Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Annie não
sabia o que responder, mas não houve tempo para procurar as palavras
certas porque, no segundo em que os lábios de Poncho buscaram os seus, ela não conseguiu mais pensar. Ele fez de novo.

Era como enfrentar uma tempestade.

Poncho não foi tímido, nem gentil. Não
perdeu tempo explorando o formato da sua boca. Foi como seja a hou­vesse
beijado mil vezes em vez de uma só.

Entretanto, sentindo o turbilhão de
emoções revolver dentro do peito, Annie não queria gentileza. Fincou os dedos
no couro negro da jaqueta e se rendeu ao beijo, ávida pela boca de Poncho, como
se precisasse de oxigênio após per­manecer submersa por muito tempo.

E quando cada capricho dela
correspondia aos capri­chos dos lábios vorazes dele, Poncho rosnava baixinho,
beijando-a com todo entusiasmo.

Quando se detesta alguém, não se fica
excitada só de beijar, não é? Não é?Como isso poderia fazer sen­tido?

E por que diabos ela não reagia, lhe
dava um tapa e perguntava: "Como ousa?" Igual a última vez. Mas não
era como da última vez, certo? Agora ela compreendia o que significava o
turbilhão que se alastrou da cabeça aos pés, a sensação de que o sangue nas
veias transformava-se em lava e o anseio do ponto mais palpitante do corpo.

Porque, como mulher adulta, ela sabia
como era de­sejar um homem. Apenas não experimentara nada numa escala tão
avassaladora, exceto naquela outra ocasião.

Poncho recuou, segurou-a pela nuca e Annie
quase perdeu o equilíbrio, a boca em sincronia com a dele.

Quando abriu os olhos, viu que ele a
encarava o rosto a meros centímetros de distância. E, naquele ins­tante, ela
achou que Poncho lhe diria que foi tudo um erro ou que ganhara a batalha ao
provar como era fácil controlá-la com um simples beijo. Diria algo para que o
odiasse ainda mais.

-Não...

O lampejo de dúvida nos olhos de Poncho
foi breve, logo seguido por um vinco na testa.

-Não o quê?Não...

Não dessa vez.

Annie cravou os dedos na coluna grossa
do pescoço de Poncho para puxá-lo para si, antes de obrigar-se a repetir a
palavra.

- Não.

Annie passou a ponta da língua no
lábio inferior e ele tornou a rosnar. Porém, como Poncho segurou-a com força e
beijou-a com paixão, Annie compreendeu que não se tratava de um rosnado de
protesto. Apesar de tudo que havia de errado entre ambos, uma única coisa era
certa, oh, muito certa. Poncho era um porto seguro na tempestade, o corpo
musculoso era uma âncora à qual ela precisava desesperadamente -se agarrar.

E assim o fez. Annie aconchegou-se e
comprimiu os seios contra a muralha do peito de Poncho. Quando as línguas se
entrelaçaram, ela quase gemeu alto e fincou os dedos na­queles cabelos
desalinhados, colando os corpos. Com as mãos largas, Poncho contornou os
flancos do corpo de Annie, delineando a curva da cintura e depois o ondeado dos
quadris. Agarrou-a com ímpeto, a pélvis agora em contato com as coxas, a
virilidade pulsando aninhada no ventre.

E então ela gemeu de verdade, porque
foi tudo e nada ao mesmo tempo. Ela queria, não, precisava... Ela só...
Droga, aquilo não bastava! Queria mandar a precaução para o inferno e provar do
fogo que ardia entre os dois havia semanas. Queria se despir para ele e tocá-lo
à von­tade. Queria que ele fizesse o mesmo com ela até...

Apenas queria.

Como se ouvisse os seus pensamentos, Poncho
insinuou as mãos por dentro da blusa fina, os dedos longos agora espalhados
sobre a pele abrasada. Abraçou-a, puxando-a com mais força de encontro ao vigor
de sua virilidade, e ela tornou a gemer, implorando por mais sem usar uma
palavra. Afinal, as palavras eram a ruína dos dois. As palavras atrapalhavam
todo o resto, desde aquela noite horrível.

Rejeitá-lo foi o início de uma queda
vertiginosa, da qual custou-lhe anos para escapar. Quando, talvez, deve­ria
apenas se agarrar a Poncho...

Annie o sentiu arfar como se
precisasse tomar fôlego. E apesar de tentar prolongar o momento, era tarde
demais. Ele a segurou pelos quadris, repelindo-a antes de inter­romper o beijo.

Quando o encarou, Annie viu um lampejo
de raiva nos olhos dele. Notou como aquele olhar sombrio observava os seus
lábios machucados.

E, em resposta, umedeceu-os, passando
a língua na carne macerada como se tentasse conservar o sabor dele na boca.

Por sua vez, Poncho soltou outro
rosnado gutural, pas­sando uma das mãos no rosto.

- O que acha que quer de mim? Annie
engoliu em seco.

- Eu não sei.

- Eu acho que sabe.

Com olhar fixo nela, ele avançou um
passo enquanto Annie, conscientemente, não arredou pé, o queixo empinado quando
ele aguçou os olhos e deu um sorriso cruel.

- Acho que você quer perdão pelo
passado. Acho que é por isso que você voltou para casa, para início de con­versa.
E acho que você quer acabar o que começamos no balanço aquela noite.

- Agora você vai me dizer que não acha
a idéia inte­ressante também? - Com a cabeça, Annie indicou o volume abaixo da
cintura dele. - Não sou a única pessoa excitada por aqui, sou?

A honestidade crua fez Poncho amarrar
a cara. -Acha que pode me recompensar assim? É isso?

- Para você poder usar sexo como
vingança de novo? - Annie proferiu a pergunta em meio a um leve acesso de riso,
o que o fez compreender que ela não acreditava que fizera isso. E não
acreditava mesmo. Ele era íntegro de­mais.

Contudo, o que ela sabia? Annie
imaginou que não sabia nada. Não depois daquele beijo. Não parada ali,
olhando para ele e desejando beijá-lo loucamente mais uma vez.