Fanfic: Tú, solo tú ♥

Algumas horas depois, alguns muitos copos de bebidas depois, as
gargalhadas que saiam da mesa delas eram mais altas que a música que
tocava ali. Ivalu acabara por cochilar apoiada no ombro de Nica, que,
divertida, esticara os braços e dançava sem sair do lugar. Sam chorava
a lágrimas de crocodilo pelo término do seu antigo namoro e Paty
brincava atenciosamente com o canudo de seu copo, notando logo que
Dulce abraçara Paty e começara a chorar com ela.

Paty: No, no, no! Que passa? Você também esta mal, Dul? — levou uma mão a
boca e fez uma cara exageradamente preocupada, que se tornou engraçado
aos olhos de Sam e a fez rir.
Sam: Você parece um boneco de posto! — deu uma risada — Que medo.
Paty: Cala-te! — sorriu de boba — Vamos lá, Dul, nos conte o que se passa!
Dulce: Ai está você, em todas as partes, em todas as coisas...,
eu escrevi... — ela abriu um sorriso triste e tragou outro gole de
bebida, notando como agora todas as amigas, menos Ivalu, a encaravam
atenciosas. — Em todos os cheiros, em todos os sabores. Aí está você, no canto do vento. Você no ruído do trovão, na suavidade da chuva. — sentiu as lágrimas outra vez tomando conta de seus olhos negros e
procurou um cigarro sobre a mesa, o acendendo e prosseguindo: — Você
na fragilidade de uma flor, na intensidade de um vulcão. Aí está você,
no mar indomável. Aí está em cada onda que arrebenta. — suspirou, levando o fumo a boca e soltando um fio de fumaça cinza pela mesma. — Em cada grão de areia, aí está você. Na sabedoria de uma árvore que ri de mim por pretender saber algo de amor. Tudo o que sei é que sempre está você. — olhou para baixo, respirando fundo para conseguir terminar o que começara: — Mesmo que eu resista,
aí vou com a corrente do rio que me leva a você. E na primavera está
você com o seu sorriso, com girassóis nos olhos que só em você
encontro. E passa o tempo e continua estando você.

Dulce deu um tapa na própria cabeça e jogou o cigarro fora, pegando uma garrafa de água e dando um gole.

Dulce: Eu fui uma idiota. O que ele vai pensar quando ler isso? Sou uma
estúpida, ridícula! Fico sem vê-lo durante oito anos por culpa minha e
apareço assim do nada, procurando-o com uma necessidade absurdamente
estranha! — voltara a chorar.
Sam: Dulce...
Dulce: E sabe qual é o pior? Durante oito anos me odiei, tive asco de estar na
minha pele, porque sou uma imbecil! O tratei como um amante, como um
Deus em um dia, e no outro lhe tratei como o pior dos vermes,
pisando-lhe com meus saltos e respondendo com desgosto... Que tipo de
pessoa eu sou? — Paty entregou-lhe um guardanapo sem falar nada — Não
comentei com ninguém. Guardei tudo isso para mim mesma. Sofri
intimamente, me feri intimamente, me matei intimamente. Nunca fui
daquele jeito com ninguém... Sempre fui eu a ser pisada, jogada fora,
traída, humilhada! Sempre fui eu que odiei quem fazia isso com os
outros e sempre fui eu que ansiava um homem que me entendesse e que me
quisesse pelo que eu era, não por quem eu era! — começou a soluçar,
levando uma mão a boca e fechando os olhos — Ele me deu tudo. Atenção,
paciência, até mesmo carinho quando eu precisei. Ai tudo fugiu do nosso
controle! Ciúmes, atração, desejo, uma paixão estranha e ardente... Uma
necessidade enorme, um medo assustador. Mas ele era paciente! Ele
agüentava os meus ataques, agüentava os meus tapas, até mesmo meus
xingamentos. Durante tantos dias ele era ferido pelas minhas palavras
ásperas e todas às vezes quem voltava atrás, mesmo sabendo que era o
correto da situação era ele! E eu sempre tão mesquinha, tão orgulhosa!
— levou uma mão aos olhos, tentando escondê-los de tanta vergonha. —
Prometi para mim mesma que iria esquecê-lo. Iria ignorá-lo e viver
minha vida, pouco me importando se para isso precisasse morrer cada dia
mais.

