Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Poncho descobriu que subestimara o
quanto Annie podia ser chata quando lhe dava na telha. Ou será que ela não
enxergava a própria aptidão para chatear!

Sem saber porquê, duvidou desta.

Entre flertes e insinuações, e a
interminável coleção de jeans e camisetas justas nos quais Annie aparecia todo
santo dia, até que ele andava resistindo muito bem ao impulso de jogá-la nos
ombros e trancá-la em algum canto para impedi-la de distrair os operários e a
ele próprio. Porque, pelo andar da carruagem, as seis semanas do plano genial
de Ucker facilmente se transformariam em três ou quatro meses.

E Poncho não esperava passar tanto
tempo assim vendo Annie em ação. Por mais que, em segredo, ele achasse isso
muito divertido.

Observou quando ela colocou as cartas
na mesa de pôquer, um sorriso triunfante no rosto ao anunciar empolgada:
"Podem olhar e chorar, rapazes: royal flush." Depois ergueu os braços
e fez uma provocante dança da vitória, mexendo o corpo esguio de um jeito que
atrairia o olhar de qualquer sujeito para os seios arredondados na apertada
blusa verde que ela vestia. Pelo menos foi o que Poncho disse a si quando ele
mesmo olhou.

Após repetir para si próprio que Annie
deveria estar acostumada à atenção masculina, permitiu-se olhar um pouco mais.
Entretanto, quando começou a imaginá-la menos vestida, concluiu que era hora de
parar...

Ah, ela era mesmo um problema.

Emburrado, Poncho espiou os outros
para certificar-se de que os olhos alheios não perambulavam pelo mesmo lugar
que os seus. Até dois dias atrás, todos pareciam não desgrudar os olhos dela.
Mas agora, ouviam-se apenas gemidos em torno da mesa improvisada. Assim, Poncho
balançou a cabeça e guardou o baralho.

- Eu devia pagar o salário deles
direto para você e poupá-los de vê-la se vangloriando.

De início, o ritual diário da partida
de pôquer no intervalo do almoço foi alegremente recebido pelos operários.
Afinal, a presença de uma bela mulher animava muitíssimo o ambiente de
trabalho. Eles jamais recusariam algo que ela pedisse com um piscar daqueles
cílios longos e um requebro dos quadris quando se aproximava, especialmente
quando começou a providenciar canecas de chá, bolos sem fim e a própria
jovialidade. Até Annie começar a depená-los.

Contudo, Poncho não estava satisfeito
com o modo como eles flertavam com ela, mesmo quando eram depenados. Devia
haver um limite para aquele senso de humor. Fora o fato de ele descobrir que aquilo
o aborrecia.

- Você é um desses tubarões das
cartas, não é? - Sean, o capataz, sorriu para Annie. - Ainda bem que não
aceitou jogar strip pôquer quando sugerimos, ou todos nós estaríamos mortos de
frio a essa altura.

Poncho notou que Sean se aproximou um
pouquinho dela. Força do hábito, mais nada. Mesmo depois de tanto tempo, ele
ainda tinha uma espécie de radar interno quan­do outros homens paqueravam Annie.
E o impulso de ar­rancá-la dali e levá-la para casa, portanto, era um tipo de
reflexo condicionado. Igual ao cão de Pavlov.

- Eu avisei. Mas você não quis ouvir.
- E a advertên­cia foi concedida com um olhar fulminante que dizia que quem
tornasse a mencionar o strip pôquer trabalharia na neve para o resto da vida.

O chato seria estar cercado de gente,
caso houvesse a menor possibilidade de Annie despir peça por peça, lenta­mente,
revelando cada pedacinho da pele macia, aquelas longas pernas e os seios fartos
e...

Agora, se estivessem a sós... Bem...
Talvez ele até fi­casse tentado a trapacear em troca da recompensa visual.
Porém, a julgar pelo efeito que olhar para Annie vestida exercia sobre ele, uma
Annie nua o faria perder a cabeça.

Felizmente os rapazes desistiram.

E Annie sorriu com malícia.

Bem, ela podia pensar à vontade que
havia ganhado alguma coisa dele. Mas estava enganada. Contudo, para ser justo,
a presença diária dela o ajudava a se lembrar do quanto era divertida quando
lhe dava na telha. Era uma pena conhecer o lado sombrio da personalidade dela,
não é?

Annie levou uma das mãos ao ouvido, as
manchas dou­radas dos olhos cinzentos vibrantes de alegria.

- Oh, nossa, será que ouço a lamúria
de um perdedor contrariado?

Poncho guardou as cartas e piscou para
ela por simples implicância.

- Sabe o que dizem sobre as pessoas
que têm azar no jogo...

Annie riu baixinho.

- Nunca vi nenhuma prova
concreta disso.

- Pretende continuar roubando os
rapazes ou prefere um lugar para pendurar quadros bonitinhos até a próxima
virada de século?

Os quatro homens entenderam a deixa e
se levantaram. Assim que se afastaram, Annie encarou Poncho, tirando as sobras
e embalagens da mesa.

- Eles nunca falam mal de você, sabe?
É um bocado surpreendente, não acha... Considerando que eles conhe­cem você.

- Você está se arriscando para fora
dos limites do território neutro...

- Acho que isso talvez tenha algo a
ver com o fato de você trabalhar com eles, o que é uma coisa rara...

Poncho esperou. Porque havia mais, não
é?

Sempre havia.

Annie aproximou-se de Poncho,
empinando a cabeça para observar a sua boca com aqueles olhos lânguidos que o
distraíam tanto.

- Você me entende, para alguém que
possui uma em­presa tão grande como a Herrera Empreendimentos Imo­biliários, e
chegou ao topo da lista dos dez solteiros mais cobiçados da Irlanda no ano
passado... Nada menos que o terceiro lugar...

Poncho respirou fundo, sentindo o ar
impregnado pelo perfume dela.

- O sexto lugar andou me elogiando,
não foi?

- Que nada. Não falei com Ucker nos
últimos dias. Pesquisei seu nome no Google.

Poncho não conteve um acesso de riso.