Fanfic: Tú, solo tú ♥

Normalmente, quando o seu celular tocava de manhã, Dulce tateava a cama
à procura de um travesseiro para cobrir o rosto para então abafar o
barulho causado pelo pequeno objeto e voltar a dormir e a sonhar...
Todavia, naquele dia, assim que a bossa nova tomou conta de cada canto
do quarto, ela se estirou na cama com os olhos entreabertos,
desesperada para encontrá-lo. E assim que achou, sorriu de imediato,
atendendo e escutando a voz que tanto esperava escutar durante uma longa semana através da linha.

Dulce: Como está ai? – por mais que estivesse acordada, sua voz saiu sonolenta e sabia que ele perceberia.
Christopher: Você estava dormindo? – bufou. – Eu deveria imaginar. Esse fuso horário me confunde!
Dulce: Não tem importância! – acrescentou rapidamente. – Me conte como está ai
na Suécia! Está muito frio? E os seus avôs? Estão bem? – a empolgação
dela era tanta que Christopher gargalhou, conseguindo controlar bem a
ansiedade que lhe deixara louco na semana que se passara e resolvendo
responder as perguntas, antes que ela desligasse na sua cara.
Christopher: Aqui está bem frio. Bem, bem, bem frio! Acho que uns -10ºC,
provavelmente. Estou parecendo um palhaço! Meu nariz está muito
vermelho... – e foi à vez dela gargalhar ao imaginar a cena. – Meus
avôs estão excelentes! Minha avó está preparando uma fornada de
biscoitos agora mesmo e o meu avô está na sala vendo TV...
Dulce: Você fez bem de ter ido visitar os seus avôs nas suas “férias”...
Prometi uma visita aos meus tem quase dois anos e até hoje não fui.
Sinto-me uma péssima neta.
Christopher: Bom, os seus avôs
moram ai do lado... Os meus moram em outro país. Então sim, você é uma
péssima neta. – brincou, sabendo que ela provavelmente estaria fazendo
careta e cruzando os braços.
Dulce: Obrigada, você me animou demais! – murmurou, dando a perceber a sua birra.

Christopher: Você sabe que eu estou brincando, pequena. Nas suas
férias, se você não for visitar os seus avôs por bem, vai por mal. Vou
puxando-a pelos tornozelos, ou sei lá... – sorriu de leve, esperando
que ela não percebesse a pequena indireta.
Dulce: Está bem! – sorriu também e escutou Christopher falando em sueco alguma
coisa para outra pessoa e ficou em silêncio, aguardando-o.
Christopher: Pequena, eu preciso desligar agora... Minha avó quer que eu vá ajudá-la
na cozinha. – e soltou um suspiro, parecendo frustrado. – Posso ligar
de novo para você mais tarde? Não conversamos direito e nem sei como
você está...
Dulce: Eu estou bem. – disse, enroscando-se no
lençol e sorrindo para o teto. – E pode me ligar mais tarde sim.
Cláudia quer sair de noite para comprar o presente de aniversário da
nossa mãe, mas me ligue sim...
Christopher: Então tudo bem?
Dulce: Tudo! – comentou alegre. – Pode ir cielo. Sua avó está o esperando...
Christopher: Vou deixá-la voltar a dormir. – e os dois riram. – Até mais tarde, pequena.
Dulce: Até.

Depois
daquela ligação, Dulce nem se esforçou para dormir, pois sabia que não
conseguiria. Ficou de pé e resolveu aproveitar o dia. Fazia tanto tempo
que não acordava cedo nos seus finais de semana que acabara por não
aproveitar nada o tempo que lhe era dado para relaxar. Mais tarde
ligaria para a irmã para combinar tudo direito e depois para alguma
amiga, para conversar um pouco. Ah, e também teria que ver com Cláudia
os últimos detalhes da festinha de aniversário que estavam preparando
para a mãe delas, e também torcia para que desse certo o que tanto
queria.
Estava torcendo para que Christopher regressasse ao México
para poder acompanhá-la na festa e tinha que comentar com Cláudia
aquilo, não podia esquecer.

