Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

- Bem, talvez ajudasse se tentassem
trocar algumas informações. - Ucker esperou que os dois o fuzilassem com os
olhos antes de falar com uma entonação perfeita para ralhar com adolescentes. -
Poncho, você podia contar a Annie um pouquinho sobre a sua empresa. E, Annie,
você podia contar ao Poncho por que o grupo de terapia representa tanto para
você a ponto de abrir mão do aluguel de metade de um andar...

- De que lado você está?

- Não tomei partido de ninguém. Você é
minha irmã, ele é um dos meus amigos mais antigos e trabalhamos juntos.
Portanto, isso me transforma na Suíça; eu sou neutro.

- Então por que isso é tão importante,
hein?

Annie ignorou a pergunta de Poncho e
continuou a encarar o irmão. Como ele pôde!

Pelo menos Ucker teve a elegância de
se mostrar arrependido antes de começar a enrolar a planta e guardá-la num
cilindro de couro.

- Talvez você devesse dar uma trégua
durante as seis semanas que levarão para reformar esse lugar.

- Talvez você devesse tentar cuidar da
própria vida.

- Bem, veja, é o que eu faria, mas
tenho que trabalhar com vocês dois nesse projeto. E não estou bancando o
mediador. Já tenho meus próprios problemas.

Tinha mesmo? O sr. Perfeito? O sr. Sem
Problemas? Ucker usava a coroa dos Portilla com facilidade. Annie olhou
enviesado para Ucker.

- Que tipo de problemas?

- Problemas com mulher, aposto.

Annie lançou um olhar fulminante para Poncho.

- Porque somos a raiz de todo mal, não
somos?

- Vocês querem se ouvir? É ridículo! -
Com frustração na voz, Ucker apontou para Poncho. - Ele ergueu uma empresa de
construção bem-sucedida do nada enquanto você esteve fora. - Depois, para Annie.
- E ela andou trabalhando com garotos que têm problemas de auto-estima
porque...

- Ucker!

- Certo. Mas vocês precisam conversar.

Ao notar a tristeza do irmão, ela
sentiu um aperto no coração. E apesar de ele quase entregar seu maior e mais
sombrio segredo numa bandeja para Poncho, ainda assim ela não conseguiu se
impedir de tentar ajudar quando ele se mostrava tão angustiado. Especialmente
quando isso estava tão fora de parâmetro. A angústia era o território dela.

- Talvez você devesse experimentar seu
próprio con­selho, maninho... Já pensou nisso?

- Dulce é tão apaixonada por você
quanto você e por ela, sabe disso.

Poncho uniu-se ao "time" de Annie
pela primeira vez em mais de dez anos. E Annie não pôde deixar de sorrir com
ternura para ele.

- Isso ficou muito óbvio na festa. Poncho
retribuiu o sorriso.

- Meio enjoativo, porém.

- Bom, sim, olhando de fora pode ser.

- Tudo bem, podem parar agora. Acho
que prefiro quando vocês discordam. - Ucker também sorriu. - Lem­bra-me dos
velhos tempos, quando vocês implicavam comigo o tempo inteiro.

- Ah, sim. - Annie riu. - Coitado de
você. Em primeiro lugar, se você não me ameaçasse, eu não precisaria de
proteção. Você cavou a própria cova.

- Você era a única garota. Os garotos
deviam se unir para implicar com você, é um direito dessa fase de tran­sição.
-Apontou para Poncho. -Até você começar a bancar o defensor do sexo frágil para
cima de mim.

- Ela era menor que a gente. Eu só
equilibrei as des­vantagens, mais nada. - Poncho soltou a mesma gargalhada
sincera de quando ela o encontrou no corredor com Moggie. - E o ajudei daquela
vez, quando você escondeu todas as roupas dela quando fomos nadar de madrugada.
Annie deu-lhe uma cotovelada nas costelas.

- Você me disse que não tinha nada a
ver com aquilo. E eu fiquei gripada durante uma semana!

- E
ele não levou mel com limão para você todas as noites para compensar? A grande garota...

Eles riram ao mesmo tempo. E, pela
primeira vez, desde que conduziu o carro para fora da balsa, Annie sentiu-se em
casa. Era o tipo de coisa que dava mais saudade: os três contando histórias e
rindo juntos. Mas foi ela própria quem mudou tudo, sabia disso. Assim como ain­da
sofria a perda daquela intimidade.

Ucker tomou fôlego antes de meter a
planta debaixo do braço.

- Bons tempos. Podíamos relembrá-los
com mais freqüência agora que você voltou, garota.

Annie arriscou um olhar de soslaio
para Poncho e flagrou-o a observá-la com uma expressão pensativa. E, de súbito,
foi patético constatar que era preciso uma terceira pessoa para fazê-los ficar
na mesma sala juntos sem discutir.

- Preciso ir andando. Vejo vocês mais
tarde. Annie fitou-o, preocupada.

- Converse com a Dulce.

- Tentem não se matar na minha
ausência. Quando Ucker levantou, todos caminharam juntos até a porta.-E
depois que ele saiu, Annie respirou fundo antes de fazer uma última tentativa.

- Uma trégua de seis semanas, então.

- Isso não vai mudar o passado.

- Bem, se você não está disposto...

- E você está?

- É o único meio de descobrir.

Após um longo momento silencioso de
tensão, Poncho aproximou-se, escancarou a porta e olhou para trás. O sol
refletiu nos cabelos desalinhados e a expressão dele era indecifrável. Em
seguida, surpreendeu Annie ao estender-lhe uma das mãos largas.

- Alfonso Herrera.

Sem perceber, Annie tomou a mão dele e
observou os dedos longos abarcarem os seus, envolvendo-a numa calidez que
irradiou ondas de sensação pelo braço. Annie mergulhou no azul dos olhos dele
e, risonha, respondeu confiante:

- Anahí Portilla. As pessoas me chamam
de Annie, quando não me chamam de peste.