Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

- Você me pesquisou no Google? Acho
que fiquei lisonjeado.                                                                    

- Não fique. Não foi como colocar o
seu pôster na parede do meu quarto ou coisa parecida, apesar de aquelas fotos suas
serem ótimas. Eles precisaram retocar muito?

- Engraçadinha. - Mas, na verdade, a
idéia de Annie perder tempo pesquisando a vida dele era divertida. - Se
precisar de uma inspeção mais detalhada para descobrir seja apenas boazinha
comigo e verei se posso encaixá-la na minha agenda.

- Simplesmente aceitarei a sua
palavra.

- O que será que acharíamos se
pesquisássemos o seu nome no Google?

Annie fez uma careta, mas foi a
maneira como o brilho nos seus olhos se apagou que deixou Poncho intrigado.

- Acho que nós dois sabemos exatamente
o. que en­contraríamos. E tenho certeza de que discutir isso vai nos tirar do
território neutro bem depressa.

Quando Annie tentou se esquivar, Poncho
estendeu a mão sem pensar e apertou os dedos dela, que olhou para ele desconfiada.
Poncho amarrou a cara, obrigando-se a conti­nuar seguindo as regras.

- Já que estamos brincando de
"fingir" que não nos conhecemos durante seis semanas, como eu saberia
o que encontrar? - Manteve a voz baixa. - Portanto, você pode responder quando
eu perguntar, ou eu posso pesquisar você, como achou que devia fazer comigo. - Poncho
percebeu que ela umedeceu os lábios do jeito que costumava fazer sempre que
queria pensar ou testar a paciência dele. Mas quando tornou a olhar dentro dos
olhos dela, viu um lampejo de algo que não reconheceu. Dúvida? Receio? Não. Era
algo novo. - Então, o que eu encontraria?

Annie pigarreou. E evitou o olhar de Poncho
ao responder baixinho, numa entonação rouca que o comoveu:

- Você encontraria uma garota a
caminho da autodestruição. - Sorriu com ironia. - Ela quase conseguiu. -Poncho
apertou-lhe a mão. - E uma das maravilhas da in­ternet é que, quando eu
tiver noventa anos, todas aquelas fotos lindas continuarão lá em algum lugar
para todo mundo ver. E eu nunca terei qualquer chance de evitar que os meus
filhos ou netos joguem isso na minha cara e digam: "Mas olha só o que você
fez." - Poncho continuava atento quando ela franziu o nariz, o sorriso
radiante a postos. -Ah, sim, claro. Dias melhores virão.

- E o que dirá a eles? - Poncho não
tinha a menor noção, pois jamais a imaginara com filhos um dia. E por que tal
idéia agora o fazia enxergá-la de outra maneira. - Já pensou nisso?

Poncho suspeitou que sim,
provavelmente com uma boa dose de introspecção, a julgar pela farsa que ela
acabou de encenar para esconder o quanto a idéia de aquela his­tória sórdida
permanecer à vista de qualquer um durante décadas a atormentava. Ousaria pensar
nisso? Será que a emoção que ele foi incapaz de distinguir nos olhos dela era
remorso? Talvez fosse até vergonha.

De um jeito ou de outro, ele realmente
não conhecia a mulher a sua frente, não é? Porque a Annie que conheceu não dava
a mínima para ninguém além de si. E qualquer um tolo o bastante para não
entender isso antes de ser tragado pela sensualidade irresistível, aquela
vocação constante para travessuras e ò amor hedonista pelas coisas boas da
vida, seria abandonado no segundo em que o vento mudasse. Poncho sabia porque a
vira fazer isso várias vezes, sem nenhuma vergonha ou remorso.

A expressão "ovelha negra"
parecia cunhada especial­mente para Annie. Caía feito uma luva.

- Talvez eu os mande para a casa do
tio Poncho, onde aprenderão tudo sobre a vida com aquele que tudo sabe.

- Assim eles verão a diferença entre a
garota que teve tudo e o sujeito que precisou trabalhar duro para subir na
vida?

O sorriso se apagou.

- Você ainda está mesmo um bocado
aborrecido. Sabe disso, não sabe?

- Ora, por que será? Para o próprio
mérito, Annie não deixou aquela resposta atravessada levá-la ao contra-ataque
que romperia a trégua.

- Você já estava assim antes que eu
usasse isso contra você, Poncho... E talvez saibamos exatamente porque usei
isso, se pensarmos bem. Mas daí a briga recomeçaria de novo, não é?

- Talvez seja bom seguirmos com a
trégua, então. Annie sorriu sem graça.

- Em especial porque já nos odiamos
bastante.

- Exato.