Fanfic: Cega paixão (terminada)

Ele a observava quando Anahí voltou, e apanhou o travesseiro com aquelas mãos largas e fortes, a pele bronzeada contrastando com o branco da fronha. Alfonso tinha tirado o casaco acolchoado e lhe pareceu mais magro do que imaginara. Só de suéter, ele era mais elegante e... atraente. Anahí o preferia de casaco.

Obviamente Alfonso não era um simples esquiador a caminho de Steamboat Springs, como fazia crer, tampouco viera parar em sua casa por acaso. Mas a única maneira de saber ao certo que ele não lhe representava perigo de espécie alguma, a única forma de conseguir relaxar o bastante para dormir era tocá-lo.

Anahí relutava, ainda impressionada com o primeiro aperto de mão, mas, àquela altura, ainda tinha dúvidas a seu respeito. O único modo de saber se podia confiar na voz da intuição era tocá-lo.

Não ia ser fácil, constatou, vendo-o observá-la atentamente, abraçado ao travesseiro. Não era de sua natureza tocar as pessoas e seria um gesto forçado se, ao desejar-lhe boa noite, o tocasse de leve no braço.

E Alfonso não parecia disposto a facilitar-lhe as coisas.

- Obrigado por tudo - ele disse, mal disfarçando um bocejo, visivelmente ansioso por ficar só.

Alfonso a fitava com aqueles olhos escuros mas Anahí não conseguia ler-lhe os pensamentos.

- Boa noite - disse ela, por fim. - Vou só apagar a luz da cozinha e... - E deu um passo em sua direção.

- Deixe que eu apago - Alfonso disse, movendo-se ao mesmo tempo.

Ambos colidiram. Ele esticou as mãos e segurou-a pelos braços impedindo-a de cair, e, por um momento, pressionou-a contra o peito. Seu corpo irradiava um calor intenso, Anahí constatou, o coração batia forte, e a lã do suéter roçava-lhe o rosto. Os dedos longos a seguravam com firmeza e Anahí fechou os olhos tentando captar algo mais a respeito dele. Alfonso, no entanto, interpretou mal sua atitude.

- Se é isso que você quer, não precisa disfarçar - disse com voz dura e, antes que ela desse por si, beijou-a.

Era um beijo rude, cruel, como um castigo. Alfonso deslizou as mãos pelos braços até apertar-lhe a cintura fina, pressionando-a contra si. As mãos dela continuaram em seus ombros, tentando empurrá-lo para longe sem muita convicção.

Então, de repente, tudo desapareceu: as mãos em suas costas, a boca sedenta, o perfume másculo. Anahí só via sangue por toda parte. No sapato vermelho, nas mãos dela, nas de Alfonso Oliver. E uma poça de sangue em torno de Phil Grayson.

Ela estremeceu tentando afastar-se de Alfonso, mas aquele toque humano, o calor de seu corpo tinham o efeito de clarear as visões, tornando-as incrivelmente nítidas e reais. E ela viu Alfonso olhando para Phil com o rosto transtornado de ódio ao assisti-lo esvair-se em sangue.

Um grito formou-se na garganta de Anahí e suas mãos se fecharam lutando por se afastar dele, se livrar da visão terrível. Um segundo depois, viu-se recostada contra a parede, os olhos fixos em seu visitante inesperado.

Alfonso deu de ombros:

- Desculpe, devo tê-la interpretado mal. Não queria fazer nada que a desagradasse...

Ele representava muito bem, ela constatou, desempenhando de modo convincente o papel de esquiador preso pela neve, conquistador barato sempre pronto a uma aventura. Mas Anahí não acreditava nele. Aquele toque, aquele beijo, aquela visão terrível puseram abaixo os disfarces. "Quem é você?", perguntou-lhe em pensamento mesmo sabendo que Alfonso não responderia.

- Sim - disse -, você me interpretou mal.

E foi até o telefone, imaginando se ele a deteria. Mas não. Alfonso sentou-se no sofá e apenas ficou olhando para ela.

- Se está chamando a equipe de socorro, não se incomode. Como já disse, não vou perturbá-la.

- Estou chamando a polícia.

- Olhe, garota - Alfonso lamuriou, os olhos agudos e atentos! - Por favor...

Phil Grayson respondeu no quarto toque, com voz sonolenta.

- Aqui é Anahí, Phil - ela disse num tom sereno.

- O que aconteceu? Você está bem?

- Sim, estou. Só quero saber se foi você quem o mandou aqui.

A pausa prolongada do outro lado da linha disse tudo.

- Anahí, eu...

Mas ela simplesmente desligou o telefone e voltou-se para Alfonso.

Ele a observava já sem se preocupar em disfarçar a atenção que lhe prestava.

- Me devolva o travesseiro.

- Está querendo me dizer que não posso mais ficar?

- Sim, pode. Confio em Phil, embora ele não pareça confiar em mim - afirmou num tom gélido.

- Então, por que quer o travesseiro?

- Porque ambos sabemos que você não dorme com travesseiro.

Sem alternativa, ele o devolveu, indagando:

- Não vai me perguntar nada?

- Amanhã teremos tempo de sobra. Espero que você não ronque.

Desta vez, Alfonso não ocultou o ceticismo e lançou-lhe um risinho torto.

- Você deve saber - revidou.

Anahí sentiu uma ponta de raiva por ele, mas manteve o controle.

- Boa noite - disse, já voltando para o quarto.

- Tenha bons sonhos, Anahí.