Fanfic: Sopro de Esperança (Terminada)

- Quero
que você o demita. Contrate outra pessoa. Ele não pode ser o único
empreiteiro de Dublin. - Annie firmou os pés no chão para compensar a força que
Moggie exer­cia na outra ponta da coleira. O irmão suspirou.

- Se quiser outra pessoa da noite para
o dia, então pagará um bocado a mais do que ele cobrou.

- Não me importo. - Fez uma careta,
porque não era verdade. Não podia se dar ao luxo de pagar acima da tabela. - Quanto
seria esse bocado a mais, exatamente?

- Ele está nos fazendo um favor, Annie.
Poncho é um homem ocupado.

Uau, ele tinha outras vidas para
arruinar? Essa galeria era o seu sonho, droga! Ela pensou durante anos,
planejou tudo, investiu cada centavo que tinha e pegou dinheiro emprestado do
pai para saldar a dívida. E agora teria de agüentar Poncho vigiando cada
movimento seu e bancando o juiz?

De novo?

E, pior, passaria o dia olhando para
ele, vigiando cada movimento e imaginando, imaginando por que diabos ele
a deixava tão... bem... tão,., excitada, para ser honesta. Porque ela tivera o
sonho mais erótico de toda a vida na noite após o incidente com as cadeiras.
Quando o rosto de Poncho ficara tão perto do dela, durante alguns segundos
dramáticos que pareceram uma eternidade, os olhos azuis escureceram vários tons
antes que ele olhasse para os lábios dela, que empinara o queixo como se
dissesse: vá em frente e me beije, ora.

De novo!

Ucker tentou uma abordagem diferente.

- Já não é hora de você dar uma trégua?
Ele é um bom sujeito, você sabe.

Annie bufou incrédula e ajustou o
celular no ouvido.

- Na sua frente, talvez... Mas você é
o único Portilla de quem ele gosta.

- Como
se, antes de partir, você tivesse dado bons motivos para ele gostar de você.
Vocês dois brigavam até por causa do clima, se não me falha a memória.

Annie suspirou, imóvel enquanto Moggie
corria em círculos ao seu redor. Com a coleira enroscada nas pernas, contemplou
as centenas de tons de verde na paisagem além do impecável jardim, procurando
as palavras certas.

- Eu sei.

Bem, não restava muito mais a dizer,
não é? Mas, talvez, se naquele dia Poncho não bancasse o santinho do pau-oco...

- Dê-lhe
algum tempo, menina. Ele verá que você mudou. Você precisou de um tempo sozinha
para desco­brir a si mesma, e Poncho não viu nada disso acontecer. Ele só
conhece o jeito como você era. Se vocês passarem algum tempo tentando se
conhecer melhor, acabarão fi­cando amigos como antes... Aposto.

Para livrar-se da coleira, Annie jogou
uma bola para Moggie, na intenção de fazê-lo correr na direção oposta.

- Quanto? Porque eu posso arrumar o
dinheiro, sabe...

Ucker gargalhou.

- Conte até dez antes de falar com
ele. Talvez ajude.

- É uma contagem muito longa, Ucker.
Mais gargalhadas.

- Tente.

Ah, ele não fazia idéia de até quanto
ela precisaria contar. Porque, por mais que repetisse para si mesma que podia
lidar com Poncho, a verdade era que se tratava de um esforço hercúleo. Bastavam
apenas cinco minutos na companhia dele para ser obrigada a controlar as próprias
reações físicas. Ou a provocá-lo para disfarçar tais reações.

O problema é que pessoas que um dia
foram muito íntimas, como eles, sabem direitinho como magoar umas às outras. E
foi exatamente o que ela fez quando Poncho virou o seu mundo de pernas para o
ar, ao beijá-la daquele jeito. Nesse dia, ela perdeu o amigo de infância. E o
detestou por um longo, longo tempo.

- Ainda está aí?

Com um nó na garganta, Annie fitou os
próprios pés e pôs-se a girar no sentido anti-horário.

- Sim.

- Ainda quer que eu o demita?

Oh, como ela desejou ser capaz de
responder que sim. Mas não podia, certo? Não podia dar-se ao luxo de pagar
acima da tabela. E não aceitaria tirar o trabalho de Poncho, droga. Apesar de
não suportá-lo, ele também devia ter contas a pagar, assim como os próprios
operários. E o trabalho lhes fora assegurado, e aceito no lugar de outro
serviço remunerado.

- Não. Droga.

- O espírito é esse. Nós, Portilla,
não desistimos tão fácil.

- Sim, bem, talvez metade do problema
de ser um Portilla seja não saber quando desistir. - Constatou que estava livre
porque Moggie puxou-a para a frente de novo e conseguiu segui-lo sem tropeçar.
- Agora fale dessa lista de imóveis que você encontrou para mim e depois me
conte tudo sobre a Dulce. Já posso avisá-la sobre como é vida de um Portilla?

- Não se atreva.

- O que
você está fazendo aqui?

Poncho olhou para Annie com uma
expressão impassível.

- Assando um bolo. O que parece que
estou fazendo?

Annie observou-o atirar uma tábua
gigante numa pilha perto da porta dos fundos sem ao menos gemer de esforço. E
emburrou ainda mais ao sentir uma reação física completamente inexplicável
perante aquele simples gesto. Qual era o problema dela com essas gritantes
demonstrações de masculinidade? Lera muitas coisas que explicavam todo o instinto
animal de acasalamento, segundo a mais forte da teoria das espécies. Mas por favor!
Isso estava ficando simplesmente ridículo. Ela nunca se sentiu tão pronta para
o sexo a ponto de a necessidade física sobrepujar o bom senso. Nunca. Nem nos
piores dias.

E ela o odiava por isso.

e ai o que tão achando? continuem comentando ok

besos e até logo.