Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso continuava muito próximo. Havia algo de acolhedor no banco traseiro do carro, que parecia abrigá-los como um casulo, proporcionando-lhes uma intimidade que a assustava. "Desligue-se", ela se ordenou. "Pense no verão, numa paisagem bonita, e esqueça-se de tudo o mais."

Ainda de olhos fechados, sentiu quando Alfonso tornou a segurar-lhe uma das mãos despertando-lhe uma onda de calor que lhe subia pelos braços e se espalhava por todo o corpo. Anahí relaxou os músculos das pernas e deixou que as emoções fluíssem, esperando, resignada, que as imagens eróticas prosseguissem.

Mas não prosseguiram. De repente, viu-se de volta à clareira nas montanhas, o vento soprando forte fazendo-a bater o queixo de frio. O caminhão havia desaparecido com sua carga sangrenta intacta; o chalé estava deserto, a porta aberta batendo ao vento. A neve tinha sido varrida pelo vendaval. Nenhum sinal do sapato vermelho, nenhum sinal de sangue. Nenhum indicativo de que Mary Nelson tivesse sido assassinada ali.

Anahí tremia de frio e era como se o carro com seu aquecimento potente não existissem. Bem como o homem que lhe apertava a mão.

- Pegue a primeira à esquerda - disse, sempre de olhos fechados.

Phil seguiu a instrução sem discutir. O rádio começou a irritá-lo e foi prontamente desligado. Os únicos ruídos que se ouviam eram o do motor do carro, do aquecimento, a respiração dos três e as instruções de Anahí.

Ela não se moveu quando o automóvel parou.

- Não podemos seguir adiante. O que quer que eu faça?

 Lentamente Anahí abriu os olhos e viu o entardecer cercá-los. Um entardecer e um lugar inóspito. A estradinha estreita de chão batido coberto de neve que Phil seguira chegara ao fim, bloqueada por uma árvore caída. Anahí suava frio.

- Vamos descer e seguir a pé - afirmou, percebendo que ainda segurava a mão de Alfonso.

- Tem certeza? Está escurecendo - Phil alegou, virando-se no banco -, e você parece estar com frio. Podemos voltar amanhã.

- Amanhã talvez ela não consiga mais encontrar o lugar - Alfonso interferiu.

- Seja razoável, Alfonso. Ela não está bem.

- Você acha que consegue voltar aqui amanhã? Consegue se lembrar do caminho? - Alfonso indagou, sem muita convicção.

- Claro que sim - Phil garantiu. - Sou um profissional.

- Mas muito sentimental para o meu gosto. Vamos descer.

O tom de Alfonso era decisivo mas, antes que ele se manifestasse, Anahí já havia descido do carro. Sem se importar com os dois, começou a caminhar com determinação.

Estava mais próxima do que imaginara. Logo depois dos galhos caídos, havia uma clareira. A marca dos pneus ficara gravada na lama gelada e o chalé estava vazio. O sol se punha numa profusão de tons avermelhados e o mundo parecia estar todo congelado. Quando os dois chegaram, logo atrás, Anahí se encontrava parada no centro da clareira.

- É aqui? - Phil perguntou, ofegante pela caminhada forçada e o frio.

Anahí assentiu sem fitá-los, voltada para si mesma, procurando fugir ao sofrimento e à dor impregnados no ar a sua volta.