Dulce: Fui tão egoísta a ponto de não notar o quanto ele tinha
se moldado a mim. Como ele havia perdido antigos costumes, antigas
diversões... Por mim! E eu sempre sendo uma gárgula, pisando,
esmagando e atirando palavras duras contra ele, sem notar o quanto eu
estragava tudo. Como eu levava tudo direto para um abismo! E
ele me quis até o último momento... Mesmo eu sendo essa vaca idiota que
eu sou! Anahí namorava Rodrigo, Maite estava casada com Guido,
Christian e BJ tinham assumido, Poncho tinha sempre suas namoradas,
suas mulheres... E Christopher? Claro, ele saia com várias mulheres,
passava a noite com várias... Porém quando começamos a ficar juntos, a
mudança na personalidade dele foi tão bruta que me assustei, não
conseguindo notar que ele, de verdade, havia mudado por mim. Fiquei com
tanto medo, tão fragilizada, que qualquer coisa era razão para ficar
irritada, e sempre andava com neura de tudo relacionado a ele... E
estava tão cansada de sofrer por outros homens que criei uma barreira
para não sofrer com ele. E eu estava apaixonada durante todo aquele
tempo e só fui perceber no último segundo, quando já me atirara do
penhasco sem pára-quedas. Pensei que sairia intacta se terminasse tudo
com ele e começasse a namorar outro, e então, como se Deus tivesse
tentado me mandar um sinal, apareceu Pablo. Novo, bonito, simpático...
Juro que pensei no momento em que o conheci: “tenho que me apaixonar
por ele”. Tenho. Tentei. Fui à melhor das namoradas, super
sorridente, super carinhosa. Abraçava-o em um minuto, o beijava em
outro... Mas era tudo tão falso. Meu coração parecia de plástico
naqueles momentos que passava ao lado dele e eu juro que me esforcei
muito para conseguir tornar o meu teatro em realidade. Porém onde eu
olhava, Christopher estava. Lançamento de CD, nova novela, novo filme,
nova namorada... Estava vendo como o meu medo, na verdade, era uma burrice. E eu me conformei.

Dulce: De tão idiota, me conformei que ele estava seguindo a
vida sem mim! E o que me doía mais? Saber que eu tinha construído uma
vida longe dele, ou ver como ele construía uma vida longe de mim?
Parecia tão natural, digo... Eu havia destruído tudo, então ele tinha
mais do que milhares de motivos para me odiar eternamente... Mas não,
ele não o fez. Até tentou conversar comigo, depois de todas as facas
que cravei em suas costas. Me deu a mão, me deu até mesmo tempo para
explicar... E o que eu fiz? Outra vez agi que nem uma estúpida,
fingindo como sempre estar bem, fingindo como sempre não precisar
dele... — e parou de falar de repente, olhando com os olhos vazios para
o teto, se abraçando devagar e murmurando com um pio de voz: — E
percebo tarde demais que preciso muito. Oito anos depois... — um
sorriso fraco e sem vida se formou nos lábios dela, se misturando com
as lágrimas já quase esgotadas — Todas aquelas noites que sonhei com
ele... Todos aqueles dias após os sonhos que acordei sentindo minha
pele ardendo, como se ele tivesse dormido ali, ao meu lado... Todas as
vezes que tentei me enganar, fugir... Porém sempre me peguei perdida em
pensamentos, pensando nele. Às vezes é como se existisse ele, e só ele.
E sabe qual foi o meu maior erro? Procurá-lo. Depois de tanto
tempo, resolvo aparecer na vida dele outra vez, sem mais nem menos,
escrevendo a porra de um poema desgraçado que há anos escrevi e
deixando em cima da mesa dele, sem assinatura, pois sou uma covarde.
Mas eu sei que ele vai saber que é meu, que fui eu que escrevi. Ele não
é tolo.

Dulce: Contudo não quero nem imaginar o que ele pensara ao meu respeito. “O que essa idiota quer comigo outra vez?”,
provavelmente será. E me dói... Dói-me saber que deixei outra vez esse
sentimento tomar conta de meus atos sendo que, como eu já disse, é tarde demais.
— murmurou: — E me dói saber que por mais que eu sofra, por mais que eu
esconda, e por mais que eu queira reivindicar tudo o que sinto, diante
dos meus olhos, ele continuara em todas as partes, em todas as coisas...