Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso praguejou ruidosamente enquanto o carro seguia pela estrada coberta de neve em direção a Mile High City. Lá fora, a temperatura caía bruscamente à medida que o sol se punha. A camada de gelo que cobria a estrada tornava-se mais e mais escorregadia.

Aos poucos, Anahí foi ficando mais tranqüila. Intimamente, sabia que tinham estado bem perto do local onde Mary Nelson morrera.

- Está se sentindo melhor? - Phil perguntou, tocando-lhe de novo o ombro.

- Sim, obrigada - agradeceu, percebendo que Alfonso a observava atentamente com o canto dos olhos.

- Por quê? Não se sentia bem?

- Estávamos chegando perto do local e isso me afeta.

- Droga! Por que não me disse isso antes?

Alfonso pisou com força no freio fazendo o carro derrapar na pista, indo parar num banco de neve no acostamento.

- Não se pode brecar deste jeito numa estrada nessas condições - Phil comentou, cauteloso, temendo deixá-lo ainda mais nervoso. - Quer que eu dirija?

Sem se importar com a presença de Anahí, Alfonso respondeu-lhe em termos grosseiros enquanto engatava a ré, derrapava os pneus na neve e voltava para a pista.

- Pelo que sei, vocês estiveram juntos no Exército - ela murmurou. - Ninguém aprende esta linguagem fora dos quartéis.

- É o que pensa - garantiu Phil. - Precisa ver os tipos com que lido no dia-a-dia. Alfonso ia parecer um cavalheiro perto deles.

- Impossível - Anahí disse num tom doce sendo recompensada pelo olhar furioso que Alfonso lhe dirigiu.

- Por que não falou antes? Você disse que o lugar não lhe era familiar.

- E não era, mas devemos ter chegado perto. Eu estava com muito frio.

- Droga! Isso está parecendo um romance policial dos mais baratos! Ou um filme de suspense!

- Se preferir, pode voltar para Washington. Estou certa de que Phil é capaz de cuidar do caso sozinho.

- O problema é que não confio em você. Nem na confiança quase cega que Phil lhe deposita.

- Vá para o inferno, Alfonso - Phil resmungou.

- Você sabe muito bem que já estive lá.

- E não esqueça que eu estava ao seu lado.

- Não dá para esquecer.

Anahí recostou no assento e fechou os olhos. Os dois amigos, mergulhados em lembranças tenebrosas do passado, pareciam tê-la esquecido. Ela podia sentir o sofrimento que os unira, como um laço de sangue, e puxou o sobretudo sobre o peito. Então, ocorreu-lhe um nome; um nome que nunca ouvira antes.

Quando o carro parou, abriu os olhos e percebeu, surpresa, que estavam de volta a sua casa. A silhueta da construção solitária ressaltava na brancura da neve iluminada pelo luar.

- Por que não teve a idéia de deixar uma luz acesa? - Alfonso perguntou, irritado, batendo a porta do carro já a caminho da casa.

Anahí permaneceu parada no mesmo lugar onde estava e perguntou para Phil:

- Quem era Amy Lee?

- Por Deus, não pergunte isso a Alfonso! - Phil pediu, visivelmente chocado. - De onde você tirou este nome?

Anahí deu de ombros. Ambos sabiam que ela não teria uma resposta para aquela pergunta.

- É por causa dela que ele se transformou num idiota?

- Alfonso não é um idiota, Anahí. É um homem bom. Eu confiaria minha vida a ele. E mais: confiaria você aos cuidados de Alfonso. Não sei o que anda acontecendo ultimamente, mas, assim que ele se acalmar, você verá que tenho razão.

- Eu preferia que ele fosse embora.

Ela sentiu que Phil a observava, preocupado.

- Seja paciente.

- Parece que não tenho escolha - disse, conformada, descendo do carro. - Tenho?

- Não. Acho que não.