Foi à cozinha, serviu-se de uma barra de cereal e de um copo de leite.
Com os dois na mão, voltou para o quarto, abriu as janelas e foi até o
closet procurar uma roupa de ginástica. Há tanto que não descia para a
academia de seu prédio para fazer alguns exercícios que ela deveria
estar enferrujada. Ela, Dulce. A academia estava em perfeito estado.
Desceu
até o lob, atravessou a piscina e chegou à academia que naquela hora
estava vazia. Agradeceu o sossego, ligou a TV e partiu para a esteira,
concentrando o olhar no televisor e vendo que reprisava as notícias
mais importantes da semana... Não demorou muito para uma foto sua
estampar os quatro cantos da TV e para um suspiro escapar de sua boca.
Estava demorando demais. Desde que saíra com Christopher, fotos e mais
fotos apareciam na mídia e notícias e mais notícias corriam de boca em
boca, de jornal em jornal e de revista em revista. Pelo menos ela
estava preparada para tudo aquilo. Não tinha sido fácil se acostumar
com a vida exposta, mas para quem começara uma carreira séria desde a
infância, uma hora ou outra ela teria que aprender a lidar com a
exposição de uma pessoa pública. Sua vida não poderia ser considerada
um livro aberto, e sim, um livro... Com algumas páginas destacadas. E
Christopher também era uma figura pública, o que era até melhor: se
fosse um desconhecido, todo mundo e o mundo todo estariam atrás dela,
tentando arrancar informações e detalhes do seu acompanhante e tudo
mais... Mas não Christopher. Bastava jogar o nome dele no Google que a
ficha inteira estava ali. Então estava predestinada a ficar respondendo
apenas a perguntas que envolviam a palavra namoro ou amor... E precisava elaborar respostas o quanto antes.
Assistiu
a matéria relâmpago que comentava sobre a sua participação no evento da
novela de Christopher e sorriu de leve, percebendo que pelo menos
aquela matéria tinha pegado leve. Não estavam insinuando uma paixão de
anos escondida ou marketing.

Anunciavam somente que eles chegaram juntos ao restaurante e que pareciam bem felizes (porque eles estavam!).
Um dia você precisava enfrentar tudo de frente, ela pensou.
Poderia
até parecer impossível – e sim, parecia demais -, todavia, as pessoas
amadurecem e vão perdendo aos poucos o medo do passado, dos dragões e
dos flashes. As pessoas amadurecem e um dia... Um dia...
O celular tocou mais uma vez e Dulce teve que parar de andar para pegá-lo e atendê-lo.

Dulce: Olá?
Cláudia: Acordei você?
Dulce: Hum, não, hoje não. – escutou um chiado de indignação vindo da irmã e
continuou em silêncio. – Acordei mais cedo e vim para a academia. É
injusto pagar por ela e não usá-la, não é mesmo?
Cláudia: Ok,
irei fingir que você acabou de acordar, que está com um péssimo humor e
que é a minha irmã de sempre. – disse ainda desconfiada. – Estou
ligando agora porque daqui a pouco o seu sobrinho vai acordar e ocupar
todo o meu dia, e como tenho que confirmar com você se nós vamos sair
ou não para comprar o presente da mamãe...
Dulce: Vamos sim.
Tinha marcado de sair com Sam, mas já passei para amanhã, não se
preocupe. Estou livre essa noite somente para você, hermana.
Cláudia: A famosa Dulce María abrindo um tempinho na agenda para mim, uau. Devo
me sentir honrada? – zombou um pouco, apenas para deixar a irmã
estressada.
Dulce: Para você ver como é importante. – retribuiu a brincadeira e outra vez escutou um chiado vindo dela.
Cláudia: Quem é você? – perguntou. – E o que Diabos fez com a minha irmã?
Dulce: Vá preparar o almoço do Lúcio que você ganha mais. – falou, dando uma
risada baixa e balançando a cabeça. – Vou desligar agora. Não fiz nem
dez minutos de esteira ainda.
Cláudia: Eu não sei o que aconteceu com você hoje, mas bem que você poderia passar a acordar todos os dias assim, não é mesmo?
Dulce: Vá para a merda. – foi o que disse antes de se despedir e desligar.

Conforme os dias se passavam, Dulce se mostrava cada vez mais empolgada
e disposta, não só nas gravações da novela, como nos preparativos para
a festa de sua mãe. Christopher lhe mandava notícias todos os dias e
ligava todas as noites para então ficarem longos minutos entretidos em
uma conversa singela e bem humorada. Com o regresso dele para a Cidade
do México, Dulce não continha a ansiedade, arrancando risadas de Sam
(que estava sempre ao seu lado) e até mesmo de Christian, que se
informara do quase-relacionamento que a amiga estava cultivando com outro amigo.

