Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Poncho ganhou a discussão sobre o rúgbi, mas só depois de passarem a manhã toda
explorando um ao outro, sem a menor pressa. Na verdade, Annie precisava descansar,
pelo menos por causa do corpo dolorido. E considerando onde viveu nos últimos
oito anos, no caso dela, uma partida entre Irlanda e França garantia a vitória
de um jeito ou de outro. Principalmente somando-se o número de vezes em que Poncho
riu daquele jeito que ela adorava, todas as vezes em que ela gritou e pulou
feito boba na arquibancada.

Ele preparou o jantar e Annie brincou
que ele parecia uma garota. Porém, Poncho provou o contrário sobre a mesa da
cozinha. E depois que comeram, afinal, os dois deita­ram cedo. Bem, afinal
quase não dormiram nada. E pre­tendiam não passar a noite toda dormindo outra
vez.

Após uma preguiçosa manhã de domingo,
ambos le­varam Moggie para passear na praia, almoçaram num pub em frente à baía
e voltaram para um "cochilo"...

Foi um final de semana mágico...

E Annie estava morrendo de medo de que
talvez ele nunca se repetisse. Porque, embora mal conseguissem manter as mãos
afastadas um do outro, além de rir e brincar, a realidade não desapareceu.
Aquilo não apagou os problemas pendentes ou disfarçou o fato de que evita­ram
qualquer conversa minimamente importante.

Annie sabia disso tudo. Mas como
estavam se dando tão bem, vendo o quanto Poncho parecia feliz, ela se permitiu
uma esperança.

O que fez todo o sentido quando os dois
se abraçaram na madrugada de domingo, o corpo ainda vibrando com os efeitos
colaterais de outra lânguida sessão de sexo. Ela desejou que a manhã de
segunda-feira jamais chegasse Mas isso significaria o fim do mundo, certo?

Poncho aninhou o corpo musculoso junto
às costas dela e pôs uma perna sobre a dela, enquanto desenhava círcu­los
sensuais nos seios com as pontas dos dedos.

- Você vai à galeria amanhã?

- Talvez eu apareça por lá. Ainda
restam três artistas cujas obras eu gostaria de mostrar ao país. Achei algumas
peças maravilhosas em Donegal, na semana passada.

- Foi lá que você se meteu.

- É bom saber que sentiu saudades.

- Pensei que estivesse me evitando.

- Bem, com certeza foi uma vantagem
extra... - Sorriu. - Mas acho que simplesmente devo padecer o martírio de olhar
para a sua cara.

O movimento hipnótico no seio
continuou. E Annie quase escutou as engrenagens girando no cérebro dele
intuindo uma catástrofe iminente.

- Você precisa se comportar na frente
da equipe. Pronto, começou.

- 
Eu fui uma menina má, mas jamais fiz sexo em público.

- É bom saber - Poncho atenuou as
palavras com um beijo na testa. - Mas não foi o que eu quis dizer. Você fica toda
melosa e assanhada o tempo todo. Mas, honestamen­te... Não posso culpá-la,
sabendo o quanto sou irresistí­vel... - Annie deu-lhe uma cotovelada e a
gargalhada de Poncho reverberou no seu peito. - Não estou me queixando. Só
estou dizendo que você não pode fazer isso na frente do pessoal. Eles precisam
trabalhar e você já é distração demais sem fazer nada. Você e aquela sua
dancinha no pôquer...

Annie sorriu. Adorou saber que ele
ficava irritado porque ela distraía os operários.

- Cuidado. Isso pode ser interpretado
como uma pita­da de ciúmes.

- Ou quem sabe a necessidade de vê-los
concluir uma obra para começar outra?

- Eu prefiro a hipótese do ciúme.

- O que você achar melhor.

Annie beijou-lhe os dedos e quase pôde
sentir o sorriso dele. Quem poderia culpá-la por querer prolongar aquele clima
de magia?

- Precisamos conversar sobre o Ucker,
aliás. A magia se apagou um pouquinho.

- Qual é o problema com o Ucker?

- Prefiro evitar a clássica conversa
sobre dormir com a irmã do amigo. Já me acostumei com aquele tonto por perto.

Mas será que era só isso? Ela não
achou o tópico muito interessante, mas junte as peças e...

- Então a partir de amanhã a gente
volta a se odiar?

- Eu
não falei isso.

- Mas espera que eu finja que não
aconteceu nada.

- A nossa vida não é da conta de
ninguém.

- Então... - Annie tentou olhá-lo de
lado, esforçando-se ao máximo para manter a entonação calma. - É algo para se
esconder de todo mundo.

- Estamos à beira de uma discussão?

Annie deu-lhe um beijo de leve para
mostrar que não

- Estamos dormindo juntos às
escondidas, eu acho Parece meio...

- E agora você faz tudo soar como
alguma coisa sór­dida da qual deveria se envergonhar.

Para início de conversa, de quem foi a
idéia de se esconder? Annie preferiu ficar quieta, porque realmente não queria
brigar com ele. Mas tampouco deixaria Poncho acreditar que estava envergonhada.

- Eu não tenho um único
arrependimento, se é o que está insinuando. Estou aqui porque quis. E não dou a
mínima se alguém, incluindo você, acha que um Portilla não devia...

Ele a calou com um beijo apaixonado,
puxando-a mais para si.

- Não saio por aí alardeando minha vida
particular, só isso. Não é da conta de ninguém... Pronto. Assim, o mun­do
inteiro não vem abaixo quando acaba.

O que ele disse fazia todo o sentido.
Mas Poncho aca­bara de reduzi-los a um caso passageiro. Isso apagou mais um
pouquinho da mágica, fez Annie querer prolongar o momento ainda mais.

Ela se pôs a beijá-lo e acariciá-lo,
bloqueando a se­gunda-feira que se aproximava a cada clique do desper­tador na
mesinha de cabeceira. E preferia que a voz na cabeça não comentasse que aquele
mesmo tique-taque era unia contagem regressiva para o fim.