Fanfic: Cega paixão (terminada)

- Paranormal - ela completou com o termo certo, arrepiando-se de novo sob o suéter de lã.

- Por que você se oferece para ajudar assim? - Grayson indagou, curvando-se em direção à pequena mesa de metal que os separava. - Nota-se que isso a deixa completamente esgotada. Por que continua se oferecendo como voluntária? Não era melhor deixar de lado e esquecer?

- E acha que eu não faria isso se pudesse? - disse, cansada, puxando para trás uma mecha de cabelos castanhos que havia se desprendido do coque baixo. - Pena que isso não seja como uma televisão, que se desliga a hora que quer. As visões vêm independente da minha vontade e, já que é assim, acho melhor empregá-las para tentar ajudar outras pessoas. - E soltou um longo suspiro. - Desta vez consegui ver mesmo o caminhão.

- Ótimo. - Grayson apanhou um bloco de anotações. - Será que é demais perguntar se deu para ver a placa?

- O caminhão não tinha placas - garantiu sem vacilar. - Era novo... último tipo, eu diria. Azul com listras douradas, amassado no pára-choque traseiro. Ele tinha... tinha... - e procurou a melhor forma de se expressar. - Tinha uma inscrição no lado da porta. Ou, pelo menos, já teve. Acho que as letras foram apagadas com uma demão de tinta mas ainda dá para lê-las. - E fechou os olhos. - Spandau Corporation.

O lápis que Grayson segurava partiu-se em dois.

- Tem certeza de que leu Spandau Corporation? - perguntou visivelmente inquieto.

- Sim, tenho, por quê? Nunca ouvi falar dessa firma, você já?

- Sim, já - ele afirmou simplesmente.

- Será que tem algo a ver com o desaparecimento de Mary Nelson?

- Jamais pensaria isso. Aparentemente a Spandau Corporation não poderia ter nada a ver com o caso do desaparecimento de uma simples dona de casa de trinta e dois anos. Vamos ter que investigar a história. - Mais do que incrédulo, ele parecia confuso. - Deu para ver mais alguma coisa?

- Não - ela disse e bocejou, estirando os músculos dos braços. - Quem sabe mais tarde.

- Sim, quem sabe. Quer uma carona para casa?

- Não, obrigada, vim de carro. E a neve ainda não está muito forte. Se eu sair já, consigo chegar bem em casa.

- Telefone se aparecer alguma novidade, sim, Anahí?

Era visível que Grayson ainda relutava em confiar plenamente naquelas informações.

- Claro, mas pode demorar alguns dias. Sabe que preciso de um tempo entre uma sessão e outra.

Anahí o observava com atenção. Phil Grayson estava nervoso, agitado e indisfarçavelmente ansioso por sua partida. Normalmente oferecia-lhe um cafezinho, um lanche ou apenas batiam um papo enquanto ele fumava um cigarro atrás do outro. Ela era da mesma idade da filha dele e Grayson a tratava de modo quase paternal.

Mas hoje não. Algo o preocupava e, se Anahí ainda tivesse forças, tentaria descobrir o que era. Contudo, suas últimas reservas de energia esgotavam-se rapidamente e um bate-papo não daria em nada. Grayson era teimoso demais e Anahí estava exausta, portanto a única alternativa seria esperar até que resolvesse lhe contar do que se tratava.

- Dirija com cuidado, sim? - Grayson estava de pé e Anahí notou-lhe a impaciência. - Você vai estar em casa este fim de semana? Posso procurá-la, se precisar?

- Claro, não vou viajar.

Phil observou-a sair, sentindo-se confuso. Anahí estava muito magra, constatou. O pescoço parecia fino demais para sustentar o peso do coque baixo à altura da nuca e os olhos um tanto grandes para o rosto oval tão delicado.