Christian: Engraçado. – ele falou em algum dia, durante o tempo livre das
gravações. – Você e Christopher pareciam uma causa perdida e agora
resolveram que não deixariam tudo como estava, de uma hora para a
outra...

E Dulce sorria como resposta. Dulce sorria para
qualquer coisa e sorriu ainda mais quando uma mensagem piscou no visor
de seu celular, avisando que o avião acabara de pousar no aeroporto.
Eles tinham combinado de se encontrarem no dia seguinte, pois
Christopher provavelmente chegaria cansado da viagem e gostaria de
relaxar e arrumar as coisas em sua casa, enquanto Dulce ainda precisava
terminar algumas cenas. Mesmo assim, ela se ofereceu para buscá-lo no
aeroporto, mesmo sabendo como atrairia a atenção de curiosos e como os
seus rostos estariam outra vez nas capas de revista. Ele recusou
educadamente, dizendo que ela não deveria se preocupar.
Ela não estava preocupada. Estava impaciente!
Quando
chegou em casa afundou-se em frustração quando discou para o celular
dele e recebeu a notícia de que ele se encontrava desligado. A solução
seria mesmo vê-lo no dia seguinte, que por sorte caíra em um sábado, e
tentar acalmar um pouco todos os sentimentos que vibravam em seu corpo,
pela ânsia do reencontro.

Dulce beliscou alguma coisa qualquer na cozinha, seguindo exausta para
o quarto e entrando no banheiro. Ligou o chuveiro e aproveitou para
ligar o som em uma altura que não poderia ser considerada aceitável,
ainda mais em um prédio, contudo deu de ombros e entrou debaixo da
água. Escutou o telefone a tocar algumas vezes, mas não fez questão de
se preocupar em atendê-lo, acreditando que seria Cláudia, por isso
voltava a cantarolar a música que o vocalista do Gun’s and Roses
cantava aos berros e ensaboar o corpo.
Arg, estava virando uma
adolescente outra vez! ... Ou estaria virando uma adolescente pela
primeira vez em sua vida? Suspirou durante o banho, esfregando os
braços com a bucha e se atolando em pensamentos. Sua adolescência não
fora as melhores, e daquilo ela tinha certeza. O “sucesso” do seu grupo
musical da época, os olhares tortos das companheiras, a perseguição de
jornalistas e tudo aquilo junto com as primeiras menstruações não
obtiveram resultados bons como deveriam. A sua insegurança, o seu medo
e o seu orgulho nasceram junto com a Dulce adolescente e continuavam
instalados no corpo e na alma da Dulce adulta. Como uma garota de tão
pouca idade conseguia lidar com o peso do mundo nas costas? E aqueles
olhares? E aquelas palavras? E aquela pouca de fé que colocavam nela?
Deus, quando que as pessoas que tinham lhe tacado pedras após pedras
acreditariam que um dia ela chegaria ao patamar em que se encontrava?
Dulce Maria, a atriz, a cantora, a escritora, e não Dulce Maria, a
pseudo-qualquer-coisa, a quase-famosa, a nem-um-pouco-promissora. Agora
ela era uma verdadeira mulher, pois passara por tantas magoas, tantas
batalhas e tantos processos de amadurecimento, que agora se
transformara em uma mulher. Com as suas incertezas? Sim. Com os seus
temores? Sim. Com o seu orgulho? Sim. Mas também com mais determinação
do que nunca, como também com mais confiança em si e nas suas escolhas
e com mais fé.

Nunca fora uma pessoa de sentar e esperar Deus resolver colocar rosas
em seus caminhos... Sempre fora aquela de fazer e acontecer. Corria
atrás de seus sonhos, não corria? Se ela ainda estava ali,
depois de tantos desaforos, era porque ela tinha garra e uma maleta
cheia de sonhos... Deus, ela estava ali! O seu maior prêmio estava
diante de seus olhos, era palpável e real. Tinha conseguido tudo o que
sempre sonhara e um pouco mais! E era uma mulher. Uma mulher que se
arriscaria, quebraria a cara mais e mais vezes e poderia se perder no
meio do caminho... Mas que nunca desistira de seus sonhos.
E naquele momento, quando fechava os olhos para sonhar, tudo o que vinha em sua cabeça era a imagem de... Christopher.