Fanfic: Cega paixão (terminada)

O banho estava tão bom que a vontade de Anahí era permanecer sob o chuveiro até que seus visitantes partissem. Porém, logo descartou a idéia. Primeiro, porque sua caixa d`água era pequena; segundo, porque Alfonso Oliver não era do tipo que desistia com tanta facilidade.

Mas, afinal, o que queria com ela? Era mais do que óbvio que não acreditava em seus poderes e em suas palavras. Para Anahí, tanto melhor. Preferia o ceticismo à fascinação por vezes macabra de certas pessoas. Porém, o que fizera, com que Phil Grayson - um homem que acreditava nela, se não em seus poderes - buscasse a ajuda daquele estranho?

Estranho mesmo... Apesar do riso fácil e de sua beleza máscula, Alfonso Oliver era um homem distante e perigoso. Alguém cujos disfarces nem ela conseguia desmascarar. Ele a amedrontava, constatou fechando a torneira. E a atraía.

Talvez fosse apenas pelo fato de terem dividido o mesmo teto, alegou a si mesma, enrolando uma toalha nos cabelos molhados. Afinal, desde que Alan morrera, não permitira que nenhum outro homem se aproximasse e lhe quebrasse as defesas. Alfonso Oliver chegara sem que ela percebesse e, depois de tanto tempo só, era natural que se perturbasse com aquele beijo. Apesar dos esforços em contrário, o desejo que a invadira continuava bem vivo em seu íntimo.

Por que ele viera a Denver? Por que Phil o mandara buscar? E o principal: quando iria embora?

Ao sair do quarto, já vestida, constatou, irritada, que ambos continuavam na sala. Seus pés descalços encolhiam-se sobre as tábuas do assoalho, o suéter bem comprido chegava-lhe quase aos joelhos e combinava bem com a calça jeans desbotada. Os cabelos tinham sido presos num coque no alto da cabeça.

Os dois conspiradores ergueram o rosto ao vê-la. Cada um havia sentado num sofá, apossando-se dos dois únicos sofás da sala, e o cheiro de café fresco invadira todos os cômodos.

- Espero não estar incomodando-os - disse, cínica, seguindo direto para a cozinha.

Alfonso apressou-se, tomando a dianteira, e, só com o olhar, a fez deter-se. Sob a luz do dia, ele pareceria menos ameaçador aos comuns mortais, mas não a ela.

Olhando-o bem dentro daqueles olhos belíssimos, teve certeza de estar diante de um homem frio, incapaz de se comover com a miséria humana. Sua boca se curvava num sorriso, e ela observou os maxilares altos, os cabelos cortados bem curtos. Como no Exército, constatou.

Anahí esperou, imperturbável. Aliás, paciência e autocontrole sempre foram seu forte. Poderia ficar ali parada diante dele para sempre.

- Deixem disso vocês dois - Phil disse lá do sofá. - Traga um café para Anahí e então conversaremos. Venha até aqui, querida. Sinto muito ter mandado Alfonso para cá sem avisá-la.

Anahí voltou-se para Phil dando as costas a Alfonso. Como gostasse verdadeiramente de Phil, ficava fácil perdoá-lo. Porém, perdoar aquele grandalhão arrogante que entrava na cozinha como se fosse dono da casa era diferente.

Em silêncio, sentou-se em frente a Phil, no outro sofá, e encolheu as pernas sobre o assento.

- Quer me contar o que está acontecendo, Phil? - pediu com educação. - Encontraram Mary Nelson?

- Ainda não se tem notícia dela - ele admitiu e Anahí viu seu olhar amistoso fixar-se nela. - Quanto ao que está acontecendo, nem eu saberia dizer. Alfonso esperou até que você acordasse para me contar.

- Mas por que você o chamou?

Anahí percebeu que Alfonso voltava da cozinha, mas recusou-se a virar-se para fitá-lo.

- Aqui está o seu café - disse Alfonso contornando o sofá para entregar-lhe a caneca.

Ela olhou para o café e reparou em suas mãos grandes, os dedos longos e finos que envolviam toda a circunferência da caneca. Então, apontou para a mesa, não se arriscando a tocá-lo de novo.

- Pode pôr na mesa.

Alfonso continuou imóvel, fitando-a com olhos opacos, num misto de desconfiança e desafio. Anahí entendeu que Alfonso poderia ser tão ou mais teimoso do que ela própria e, como quisesse o café, suspirou:

- Não acha que já passou da idade de fazer estes joguinhos, sr. Oliver?

- Coronel Oliver, do Serviço de Inteligência do Exército- ele corrigiu. - Mas pode me chamar de Alfonso. Não vai querer café, Anahí?

- Alfonso... - disse Phil, mas ambos o ignoraram, os olhos dela mergulhados no infinito dos de Alfonso numa troca de farpas, ressentimentos e algo mais.

- Sim, quero.

- Então, pegue a caneca da minha mão.