Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Ao olhar para o braço dela, Poncho
franziu o cenho, como se não houvesse percebido direito o que fizera. Soltou-a
e acariciou-lhe a pele com o polegar, meio que para ajudar a dor passar. Em
seguida, ergueu o olhar, baixou a voz para um tom calmo, quase mortal.

- Preciso saber que tipo de acordo ele
obrigou você a aceitar. Depois vamos livrá-la dessa droga, para que ele nunca
mais interfira nas nossas vidas de novo.

- Nas nossas vidas?

Após um breve olhar para se certificar
de que ninguém estava por perto da escada, Poncho sussurrou:

- Você acha que é a única, não é?

Annie recuou, quase perdendo o
equilíbrio ao encará-lo boquiaberta. Quê?! E milhares de palavras devem ter transparecido
no rosto, porque Poncho soltou-lhe o braço e virou a cara.

- Bem-vinda ao clube.

- O que papai o obrigou a fazer?

E o coração saltou, literalmente, ao
ver a expressão no rosto de Poncho assim que ele a encarou. O que quer que
fosse, parecia mesmo importante para ele. Tão im­portante que precisara guardar
o segredo por tantos anos?

Manter a voz tranqüila foi mais
difícil do que ela imaginara.

- Quando foi isso?

Ele soltou um palavrão e começou a
andar em círculos, parando de repente para contemplar o céu noturno e tomar
fôlego.

-Eu tinha 15 anos.

Quinze?

- Por que você precisou de dinheiro? Poncho
fitou-a nos olhos.

- 
Eu não o procurei, se é o que quis dizer. Ele me procurou.

- Para se oferecer para pagar pelo
quê? - O pai era um homem complicado de lidar e ela sabia disso, ora bolas,
mais do que qualquer um. Mas tentar manipular Poncho aos 15 anos para conseguir
o que queria...

Era baixo demais.

Poncho pareceu acalmar-se demais para
o gosto dela.

- A escola.

Ela sentiu uma pontada no peito.
Claro. A mãe de Poncho queria muito que ele tivesse uma boa educação, vigiava-o
para garantir que tirasse boas notas, como qualquer outra mãe. E ele sempre foi
inteligente. Na época, jamais lhe ocorrera como ele conseguira transferência
para o mesmo colégio de alto nível que Ucker freqüentava.

Annie tentou recuperar o fôlego. O pai
pagara tudo. Mas, em vez de fazer a coisa certa, e simplesmente pagar porque
podia, ele fizera algum tipo de acordo. Portanto, Poncho, que já era
complexado, fora obrigado a engolir o orgulho para conseguir construir a vida
da melhor forma possível.

Annie tentou assimilar a tristeza. Se Poncho
se feria, ela sangrava. E sangrava naquele momento.

Tão logo alçou o olhar, flagrou-o todo
aprumado, porque talvez achasse que devia. E isso a deixou arra­sada, porque
não devia, não com ela... nunca com ela. A seus olhos, Poncho era muito mais
homem do que o supostamente respeitável Arthur Portilla. Será que não sabia
disso?

Ela se obrigou a se endireitar.

- E você desistiu da faculdade para
pagar mais depres­sa, não foi?

-Sim.

- E cuidou para que papai soubesse que
jamais teria a chance de dominá-lo outra vez, certo?

- Creio que usei a seguinte frase:
"Você apodrecerá no inferno esperando que eu precise da sua ajuda de
novo." Talvez eu tenha acrescentado um "velho idiota" a certa
altura, só para arrematar.

- Fico feliz por saber. - E ficou
mesmo, sem mencio­nar o orgulho incrível que sentia por Poncho enfrentar o
velho. Ele era mesmo formidável, não?

Annie sorriu e ele a admirou por um
longo tempo. Sequer piscou. E foi quando ela entendeu... Entendeu que ele
esperava que perguntasse o óbvio. E, Deus, ela não que­ria perguntar.

Estremeceu, as lágrimas ardendo nos
olhos. Porque ela já sabia, certo? Considerando o orgulho implacável de Poncho,
mesmo naquela idade, o pai só poderia usar uma coisa para obrigá-lo a aceitar o
dinheiro: chantagem emocional.

- O que ele pediu que fizesse, Poncho?
- Sem que ele respondesse, Annie viu tudo em seus olhos. E agora ela sangrava
por todos os poros. - Ele transformou você em meu guarda-costas? Foi isso? Eu
já andava colocando as manguinhas de fora naquela época, e papai sabia que não
conseguiria me controlar para sempre. Assim, ele deu um jeito de incluir você
na folha de pagamento antes que eu saísse dos trilhos. Ele se aproveitou da
nossa amizade...

A voz embargou, forçando-a a parar e
respirar fundo. Cada vez que Poncho a ajudara. Cada vez em que fora presa em
algum lugar e não queria que os pais soubessem, ela telefonava e ele a
resgatava. Cada vez, quando fora a uma festa cujo clima esquentara demais, Poncho
aparecera para salvá-la...