Fanfic: Cega paixão (terminada)

- Alguém está nos seguindo. É um Toyota -     Alfonso garantiu, sem alarde, olhando pelo retrovisor.

Há mais de cinco minutos os mesmos faróis brilhavam atrás deles. Logicamente, numa estrada estreita de montanha, um motorista não tinha outra opção a não ser seguir o carro da frente, mas Alfonso sabia que não era apenas um morador da região seguindo na mesma direção que eles. O carro que vinha logo atrás era um tanto suspeito, dizia-lhe a intuição, e Alfonso torcia para que Phil se mantivesse alerta e em forma. Há dez anos, ele fora considerado o melhor motorista do pequeno grupo de elite a que pertenciam. Com Phil ao volante, ninguém se aproximava.

Mas dez anos como policial, seguindo ladrões de banco, assaltantes comuns e se envolvendo com paranormais poderiam ter lhe roubado a perícia. Porém, o único jeito de saber era tentando. Phil conhecia a estrada melhor que ele e não podiam perder tempo trocando de lugar ao volante.

- Por que você está desconfiado? - Phil perguntou, com o mesmo tom calmo de antigamente, e Alfonso suspirou aliviado.

- Porque estão nos seguindo, sei que estão.

- Você sempre sabe.

Arriscando uma olhadela por sobre o ombro, Alfonso viu Anahí encolhida no banco de trás, ainda muito pálida.

- É melhor você colocar o cinto de segurança. A viagem vai começar a ficar mais movimentada - Alfonso garantiu num tom seco no momento em que o Toyota agigantou-se logo atrás do Chrysler em que estavam, a luz dos faróis altos inundando o interior do carro. - Esse sujeito está querendo nos matar.

Nesse instante, o motorista de trás abalroou-os de leve, dando uma encostada no pára-choque traseiro.

- Miserável! - Phil exclamou. - Ele não está para brincadeira. - E pisou no acelerador ganhando distância, seguindo pela curva fechada à direita, montanha abaixo, em direção à cidade.

Preocupado, Alfonso virou-se para fitar Anahí. Mas, para sua surpresa, encontrou-a mais calma que nunca, as mãos soltas sobre o colo.

- Faz idéia de quem esteja nos seguindo?

- Agora você tem a prova de que lado estou, não? - ela perguntou, irônica e magoada. - Se fosse algum comparsa meu, não estaria tentando me matar.

- Pode ser que sim, pode ser que não. Se estivermos de fato às voltas com a Spandau Corporation, devemos ficar prontos para tudo. Eles são capazes de matar a própria mãe sem hesitar. Tudo por uma maldita causa, que não se sabe qual é.

Phil jogou o carro violentamente para o acostamento e retornou à pista, fazendo com que Alfonso batesse a cabeça no vidro da porta, praguejando antes de voltar-se novamente para Anahí.

- Não perguntei se os conhecia pessoalmente, mas, quem sabe, pudesse consultar sua bola de cristal e nos dizer quem está tentando nos matar.

- Não faço a menor idéia.

- Não fica nervosa sabendo que pode morrer numa brincadeira desta?

A pergunta a fez sair da letargia em que se encontrava. Anahí tirou os óculos e limpou-os na lã do casaco, procurando ganhar tempo.

- Não acho que vamos morrer - disse, afinal, fitando-o sem a proteção das lentes; os olhos azuis mais vulneráveis que nunca, cheios de uma tristeza que o comoveu.