Fanfic: Muito Amigos!!! (terminada)

Com a cabeça apoiada no ombro de Alfonso,
Anahí relutou em abrir os olhos. Queria aproveitar para desfrutar mais um pouco
seu calor, o aroma de sua loção após barba, o ritmo de seu coração, a textura
de sua pele.

Por fim, entretanto,
se desvencilhou dos braços másculos e pegou o lençol para se embrulhar nele.

Durante a
última hora, Alfonso tinha estado morto para o mundo, mas ela não conseguira
dormir. A mente a mil por hora, o corpo exausto, satisfeito e dolorido, e a
realidade, lentamente, começava a invadir sua imensa felicidade e atormentá-la.

Não fazia
idéia que horas eram. Provavelmente havia mil coisas esperando-a no escritório,
e Dulce devia estar preocupada com sua longa ausência, decerto acreditando que
ela fora atropelada pelo caminhão de lixo.

Alfonso não
tinha um relógio na mesa-de-cabeceira, um fato que não a surpreendeu. Ele não
era exatamente ligado às convenções normais de compromissos, como a maioria das
pessoas. Pessoas como ela. Se se inclinasse um pouco, poderia enxergar o
relógio no computador.

Segurando-se
na borda do colchão, Anahí inclinou-se para a frente, quase caindo fora a cama.
O relógio marcava quinze horas e cinqüenta minutos.

Sua primeira
reação foi pular da cama. A segunda, reprovar a si mesma.

Minha nossa!
Como pudera passar o dia na cama com Alfonso, estando à beira da falência e
tendo negócios para resolver e um bufê para administrar?

Mordendo o
lábio, Anahí se moveu cuidadosamente, começando a procurar por suas roupas. Não
queria acordar Alfonso nem deixá-lo só, mas não podia esquecer as próprias
responsabilidades. Havia um jantar para ela servir, em um evento programado
pelas senhoras do Social Club, e marcara para estar no local às cinco horas.
Precisava chegar lá naquele horário. Não podia se atrasar.

O clube ficava
a uns vinte minutos dali, e Anahí ainda tinha que passar em casa e trocar de
roupa. Caminhando nua pelo quarto, vagarosamente, pé ante pé, desejou saber se
os olhares ardentes de Alfonso tinham desintegrado suas roupas, já que elas
pareciam haver desaparecido. Tudo o que conseguia ver espalhado ao redor eram
um pé de sandália e sua blusa.

Vestiu a blusa
apressadamente, sem o sutiã, e embrulhou o lençol em tomo da cintura. Olhou
para Alfonso, certificando-se de que não o acordara. Ele continuava como ela o
deixara, o braço musculoso sobre a cabeça, o ritmo de sua respiração
confirmando que ainda dormia.

Suspirou. Alfonso
era um homem atraente. Talvez fosse uma boa coisa ela precisar ir embora, caso
contrário ficaria tentada a se atirar em seus braços e implorar para que ele a
deixasse ficar para sempre.

O que, se o
sexo não tivesse arruinado a amizade deles, certamente aconteceria.

Precisando ir
embora, Anahí evitaria aquela conversa embaraçosa com Alfonso, na qual, ela
presumia, ele a lembraria de que aquilo que eles partilharam fora uma simples
transação, de um só dia.

Desde que
havia uma forte suspeita de que a tal conversa seria tão divertida quanto levar
um soco no estômago, estava grata pela chance de ser poupada de participar dela.
Se conseguisse sair do apartamento naquele minuto, talvez no dia seguinte eles
poderiam agir como se nada tivesse acontecido.

Mas de uma
coisa Anahí podia se orgulhar: era boa em evitar coisas que preferia não
encarar. Não fora tão bem-sucedida evitando por tanto tempo a atração que
sentia por Alfonso?

Anahí flagrou
um relance seu no espelho do armário e deu um pulo para trás, levando a mão à
boca. Sua aparência não parecia como se nada tivesse acontecido com ela. Dando
um passo cauteloso adiante, olhou rapidamente para o cabelo despenteado, o
rosto lavado, o leve inchaço nos lábios, que os deixavam rechonchudos, e para a
blusa amassada, agarrada no peito.

Aquela mulher
diante dela, no espelho, tinha toda a aparência quem passara o dia inteiro na
cama fazendo o melhor sexo de sua vida. Aquela mulher encarando-a parecia
completamente satisfeita. Aquela mulher parecia totalmente relaxada e
apaixonada.

Anahí gostou
dela. Queria manter aquela expressão no rosto ao ir embora.

Só que ela
estava atrasada e, para piorar as coisas, por mais que procurasse, não
conseguia encontrar o sutiã, a calcinha, ou o que restava dela, e a calça
Capri.

Tropeçando no
lençol embrulhado ao redor dos quadris, pegou o telefone de mesa de Alfonso
para conferir seus recados na secretária eletrônica. Enquanto procurava sua
calça no chão, ouviu a voz de Dulce, perguntando onde ela estava e quando
pretendia retornar ao escritório. Então, Dulce sugeriu que ela conferisse seu e-mail antes que decidisse levar a cabo qualquer plano de vingança contra os hackers.

Anahí parou de
procurar embaixo da cama pelas suas roupas e praguejou baixinho, enquanto
desligava o telefone. Arrastando o lençol atrás dela, ligou o computador de Alfonso
para verificar o e-mail, como Dulce sugerira. Tomou a verificar as
horas. Droga! O tempo voava quando se estava com pressa. Depois de apagar as
várias mensagens de e-mail sem importância, parou em uma sem título.

Queira nos desculpar. Serviço de bufê errado.

Masvocê fica fantástica usando nada mais que um
sorriso.

Os Três Comandos.

Após um
momento de choque, Anahí ficou abismada, depois achou graça na coisa toda.
Então era isso. Um pedido de desculpa era tudo que ela ganhava após ter sido
sujeitada à humilhação e à ruína financeira? Apenas uma morna desculpa?

Uma risada
chocada escapou de sua garganta antes que ela pudesse evitar. Clicou no
remetente para ver se havia endereço de retorno. Claro que não havia. De alguma
maneira, eles conseguiram enviar a mensagem sem o endereço do remetente. Tinha
certeza de que, se tentasse a tecla reply, para enviar uma mensagem
malcriada para eles, a mensagem cairia no seu próprio e-mail.

Não que ela
soubesse o que dizer a eles. "Da próxima vez, tente peitos melhores"
provavelmente não seria uma boa idéia .

- O que você
está fazendo?

Anahí girou o
corpo. Alfonso se encontrava sentando na cama, bocejando, embora parecesse
pronto para devorá-la toda novamente. O fogo se atiçou dentro dela, evocando
lembranças daquela tarde. O banho. O vapor. As mãos dele. A boca. O intenso
prazer. Em seguida o alívio.

- Durma, Alfonso.
Eu preciso ir embora - disse ela.

- Tão cedo?
Mas nós ainda não fizemos na sala...