Fanfic: Cega paixão (terminada)

Mal notou quando Alfonso se aproximou da porta do chalé com uma arma na mão.

Durante quinze minutos, enquanto o sol se escondia atrás das montanhas, Alfonso e Phil vasculharam o local. Quando voltaram para junto de Anahí, encontraram-na praticamente congelada, as lágrimas correndo-lhe pelas faces muito pálidas. Ambos pareciam desapontados.

- Não encontramos nada. Deve haver dezenas de clareiras como esta por aqui - Alfonso afirmou. - Onde está o tal caminhão? E o corpo? Não encontramos nada; nem sequer uma pista.

- Sob a varanda - ela disse, simplesmente.

- Já olhei.

- Olhe de novo.

Desta vez ela o viu voltar à varanda e ajoelhar-se no chão gelado para olhar sob o assoalho de madeira.

- Me traga uma lanterna - pediu Alfonso, guardando a arma no bolso.

Phil aproximou-se e lhe entregou uma lanterna de bolso que sempre trazia consigo.

- Me traga também um lenço. Pode haver impressões digitais.

Anahí fechou os olhos procurando não ver mais nada mas era impossível não ouvir o vento através das árvores, o grito distante de um falcão.

- Vamos.

Alfonso segurou-a com força pelo cotovelo e ela o fitou, curiosa.

- O que você encontrou?

- Você sabe muito bem. O maldito sapato vermelho de Mary Nelson, todo sujo de sangue, e um toco de cigarro de uma marca inglesa.

- E o que pretende fazer comigo agora? Me prender, me acusar?

- Não posso prender ninguém, pertenço ao Serviço de Inteligência do Exército.

- Vamos, diga: o que você pretende fazer comigo, agora?

- Eu poderia matá-la.

Anahí mal acreditou no que ouvira.

- O quê?!

- Eu disse que poderia matá-la. Já fiz isso antes. Sabe, não acho que tenha tido nenhuma participação no crime, mas este é um caso perigoso, e se você desse com a língua nos dentes poderia pôr em risco a segurança nacional, sabia disso?

- V-você já matou alguém? - Anahí quis saber, horrorizada.

Como poderia estar atraída por um homem como Alfonso, insensível, sem consciência?

- Sim; foi preciso. - Sua expressão era distante mas os olhos a observavam atentos. - O que acha disso?

Antes de responder, Anahí raciocinou com calma procurando não julgá-lo baseando-se apenas nas emoções.

- Você deve ter tido seus motivos. E deve ter sofrido muito.

Por um bom tempo, Alfonso continuou imóvel, a mesma expressão fria e distante, o mesmo olhar atento.

- Vamos voltar para o carro - sugeriu, por fim. - Você está gelada. E lembre-se, não comente isso com ninguém e, principalmente, não fale uma palavra à imprensa.

Ao ver o sapato vermelho no banco de passageiros ao lado de Phil, Anahí preferiu de novo o banco de trás e imaginou se Alfonso tornaria a juntar-se a ela para segurar-lhe a mão. Mas, para sua surpresa e resignação, viu-o ocupar o banco da frente ignorando-lhe a presença.

- Não podemos esquecer o caminho - ele falou. - A gente vai voltar para cá. Mas quando chegarmos à cidade, Phil, deixe-me num hotel.

Phil ficou surpreso.

-. Você acha que Anahí não corre mais perigo?

Ela esperou pela resposta com a respiração suspensa.

- Não sei. Se achar mais seguro, destaque outra pessoa para fazer-lhe companhia. Tenho que voltar a Washington.

- Mas não pense que vai levar o sapato com você. Ele é parte de uma investigação local. Não pôde levar a prova embora.

- É o que veremos. - Alfonso ergueu o sapato por um momento e Anahí não pôde deixar de vê-lo. O salto fino e elegante, o modelo sofisticado. E o sangue. - Quem diria que uma simples dona de casa do Colorado usaria um sapato como este?

Anahí reconheceu que devia calar-se, afinal Alfonso não merecia mais ajuda nenhuma, mas, por algum motivo, as palavras lhe escaparam antes que pudesse detê-las:

- Este sapato não é de Mary Nelson. É de Shari Derringer.

Era muito simples segui-los, mesmo na escuridão. Não suspeitavam de que alguém os observava e agiam com uma despreocupação quase infantil que o fazia rir. Até que encontraram o chalé e o sapato.

Mohamed Ali Reza sentiu um misto de ódio e vergonha; nunca cometera um erro daqueles. Aliás, fora divertido fazê-la calçar aquele sapato antes de executá-la, mas não reparara que um dos pés havia caído quando arrastara o corpo para dentro do caminhão refrigerado. Agora, ela jazia envolta num saco de lona com um pé descalço e o outro num sapato vermelho, que não era dela.

Tinha que recuperar o outro sapato e roubar-lhes a única prova do crime. Bastava uma fechada bem calculada, na estrada, perto de um abismo profundo, e tudo não passaria de um mero acidente, uma coincidência trágica. Eles já iam a meio caminho de volta para a civilização e logo a prova seria do conhecimento de toda a polícia.

Agarrando-se com força ao volante do Toyota, Mohamed Ali Reza pisou fundo no acelerador.