Fanfic: Cega paixão (terminada)

Mohamed Ali Reza sabia que estava ficando cada vez mais frio, mas há muito tempo treinara seu corpo para suportar qualquer adversidade: fome, falta de sono, frio ou calor. Ele nunca vacilava, nem mesmo diante das piores torturas. Podia experimentar as sensações mais desagradáveis, porém jamais permitia que elas o alterassem ou dilapidassem sua determinação inquebrantável.

De pé no escuro, escondido nas matas perto da casa de Anahí, sentia os cristais de gelo formarem-se em suas narinas. Os dedos começavam a ficar adormecidos e Mohamed os flexionava dentro do bolso do casaco para não perder os movimentos.

Estava ansioso por agir, mas sabia que aquela não era á hora certa. No entanto, mantinha-se sempre alerta para evitar qualquer surpresa.

Qualquer outro homem em seu lugar já teria partido. Já havia feito sua parte e não seria preciso fazer mais nenhuma vítima; porém, um de seus defeitos era ser meticuloso ao extremo.

Para Ali, os americanos em geral, particularmente a polícia, eram pouco inteligentes. Ele deveria deixar o país e contar com a pouca esperteza do homem que entrara na casa - o policial cujos passos vinha seguindo - para que a farsa montada funcionasse, e as mortes das mulheres fossem atribuídas a um maníaco sexual. Mary Nelson era apenas mais uma vítima, de uma série, cujo corpo jamais seria encontrado. Pelo menos, não como sendo de Mary Nelson.

Mas algo lhe dizia que não ia ser assim tão simples; o outro homem, que chegara na véspera, tinha um jeito esperto, e parecia representar perigo. Ali Reza não o conhecia mas bastava ver o modo como se comportava, seu andar, o rosto inexpressivo, o porte militar e imponente. O homem que se juntara a Grayson era como ele próprio: um lobo solitário e perigoso.

Porém, sua maior preocupação era a garota. Ali tinha uma grande fraqueza - ser supersticioso - e toda vez que a via benzia-se como se estivesse diante do diabo. À noite, durante o sono, não sonhava com os olhos azuis e aterrorizados de Mary Nelson nem com os de outra garota que tivesse matado. Eram os olhos de Anahí Hardy que o seguiam, vigiando-o onde quer que estivesse.

Tinha que fechar aqueles olhos para sempre; seria sua última vítima antes de partir. No entanto, para garantir seu sossego, talvez matasse também o detetive Phil Grayson.

A casa estava toda iluminada; o carro esporte continuava parado na passagem. Ali Reza friccionou uma mão na outra para aquecê-las. Não seria aquela noite. Ainda não. Não sabia ainda quantas informações estavam em poder deles, o quão próximos estavam da verdade. A espera era difícil, mas importante para o sucesso da missão.