Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso olhou para o velho amigo ali sob a luz impiedosa do dia e toda a raiva desapareceu. Phil tinha envelhecido muito desde que Marge o deixara, e aparentava bem mais do que os cinqüenta e um anos que tinha. Phil tivera a infelicidade de se casar com uma mulher que o amava muito, mas que não suportava ter um marido com um estilo de vida tão perigoso. Marge preferira abandoná-lo, e isso lhe partira o coração.

Alfonso esticou uma das mãos e tocou-lhe o ombro caído, num gesto singelo e amigo. Phil ergueu o rosto e sorriu sem jeito.

- Tem mais café?

- O suficiente para inundar meia Denver. Vou buscar mais duas canecas e discutiremos tudo o que sabemos a respeito de Anahí.

- O que não é muito - Phil disse, seguindo o amigo até a cozinha impecável onde, pelo visto, quase não se cozinhava.

Aliás, a casa toda dava a Alfonso a impressão de um convento, um lugar onde não se cultuavam os prazeres do físico.

- Que idade ela tem? Vinte e nove, não é? - Alfonso indagou, servindo o café. - Solteira, nascida na Carolina do Norte, criada pela avó, mudou-se para Denver há cerca de dois anos, certo?

- Certo.

- Há quanto tempo exatamente ela mora nesta casa?

- Dois anos.

Alfonso olhou à volta, perplexo, reparando na cozinha pequena e nem um pouco hospitaleira.

- É mesmo? Bem, a casa não é o que eu chamaria de confortável, apesar de bem ajeitada. Do que ela vive? Isto é, de onde provém sua renda? Este aluguel não deve ser barato.

- Não sei, ela não tem emprego fixo. Anahí não recebe um centavo pelos serviços que me presta e toda vez que lhe telefono encontro-a em casa. Pelo que sei, sou seu único amigo.

- Único amigo - Alfonso repetiu, desejando poder acreditar na informação de Phil. - E amantes?

Phil manteve a mesma expressão.

- Que eu saiba, nenhum. Mas, também, nunca perguntei.

- Mas eu posso perguntar; quero saber de tudo a respeito dessa moça: o que aconteceu com seus pais, de onde tira dinheiro para manter a casa, o que faz o dia todo. Quero toda sua biografia em detalhes, dia por dia.

- E como planeja conseguir isso?

- Tenho amigos muito influentes. - Alfonso sorriu. - Você já se esqueceu de como eles podem ser eficientes quando têm... motivação? Não se esqueça de que a Spandau Corporation tem prioridade na polícia, para não mencionar o caso... - E parou para pensar.

- Não mencionar o quê? Há algo relacionado com a Spandau que eu não saiba? Algo que o tenha feito vir para cá com tanta rapidez?

- Pode ser. Mas não sei se há alguma relação entre sua princesinha e o que está acontecendo e decidi não me adiantar enquanto não tiver checado tudo por aqui.

- E não vai me contar do que se trata?

- Não sei se...

- Não me venha com desculpas, Alfonso! - Grayson esbravejou. - Não estou mais na ativa e se quiser minha ajuda vai ter que se abrir comigo. Diabos, o que está acontecendo?

Alfonso permaneceu imóvel no centro da cozinha espartana, iluminada pelo sol.

- Por que não perguntamos a sua amiga Anahí?

- Pare de gracinhas, Alfonso. Ela não precisa ser submetida a nenhum teste para provar seus dons. Além do mais, ela provavelmente não irá acordar tão... - O ruído baixo do chuveiro chegou-lhe aos ouvidos e Phil balançou a cabeça. - Você tem um ouvido privilegiado, não? Tudo bem, perguntaremos a ela. Mas, primeiro, dê-lhe tempo de tomar um café.

Alfonso sorriu:

- Está bem - concordou, voltando para a sala.