Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Poncho a largou tão depressa que ela
quase caiu. E lançou-lhe um olhar fulminante quando ele se afastou, assim que Ucker
apareceu sob a escada do mezanino. Não só porque ele quase a deixou cair, mas
porque continuava irredutível quanto a manter o relacionamento em segredo.
Francamente, ela já estava cansada.

O aborrecimento transpareceu na voz
quando se diri­giu ao irmão.

- Se veio para a festa... Está um dia
adiantado. Surpreso, Ucker espiou Poncho e mostrou a caixa com­prida que trazia
debaixo do braço.

- É bom ver você também. Dulce mandou
alguns lindos vestidos para você experimentar para a última rodada de
compromissos sociais dos Portilla aos quais está presa. E por falar em preso...

Poncho sorriu.

- Ei, você me conhece... Sempre tenho
uma visão total de um trabalho, do início à amarga despedida.

- Compulsivo.

- Garoto de recados.

Annie olhou atravessado para os dois e
apanhou a caixa.

- Enquanto vocês disputam quem cospe
mais longe, eu vou tentar trabalhar. Diga a Dulce que agradeço, Ucker.

- Ora, você não é o único que se
lembra do meu pas­sado sórdido, certo? Desde que voltei para casa, as pes­soas
me atiram farpas em todos os eventos sociais aos quais sou obrigada a
comparecer. Então, agora que você é o pilar da comunidade, será que prefere não
ser visto comigo?

- Essa é a coisa mais idiota que você
poderia inventar... Já disse que a minha vida pessoal não é da conta de nin­guém.
- A expressão abrandou um pouco e a dúvida transpareceu nos olhos. - E como
assim "obrigada a comparecer"? Se não quer viver segundo as regras do
bom e velho Portilla, por que ir?

- Não mude de assunto. Se não é isso,
então o que é? - Annie estava cansada de se esconder. Por que não podia mostrar
ao mundo que estava feliz? Todos souberam muito bem quando ela estava perdida,
solitária e depri­mida... - Já disse... Ninguém...

- Você nunca apareceu em público com
uma namo­rada que não estivesse usando um saco de papel na cabeça?

- Vamos conversar sobre casos antigos,
também? Ótimo... Isso ajudará. Podemos começar pelo desgraçado que tirou fotos
suas sem você saber e as vendeu para os jornais logo que descobriu que você não
sustentaria mais as farras dele?

Bem, sim, obviamente ela lhe contou
isso só para que ele lhe jogasse tudo na cara.

Desviou os olhos do rosto dele,
umedeceu os lábios com a ponta da língua e fez a pergunta que a atormentava há
semanas.

- É por que você não vê motivo, não é?
Porque sabe que não vai durar. Portanto, por que contar ao mundo, certo?

Como Poncho não respondeu de imediato,
Annie sentiu a tristeza crescer dentro de si. Aquela confirmação silen­ciosa
devia doer tanto assim? Eles estavam juntos há pouquíssimo tempo.

Mas doeu. Tanto quanto o dia em que
dissera aquelas coisas horríveis que o afastaram dela... O melhor amigo da
infância, o anjo de guarda que sempre aparecia para salvá-la quando ela ligava.
Fitou-o nos olhos naquele instante e viu a mágoa se transformar em ódio. E isso
partiu-lhe o coração de tal forma que levou dois anos até conseguir sentir
qualquer coisa outra vez. Dois anos de autopunição para pagar pelo seu ato.

Poncho segurou-lhe o queixo, obrigando
Annie a encará-lo.

- Não.