Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Agora ele achava que ela não queria
conversar? Annie não queria que pensasse assim. A menos que não se inte­ressasse
de fato. Será que foi por isso que ele respondeu com um monossílabo?

Ela nunca tivera um relacionamento tão
complicado. Poncho era osso duro de roer.

- Independência tem a ver com
escolhas, certo?

- Com a liberdade para fazê-las,
claro. - Levou um minuto até cair a ficha. Poncho lançou um sorriso maroto. -
Tudo bem... Desisto do carro. Mas eu daria uma lista de escolhas de
lugares para morar.

-Agradeço por isso, mas...

-Você não está segura naquele buraco.

Annie sorriu mais animada, adorando o
fato de que ele se preocupava com a segurança dela. Como nos velhos tempos. Poncho
era a única coisa sólida que a mantinha protegida. Ele não devia compreender
direito o conflito, ou dano, que causou no dia em que a beijou e lhe deu um
motivo para fugir...

- Eu sou cuidadosa. E não é a primeira
área barra pesada em que já morei, acredite em mim.

- Por quê?

- Por que confiar em mim? - Annie
tentou rir. - Ora, Poncho, se você começar um bate-boca aqui, eu não poderei
impedir, não é?

- Não faça isso.

- Porque posso causar um acidente...
-Não. -Fitou-a nos olhos. -Não mude de assunto. Quer que eu saiba quem Anahí Portilla
é agora ou não? Ela arregalou os olhos.

- Simples assim?

- 
Simples assim. - Será que ele não imaginava o campo minado onde estava
pisando? Annie balançou a cabeça. - Isso foi um não, você não está preparada
para se abrir comigo, ou não, qualquer outra coisa? Eu ainda não peguei o
jeito.

O celular tocou.

Assim, enquanto Poncho resolvia outro
problema de trabalho, pelo pára-brisa ela observava o trânsito na movimentada
Dublin. Não sabia ao certo se foi um não ou o quê. Não se sentia preparada para
se abrir e desa­bafar, pois ele representava um papel importante no começo daquela
história. Mas, se não o fizesse, o que seria deles?

Em um único final de semana, com o
mundo tranca­do lá fora, os dois descobriram uma área onde eram absolutamente
compatíveis. Mas será que isso, por si só bastaria?

E se ela se abrisse, talvez o perdesse
outra vez.

A ligação terminou. Mas o celular
tocou de novo antes de Poncho ter a chance de olhar para Annie. E a expres­são
irritada no rosto dele não tinha nada a ver com o te­lefonema sobre uma
autorização para aterramento e coisas do gênero.

Annie odiou isso. Odiou que demorasse
menos de uma hora para recuar um passo tão grande. E odiou o retorno da maldita
angústia.

A última ligação terminou assim que
estacionaram na vaga privativa da empresa dele, as iniciais P.E.I. gravadas no
portão que reluzia ao sol.

Poncho desligou o motor e contemplou a
placa, tentando decidir se deveria insistir ou não. Enquanto isso, ocorreu-lhe
que contemplava o símbolo que era uma fonte de orgulho pessoal, e que não
sentiu a mesma emoção. Foi a interrupção constante de todas aquelas ligações
que o deixou assim. Frustrado porque o trabalho o atrapalhava demais, embora,
no início da carreira, fosse sua única distração.

Um fim de semana não podia tê-lo
mudado tanto assim. Mas, agora, parece que ele precisaria abrir a caixa de
pandora, não é?

Virou-se no assento e flagrou Annie
espiando pela janela, mordendo o lábio inferior. Como se estivesse nervosa.

- Você ainda está com medo de me
contar? - Ela soltou um gemido apreensivo e Poncho entendeu aquilo como um
"sim", e tornou a insistir. - Por que receia o que acontecerá se
começar a desabafar comigo? - Isso lhe rendeu um olhar fulminante. - Certo. - Poncho
assentiu. -Você receia que isso causará mais brigas e que voltare­mos ao ponto
de partida.

- Detesto quando você faz isso.

- Faço o quê?

- Analisa minha mente com tanta
facilidade depois de um fim de semana apenas. Poncho gargalhou.

- Ah, não é nada fácil analisar você, Annie,
acredite. E meus palpites não se baseiam num único fim de se­mana.

- 
Por que de repente isso é tão importante para você?

Oh, uma pergunta capciosa.

Emburrado, ele suspirou. Enfim, não
havia como evitar a maldita palavra "talvez".

- Talvez, nesse fim de semana, o que
consegui enxer­gar da nova Annie seja o bastante para saber que quero
conhecê-la melhor. Eu gostava muito da Annie de antiga­mente, e a parte dela
que eu vi naquele momento também não foi muito ruim... Embora ela não
precisasse levar aqueles pés frios para a cama à noite. Portanto, talvez o meu
maior problema seja uma Annie intermediária. Eu gostaria de descobrir.

- E se todas forem a mesma pessoa?
Outra pergunta capciosa.

- Eu não sei.

Ela engoliu em seco e depois o encarou
com um sor­riso inseguro.

- E é justamente disso que eu tenho
medo.

Poncho espiou a rua movimentada e
tomou uma decisão intempestiva. Abriu os cintos de segurança dos dois e
reclinou o assento, antes de colocá-la no colo...