Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

- Você ofereceria a si mesma? Desceria
tanto? Acha que eu quero qualquer tipo de sacrifício na minha cama?

- Você adoraria que eu respondesse que
sim, me enganei? Porque se eu disser que sim, que valeria à pena, você talvez
pense que, desse jeito, nós ficaríamos quites. E até me odiaria ainda mais, não
é? Porque eu seria a degenerada miserável e desalmada que já pensa que eu sou.

Irritado, Poncho soltou um palavrão.

-Não acho que você seja degenerada.

Murmurou as palavras tão baixinho que
ela quase não as escutou. Mas como ele desviou os olhos por um breve instante,
e emburrou, Annie percebeu que Poncho não gostou de proferi-las em voz alta.
Contudo, ela ouviu, e o fato de que ele parecia zangado por dizê-las
significa­va que eram sinceras.

E Annie sentiu-se inundada por uma onda
de anseio, tão forte que deixou-lhe os joelhos bambos.

- Mas você me acha uma imprestável. -
Com outro acesso de riso, Annie tentou disfarçar o quanto isso a ma­goava. - A
ironia é que, durante um longo tempo, eu concordei com isso. Levei anos para
acreditar em outra coisa.

Poncho a encarava aborrecido, os olhos
ainda perscrutando os dela.

- Um centavo pelos seus pensamentos,
como diz o ditado.

- Então, por mais que sua opinião a
meu respeito seja desfavorável, confie em mim quando digo que é impossí­vel
que seja pior do que a minha costumava ser. E aque­le bando lá dentro
simplesmente me fez lembrar de tudo o que eu mais detestava em mim.

- Daí você pensou que consertaria
alguns erros ao me defender agora só porque não o fez na época?

Annie tornou a rir, o som mais rouco
dessa vez.

- Sem dúvida, em sua opinião trata-se
de um caso inútil de efeito retardado. É aquela velha história do "você é
um santo, eu sou uma pecadora", não é? Bem, sabe de uma coisa?

Antes de continuar, Annie buscou no
íntimo a força para impedir-se de derramar uma única lágrima na frente dele ou
de tentar abraçá-lo.

- Você passou anos trabalhando feito
um condenado para provar ao mundo do que é capaz de ser: independen­temente das
suas origens. A condição social na qual nascemos não decide quem podemos ser.
Talvez eu ape­nas apreciasse a chance de provar a mesma coisa.

- Eu não estou impedindo você.

- Sim, está. Como consegue não
enxergar isso? Você parece um lembrete constante do que eu fui.

Poncho pendeu um pouco para frente, de
maneira que custaria pouquíssimo esforço para abraçá-lo se quisesse.

- Talvez o lembrete seja necessário.
Quem sabe foi por isso que você não me repeliu quando a beijei. -As palavras
envolveram-na com uma sedução quase perigosa. - Talvez você queira voltar e continuar
o que começamos daquela vez, para ver se isso torna tudo melhor no presente.

Será que essa foi a razão pela qual
ela correspondeu daquela maneira? Se não fosse aquela reação física, aque­le
anseio, aquela necessidade, beijá-lo seria tão bom?

_ Mesmo quando beijar alguém é muito
bom, pode ser que não exista mais nada. Você tentou me explicar isso uma vez, e
conseguiu esquecer o quanto me odiava por alguns minutos, não foi? E talvez
seja o que devemos fazer, Poncho. Canalizar toda aquela emoção para outra
direção, quando ela fica intensa demais e...

- O beijo é melhor? - Ao mesmo
tempo, Poncho mos­trou-se tão surpreso quanto comovido pela idéia.

- Talvez. Talvez a melhor
maneira de evitar sentir tanta raiva seja tentar sentir alguma outra coisa.

- Como prazer? - A voz baixou uma
oitava, o brilho de humor nos olhos transformando-se em algo comple­tamente
distinto.

E a resposta dela foi quase um
suspiro.

- Talvez.

- Então sempre começamos uma briga
para não dizer­mos o que gostaríamos de dizer com um beijo? Ou cari­nho? Ou o
quê? - Poncho elevava a voz a cada sugestão. -Aonde isso nos levará, Annie?
A uma dose do bom e velho sexo furioso no beco mais próximo? Você decide: o que
você quer?

As palavras ríspidas aumentaram a
frustração além do suportável, assim, Annie acabou gritando. -Eu não sei! Poncho
também gritou.

- Isso foi só parte dos seus problemas
durante a droga da vida toda.

Annie sentiu a agonia de uma velha
ferida reaberta à força. Custou-lhe um minuto para conseguir tornar a falar.

- Sexo no beco mais próximo? É o preço
para satis­fazer você?

Poncho cerrou os punhos, mas não disse
nada. Annie vol­tou a fitá-lo nos olhos e o desafiou com o que, no fundo do
coração, ela esperava ser a verdade.

- Mas você não pode se vingar, mesmo
que parte de você realmente o queira. Porque se lembra de que éramos unidos,
não lembra? Lembra tão bem quanto eu. `

E será que ela só sugeriu que
substituíssem a raiva por outra coisa por saber que ele não aceitaria? E, ao
recusar ele provaria que ainda gostava dela o suficiente para não deixá-la se
vender tão barato?

Será que ela queria testá-lo?

Mas Annie concluiu que o motivo por
trás de tudo era a atração física. Essa atração ficou evidente durante o beijo
que Annie ainda podia sentir nos lábios, mesmo depois daquelas palavras
ásperas. Annie também sabia que, se Poncho tentasse abraçá-la de novo, ela não
o deteria. Ele a deixa­va louca, e ela o odiava por isso!