, aliás, não apenas um, mas vários deles. Meus empregados estão
imprimindo minha fotografia nua, e meu pai viu o site. Meu pai!

Seus enormes
olhos azuis lacrimejavam.

Definitivamente,
aquilo não era o que ele queria ouvir. Em troca, ela estava tendo um ataque de
nervos. O fato de Anahí perder o controle era mais que alarmante, era
assustador.

Alfonso
colocou as mãos em seus braços e os esfregou suavemente, tentando acalmá-la.

- Psiu,
meu anjo, está tudo bem. Eu refiz o site. Tudo voltou ao normal.

- Obrigado. -
Ela fungou, então mordeu o lábio, tentado fazê-los parar de tremer. - Mas eu
ainda quero vingança. Como você disse há pouco. Quero acabar com os Três
Comandos.

Alfonso ficou
atordoado, em silêncio momentâneo. Aquilo era bom ou ruim? Libertar toda aquela
ansiedade talvez fosse um grande alívio para Anahí. Por outro lado, também
poderia levá-la ao limite, a um lugar onde antidepressivos eram indispensáveis.

Um pouco
inseguro, ele disse:

- Julguei
tê-la ouvido dizer que estava muito ocupada.

Ela deu de
ombros, e ele libertou-lhe os braços. As lágrimas e o tremor nos lábios tinham
parado, e Anahí parecia ter recuperado o controle sobre si.

- Minhas
planilhas eletrônicas de inventário podem esperar.

Alfonso a
estudou com cautela. Exceto sua reação histérica diante da invasão no site do
bufe, ela agia normalmente em relação a ele. Isso significava que o perdoara
por haver avançado o sinal?

- Escute, nós
estamos bem? Você e eu? Estamos como éramos antes?

Anahí corou e,
desajeitadamente, afastou o cabelo do rosto.

- E por que
não estaríamos? Oh, você quer dizer, anteriormente. Por causa daquilo?

- Sim, é isso.

- Saiba que
lamento muito o que aconteceu.

Alfonso
acariciou-lhe o rosto.

Anahí respirou
fundo.

- Pois eu não.
Nem um pouco, aliás.

- Mas deveria.
Aquilo foi um erro. Não era para ter acontecido.

Ele deu de
ombros. O embaraço dela era óbvio, e não suportou vê-la assim. Deveria estar se
sentindo mal com tudo aquilo. Havia mexido com sua melhor amiga naquela manhã.
No entanto tinha de admitir que gostara demais daquilo. Ainda podia sentir nos
lábios seu calor gostoso, a curva de suas costas contra seu tórax, suas nádegas
contra seu baixo ventre.