Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

Annie acreditava que ele a ajudava
porque era a única pessoa que gostava dela o suficiente para apoiá-la, não
importava o que fizesse. Fora por isso que aquele último dia doera tanto,
quando ele a beijara e ela perdera a única pessoa com a qual se importava. E
todo o tempo em que Poncho estivera a seu lado, não fora porque era seu amigo,
mas porque era pago.

Pois como ele poderia ser seu amigo se
ela represen­tava um lembrete constante da dívida com os Portilla? Devia ter
sido quando Poncho começara a odiá-la. Se não fosse tão rebelde, se andasse na
linha e se tornasse o que o pai queria...

Arthur Portilla usara o carinho de Poncho
não só para fazer um "acordo de negócios" com ele, e sim uma traição,
acaso o delatasse. Era assim que o seu Poncho via a situação na época. Ele
achava que, ao sacrificar o orgulho, ajuda­ria a protegê-la do pai de certa
forma...

Agora tudo fazia sentido. Naquele dia,
ela não o hu­milhara apenas. Ela o lembrara de que ele vendera a alma porque
era filho da governanta. O empregado que ousara chegar perto da princesa Portilla,
só para que sua alteza todo-poderosa o acertasse no ponto mais fraco para
manter as aparências diante dos amigos metidos.

Não era de admirar que a odiasse
daquele jeito por tanto tempo. E como poderia tornar a gostar dela depois de
passar tudo aquilo por sua causa?

Arrepios que não tinham nada a ver com
a temperatu­ra se alastraram pelos braços.

Poncho deu um passo à frente. Annie
deu um passo para trás.

O que devia fazer a respeito daquela
revelação? De­veria odiá-lo por deixar que o pai o forçasse a aceitar tal
acordo? Ele tinha apenas 15 anos, pelo amor de Deus. Deveria odiá-lo porque não
lhe contara nada? Mas, se contasse, ela apenas enlouqueceria mais cedo, não é?
E não teria maturidade suficiente para se recuperar.

Poncho experimentou avançar outro
passo. Annie recuou outro e conseguiu encará-lo, a voz quase um suspiro.

- Não. - Annie não queria acreditar
que aquela era a mesma súplica que recentemente tornou-se um hábito. Reforçou o
protesto. - Por favor, não.

- Pagarei cada centavo que deve ao seu
pai. E isso dará um fim nessa história. Basta de ostentar a grandeza dos Portilla
para aquele velho demônio manipulador, escutou?

Não. Annie balançou a cabeça, sem
saber direito se fa­lava em voz alta ou não.

- Mas isso me deixa em dívida com
você. E já temos problemas suficientes.

- Prometo que não existirão
pré-condições, Annie. -Não posso, Poncho.

- Então convença Ucker a pagar. Ele
não cobrará nada, também. Você devia tê-lo procurado de imediato. Por que não o
fez?

- Pensei que, se enfrentasse o meu
pai, ele veria que estou preparada para encarar as conseqüências dos meus atos.
Acho que senti que lhe devia isso após toda a ver­gonha que causei à família.
Não aceitei dinheiro quando me mandaram para a França, veja, porque sabia que
pre­cisava crescer e queria fazê-lo sozinha. Como o dinheiro que economizei não
bastou para abrir a galeria, papai se ofereceu para pagar tudo. Mas eu não
podia aceitar, não sem um plano para saldar o empréstimo. E isso significa­va
negociar com ele. Sorrir como uma Portilla não me pareceu um preço tão alto
naquela época.

A voz de Poncho tornou a acalmar.

- Prometa que conversará com o Ucker.
- Enfim, ela concordou, fazendo que sim com a cabeça. - Ótimo.

Annie deu-lhe as costas para sair,
incapaz de compreen­der como parecia tão tranqüila por fora quando por dentro
sangrava até a morte.

Então, com a mão na maçaneta, virou-se
e viu Poncho parado, observando cada gesto seu. Deixou o olhar va­guear pelo
peito dele, demorando-se na boca um pouqui­nho, até reunir coragem para fitá-lo
nos olhos azuis.

- Talvez eu precise de um tempo. Poncho
amuou.

- Quanto tempo?

- Um tempo. É muita informação, Poncho.

- Não sei quanto tempo posso lhe dar.

Bem, ela não poderia culpá-lo se
preferisse seguir outro caminho, poderia? Não agora que sabia de tudo.

-Acho que você tinha razão quanto a
guardar segredo. Em relação a nós, claro. -Annie não queria que ele pensas­se
que o culpava pelo outro segredo que carregara. - En­tendo os problemas que
enfrentaríamos se tornássemos nossa relação pública, Meu pai talvez fizesse
tudo para nos separar...

- Talvez fizesse mesmo.

Ela assentiu, Virando-se para a porta.

- Não demore muito, Annie.

- Pode deixar. - Mas ela sabia que era
mentira. Agora ela precisava de uma certa distância dele. Porque mesmo se
superassem todas as outras coisas, esse problema em particular era meio
complicado. Ela não poderia simples­mente varrer a sujeira para debaixo do
tapete.

Annie precisava deixá-lo.