Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Porque ele podia ter feito amor como
se ela fosse a mulher com quem faria amor para sempre. Mas não ne­gara que
pensava que aquilo não duraria, não é?

- Porque
você sabe que isso não vai durar.

Poncho ainda podia ouvi-la proferir
aquelas palavras. O problema é que estavam em total contradição com o ca­tegórico
"minha" que ecoava na cabeça dele enquanto a observava do canto da
sala.

Aquilo era uma versão insana do
clássico treinamento do cão de Pavlov.

Poncho rangeu os dentes quando Annie
foi abordada por outro homem que a tocou. Foi um toque muito sutil. Ele apenas
colocou a mão nas costas dela para ouvi-la melhor em meio ao barulho da
multidão. Mas cada toque aumen­tava o volume da "minha" na cabeça de Poncho.

E ele se controlou para não acabar
socando alguém e arruinar a festa de inauguração. Ora, que maneira de tornar
tudo público...

Annie mudara tanto nos últimos oito
anos... E agora que conhecia sua nova versão, ele não tinha escolha a não ser
mexer na ferida e examiná-la melhor. Era uma decisão muito difícil.

Pressentiu exatamente onde ela estava
desde que che­gara na festa, atrasada na medida certa para se misturar aos
convidados. Os olhos a localizaram e admiraram o corte elegante do vestido
verde tomara-que-caia que se movia apenas o suficiente para sugerir as curvas
daquele maldito corpo perfeito. O corpo que ele conhecia intima­mente, cuja
simples visão o fazia desejar redescobrir tudo de novo, centímetro por
centímetro.

Minha.

Mas, ao observá-la com discrição do
canto do salão lotado, sorrindo para a multidão, os olhos brilhantes como
pedras preciosas, Poncho conseguiu enxergar coisas que não vira antes.

O sorriso dela estava um pouquinho
radiante demais, o rosto um pouquinho animado demais, a linguagem corporal
exagerada... E ele notou todas essas coisas antes de flagrar as inúmeras vezes
em que Annie ajeitou aquela mecha de cabelo invisível.

Sofisticada, sim. Bonita, sem dúvida.
Mas ele aposta­va que, por dentro, ela se sentia um bocado desconfortá­vel com o
refinamento que adquirira com a idade, e esta­va se esforçando ao máximo para
ninguém perceber.

Como ele nunca reparara que ela
detestava esse tipo de festa? Embora essa, em particular, representasse um dos
momentos mais ilustres da vida de Annie, ela parecia estar se contorcendo por
dentro. Poncho se lembrou de que ela chegara a mencionar algo sobre ser forçada
a repre­sentar os Portilla nesses eventos, e como as pessoas comentavam sua
história bem na frente dela.

Por que Annie perdia tempo com essa
gente? Isso não combinava nada com aquela idéia fixa de independência, o
direito às escolhas... como mandar todo mundo para o inferno, por exemplo.