Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso voltou-se para frente, os olhos fixos na estrada e nos faróis refletidos no retrovisor. Havia um sem-número de coisas que poderia lhe dizer naquele momento, no entanto calou-se. Se Anahí não se importava com o fato de morrer, problema dela. Desde que conseguissem sair vivos daquela viagem e chegassem à cidade, levaria o maldito sapato de Mary Nelson - ou Shari Derringer - de volta para Washington e nunca mais tornariam a se ver. Se a polícia precisasse de mais informações, poderia enviar alguém diretamente ligado ao caso; preferia não mais encontrá-la. Olhando pelo retrovisor à procura do Toyota, surpreendeu-se observando-a; a expressão calma e fatalística de seu rosto plácido, a sombra profunda no olhar. Revoltado com seus próprios sentimentos, com a emoção que Anahí estranhamente lhe despertava, Alfonso praguejou baixinho.

- O que foi? - Phil quis saber ao fazer uma curva fechada em alta velocidade. O Toyota ia ficando para trás, incapaz de alcançar a mesma velocidade do possante carro esporte. - Tenho-o sob controle. Por acaso esperava um pouco mais de ação?

- O que mais quero no momento é uma boa noite de sono e um vôo direto para Washington. Há algum lugar onde possamos parar e verificar quem é esse motorista que nos persegue?

- Não sei se conseguiremos nos afastar tanto assim. Ele ainda não desistiu de nos pegar, embora o carro não desenvolva muita velocidade.

- E se ele usar a tração dianteira?

- Derraparia para fora da estrada. Consigo descer a serra em alta velocidade, mas isso não é para qualquer um. Além do que não creio que o nosso amigo do Toyota esteja acostumado a dirigir na neve.

- Ah, é? E ao que ele deve estar acostumado?

- Desertos. Areais. Aeroportos, talvez. Mas não com o Colorado.

De repente os faróis tornaram a iluminar o interior do carro. Só que, desta vez, o impacto foi muito maior. O Chrysler começou a rodopiar desgovernado, em direção ao precipício.

As estradas do Colorado eram desprovidas de boas grades de proteção, e somente a perícia de Phil ao volante os salvou do pior. Alfonso olhou-o de esguelha e viu-o sorrir enquanto lutava para recobrar o controle do carro. Virando-se, olhou para Anahí e viu-a segurar-se com força à maçaneta da porta e sorrir. Aquela frieza diante da morte era apenas aparente, concluiu.

Ainda bem. Desde que Amy Lee morrera, e que sua vida dera uma guinada para pior, nunca mais se importara com ninguém. Mas isso fora até conhecer Anahí Hardy. Apesar de se mostrar insensível e frio, preocupava-se com a própria segurança e, mais ainda, com a dela.

- Phil, será que não consegue controlar este maldito carro? - perguntou ao ver que derrapavam inexoravelmente em direção ao precipício. - Já chega de brincadeira.

- Há tempos eu não me divertia assim - Phil protestou, lutando com o volante.

Sua testa estava coberta de suor; o esforço marcava-lhe as linhas do rosto, os olhos brilhavam de emoção.

- Por Deus do céu, como pode brincar com uma coisa desta?! - Anahí perguntou, por fim, visivelmente horrorizada.

- Fácil - Phil garantiu pisando no acelerador e virando o volante em direção ao precipício.

Anahí arrepiou-se e cobriu os olhos para não ver. Alfonso, tranqüilo, observava a seqüência cinematográfica em que os pneus do Chrysler pararam a poucos centímetros do despenhadeiro e Phil voltou para a estrada com a mesma calma de um pai que sai no domingo à tarde para dar uma volta de carro com o filho. Mais de um quilômetro adiante, quando retornaram à estrada, a uma velocidade absolutamente normal, Anahí abriu os olhos.