Fanfic: Cega paixão (terminada)

Phil Grayson chegou ao encontro do amigo por volta das nove horas da manhã seguinte. Graças às pressões do departamento de polícia de Denver e do governo federal, as equipes de socorro e liberação de estradas trabalharam com eficiência máxima dando total prioridade à passagem da casa de Anahí. O carro de Alfonso tinha realmente ficado atolado na neve, apesar de não ter sido o único motivo que o levara a invadir a casa de Anahí Hardy.

Tendo acordado com vozes vindas da sala, ela se encolheu toda sob as cobertas e tornou a dormir. Com um pouco de sorte, ao acordar, estaria sozinha.

- E então, qual a sua opinião? - Phil indagou aceitando uma xícara de café que Alfonso preparara, sentando no sofá da sala.

Alfonso tomou um bom gole de café antes de responder. Não dormira mais do que quatro horas nas duas últimas noites e, embora já estivesse bastante acostumado a viver com o sono atrasado, apreciava um bom café para fazê-lo despertar de vez.

- Acho que ela está fingindo - disse, tranqüilo, os ombros apoiados na lareira. - Deve ser uma agente da Spandau muito bem treinada, e não acredito numa palavra do que diz.

- Trabalho com ela há quase dois anos... - Phil começou, mas Alfonso o interrompeu.

- Você sabe perfeitamente que um agente bem treinado pode viver anos como um cidadão normal sem que ninguém suspeite de nada.

- Mas não estamos falando da KGB, Alfonso, e sim de um bando de lunáticos. Os terroristas são pessoas instáveis, não suportariam algo tão complexo. Para não falar na paciência que um plano desse tipo envolveria...

- A Spandau Corporation... Meu Deus, como odeio este nome! - exclamou num tom amargo ao terminar o café. - Lembre-se de que a Spandau não é composta por principiantes, mas pela elite dos mais rápidos e terríveis fanáticos que se conhece.

- E você acredita que esta garota, pequena e frágil, que está dormindo ali naquele quarto seja um deles?

- Frágil? - Alfonso repetiu. - Phil, o que está acontecendo com você? Aquela garota pequena e frágil, como diz, pode ser uma assassina e você só se baseia na intuição e no sentimentalismo para julgá-la em contrário. Ambos sabemos aonde este tipo de pieguismo pode nos levar.

Phil Grayson balançou a cabeça.

- Acho que esta vida de policial está afetando o seu cérebro, Alfonso.

- E acho que, apesar de tudo o que já viu, você não enxerga um palmo à frente do nariz! - Alfonso revidou, pondo a caneca sobre a lareira com uma batida surda. - Quero mais informações sobre ela. Suas fichas eram muito superficiais.

- Mas, Alfonso, não a estamos investigando...

- Pois eu estou. Surgiu algum dado novo no computador esta manhã?

- Até a hora em que saí, não. Há uma diferença de horário...

- Phil, se você não queria ajudar, por que me chamou? - Alfonso interrompeu.

- Eu quero ajudar; só não quero vê-la sacrificada em nome do trabalho, como... - E deixou a frase incompleta.

- Como Amy Lee - Alfonso completou num tom seco.

- Alfonso, eu não queria mencioná-la.

- Sim, eu sei, mas não adianta nos escondermos da verdade. Ambos sabemos que Amy Lee morreu e que poderíamos tê-la salvo, mas aprendi a conviver com esse peso na consciência e pensei que você também.

- Por que você acha que me aposentei? - Phil indagou. - Diabos! Alfonso, você pode ter esquecido que sua esposa morreu mas é muito difícil para mim aceitar esta verdade.

- Acha mesmo que esqueci?

Seguiu-se um longo e desconfortável silêncio entre os dois quebrado apenas pelo crispar da lenha no fogo e os pingos de neve derretida do lado de fora da janela